Diretor de Valor Sentimental elogia O agente secreto: 'toque scorsesiano'

Diretor de Valor Sentimental elogia O agente secreto: 'toque scorsesiano'

Indicado ao Globo de Ouro 2026 de Melhor Direção, Joachim Trier fala com O POVO sobre os bastidores de "Valor Sentimental", recepção calorosa do público e competição com o brasileiro Kleber Mendonça Filho.
Atualizado às Autor Arthur Gadelha Tipo Notícia

Apesar de fazer filmes desde o começo dos anos 2000, o norueguês Joachim Trier alcançou grande celebração mundial em 2021 com o lançamento de “A Pior Pessoa do Mundo”, drama tragicômico estrelado por Renate Reinsve que passou pelo Festival de Cannes e foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Internacional e Melhor Roteiro Original.

Em 2025, a parceria de Trier com Renate e o roteirista Eskil Vogt vem caminhando para um novo auge de aclamação com “Valor Sentimental", filme que também passou por Cannes, dessa vez vencendo o Grande Prêmio do Júri (uma espécie de segundo lugar). Com oito indicações ao Globo de Ouro, Joachim também está no radar do Oscar para uma prestigiosa indicação à Melhor Direção. Na categoria internacional, o filme concorre diretamente com o brasileiro O Agente Secreto.

"Acho o trabalho do Kleber Mendonça Filho fantástico", ele é categórico quando cito o brasileiro. "Acho um filme maravilhoso, muito sábio e emocionante, com um certo toque scorsesiano. Claro que todas essas questões de prêmios importam, porque dão visibilidade e atenção aos filmes, e somos muito gratos por isso. Mas, no fim das contas, também não podemos nos tornar competitivos demais. Precisamos nos apoiar uns aos outros". Leia a entrevista completa:

O POVO - O que você descobriu no trabalho da Renate neste filme que você ainda não tinha visto no filme anterior?

Joachim Trier - Eu acho que a Nora, como personagem, é mais madura e mais sombria. Havia uma ingenuidade na Julie, de “A Pior Pessoa do Mundo”, que era divertida e leve, mas aqui se trata de uma personagem com um eu mais escondido, menos exposto. Acompanhar essa jornada com ela, indo para um lugar muito melancólico, quase depressivo, ao longo da história, foi algo que me marcou bastante. Fiquei muito impressionado com a forma como a Renate consegue dar nuances emocionais a sentimentos muito sutis e ocultos. Existe algo que se pode ler nos olhos dela, no tom de pele, nas feições do rosto, coisas que muitos atores teriam dificuldade em expressar. Acho que é isso que a torna uma estrela: ela tem humor e leveza, mas também consegue ir a lugares complicados e sombrios.

O POVO - Nesta temporada, você está ao lado de grandes filmes internacionais, como “O Agente Secreto”, “Foi Apenas um Acidente” e “A Única Saída”. Como é isso para você?

Joachim Trier - Fico muito honrado de estar nesse grupo de cineastas. Para citar um exemplo, acho o trabalho do Kleber Mendonça Filho fantástico. Ele foi à sessão do meu filme em Cannes e, alguns meses depois, pude assistir a "O Agente Secreto". Liguei para ele imediatamente. Acho um filme maravilhoso, muito sábio e emocionante, com um certo toque scorsesiano. Eu adoro a música. Claro que todas essas questões de prêmios importam, porque dão visibilidade e atenção aos filmes, e somos muito gratos por isso. Mas, no fim das contas, também não podemos nos tornar competitivos demais. Precisamos nos apoiar uns aos outros. Fico muito honrado de ser mencionado nesse grupo que você citou, assim como ao lado de tantos outros filmes excelentes.

O POVO - Como você chegou à escolha de Elle Fanning?

Joachim Trier - Sou fã dela há muito tempo e estava procurando alguém que pudesse ser ao mesmo tempo uma estrela e uma grande atriz dramática. Conversei com um grande amigo meu, o Mike Mills, um diretor americano extraordinário que conheço há muitos anos, e ele a recomendou. Quando falei com ela, ficou claro que, neste momento da carreira, apesar de já ter uma grande bagagem, ela está realmente entrando em um novo território, com outro tipo de maturidade na escolha dos materiais com que quer trabalhar. Foi um enorme prazer trabalhar com ela.

O POVO - Como você percebe a reação do público mundial ao filme? Percebo que há muito carinho pelo seu filme; é um filme sobre cinema, mas também sobre pessoas e famílias.

Joachim Trier - Estou muito feliz. Ainda não viajei o mundo inteiro com o filme, mas já passei por muitos lugares, e acho interessante como as conversas sobre irmãos, pais e família se tornaram quase unânimes. Na França, nos Estados Unidos, na Escandinávia, em todos os lugares por onde passei, as pessoas falam das mesmas questões: a dificuldade de reconciliação com aquilo que se recebeu e com aquilo que não se recebeu dos pais. Fico contente com isso, mas também gosto quando as pessoas dizem que o filme é uma carta de amor ao cinema. Eu amo ir ao cinema. Estamos tendo números de bilheteria muito bons ao redor do mundo, e não digo isso para me gabar, mas porque isso me dá esperança de que vamos continuar desenvolvendo a forma de arte que eu mais amo. Foi o cinema que me ajudou a me entender como ser humano: entrar na escuridão com estranhos, ver filmes de todas as partes do mundo e sentir uma conexão, uma solidariedade, empatia. Eu sinto isso nos filmes de diferentes países, e, se eu puder fazer parte dessa conversa, fico muito feliz.

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