Gramado: Denise Weinberg e Rodrigo Santoro encantam abertura do festival
A cerimônia de abertura do 53º Festival de Cinema de Gramado mergulhou na magia da Amazônia com a estreia nacional do premiado "O Último Azul"
14:23 | Ago. 16, 2025

“Você está querendo me amarrar?”, pergunta Tereza quando sua amiga lhe propõe envelhecer navegando pelos rios amazônicos até o fim da vida. Nesta sexta-feira, 15, a abertura do 53º Festival de Cinema de Gramado fez a plateia refletir sobre o peso do tempo com “O Último Azul”, filme de Gabriel Mascaro que venceu o Leão de Prata no 75º Festival de Berlim.
Na trama, Tereza (Denise Weinberg) vive numa realidade distópica onde as pessoas idosas são obrigatoriamente retiradas da sociedade para viverem numa “colônia”, lugar vendido pelo governo como um paraíso.
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Antes da exibição, Rodrigo Santoro subiu ao palco do Palácio dos Festivais para receber o Kikito de Cristal em homenagem à sua carreira. No discurso, o ator lembrou da sua origem com “Bicho de Sete Cabeças”, filme arisco de Laís Bodanzsky, reiterando que continua apoiando o cinema brasileiro independente, mesmo sendo marcado por uma densa carreira internacional.
No filme ele interpreta um barqueiro que está solto às margens, sem destino ou objetivo, contexto que o aproxima das angústias de Tereza, uma senhora que está em fuga porque não quer aceitar o destino que lhe deram.
"O Último Azul" constrói sua força no que não mostra — e no que se recusa a resolver
De repente, eles se deparam com um caramujo mágico: a gota azul da sua secreção, se pingada nos olhos, pode ser capaz de revelar seu futuro. Diante da atmosfera que esse contexto parece evocar, o filme prefere o avesso.
Tendo em mãos uma angústia à disposição de qualquer outro rumo, mesmo que seja sobrenatural, o filme é tímido demais para abraçar a magia, a dúvida e o medo. Mascaro inventa um mundo frio para dar o tom da sua própria condenação: será que nesse Brasil tem mesmo um jeito de fugir?
Em paralelo, a imersão visual na Floresta Amazônica tem uma força muito própria dentro das imagens e dos sons que povoam os silêncios dessa jornada, como se esses sons constantes da natureza fossem um chamado que Tereza demora para ouvir. Denise encontra um jeito especial de materializar esses sentimentos ao carregar na voz aflição e raiva, mas sem romper sua resiliência.
Santoro, curiosamente, tem pouquíssimo tempo de tela para interpretar um papel tão vital para dar o rumo definitivo da história. Adanilo e Miriam Socarras têm participações pequenas, mas que também marcam a mutação da protagonista.
Mesmo que sua distopia seja construída com elementos mínimos (como propagandas de rádio e cartazes), o encanto sobrevive até o fim da projeção porque Tereza vai se tornando uma personagem cada vez mais interessante. Como qualquer resposta para seu futuro soaria óbvia, Mascaro prefere ficar só com as perguntas.
O ritmo melancólico constante pode afastar o espectador que está esperando sair do cinema impressionado, especialmente com a “rivalidade” direta que o filme vai travar com “O Agente Secreto”, filme elétrico do Kléber Mendonça Filho que também concorre a uma vaga no Oscar.
Refletindo sobre etarismo, ditaduras e a crueldade do tempo, “O Último Azul” abdica da urgência para deixar que seu espectador saia da sala suspenso, encantado ou apavorado. De todo jeito, não sai o mesmo.