Beyoncé a Cidade Negra: lembre artistas que mudaram letras de música
Bell Marques, Criolo, Claudia Leitte e Gabriel O Pensador são alguns exemplos de artistas que alteraram letras já conhecidas. Veja quem mais já participou desse movimento
19:48 | Out. 06, 2025
A música "Girassol", um dos maiores sucessos do grupo Cidade Negra, teve uma alteração na letra 25 anos após o lançamento, durante apresentação no programa "Altas horas", no sábado, 4. Na ocasião, Toni Garrido, falou sobre a mudança, citando uma visão machista na escrita original. Esse não é o primeiro caso de modificação da história da música, relembre outros exemplos:
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As mudanças registradas ocorreram por motivos diversos, muitas vezes por motivos pessoais dos artistas, ou mesmo por ofensas percebidas no contexto atual.
Claudia Leitte, compositora carioca conhecida por sucessos na axé music, e vocalista da banda Babado Novo, teve algumas composições alteradas por motivos religiosos.
Na canção "Caranguejo", a artista trocou um trecho que saudava "Iemanjá", orixá das religiões de matriz africana, por "Yeshua", Jesus em hebraico.
Outro exemplo conhecido é a da cantora Joelma, representante do Norte e da banda Calypso, teve modificação de letra após conversão para a religião evangélica.
Na versão original de "Príncipe Encantado", a cantora fazia alusão à "bruxaria", no trecho: "Tentando desvendar os seus mistérios/ Um copo sobre a mesa de Quijá, bola de cristal e cartas de baralho".
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Tim Maia foi outro artista que alterou algumas composições por motivos religiosos. Com muitas músicas guardadas, o carioca modificou algumas delas após se converter à doutrina filosófica-religiosa Cultura Racional. O disco "Tim Maia Racional" passou a exaltar sua nova fé, que não durou muito tempo.
Compondo seu primeiro disco "Ainda Há Tempo" (2006), a música "Vasilhame" do artista Criolo foi alvo de críticas e o paulista teve que fazer uma alteração. Mas nesse caso não por motivos ligados a religião.
Na letra original, o trecho: "Os traveco tão ai, oh! Alguém vai se iludir" foi alterado por "O universo tá ai oh! Alguém vai se iludir".
“Quando você é jovem, pode magoar alguém sem saber. Não porque você é mal, mas porque ninguém falou para você que aquilo poderia ser ruim. Não foi só essa modificação que fiz nas letras. Revi tudo e mudei aquilo que não tinha necessidade de ficar. Não tenho problemas em dizer que errei”, comentou Criolo 15 anos depois, em entrevista ao jornal O Globo.
Em 2015, o fundador da banda Chiclete com Banana, Bell Marques, também foi criticado por conta de uma letra. O cantor foi pressionado pelo Ministério Público baiano para alterar "Minha Preta", por conta de um verso relacionado ao racismo.
“Minha nega, vai lá no salão faz aquele corte que seu nego gosta de ver” e “Ô mainha, mas eu só gosto do cabelo de chapinha”, foram reformulados. O termo foi alterado para "minha deusa" e a frase "Lindo é o seu jeito, todo mundo gosta de ver" foi adicionado.
Em 2024, durante apresentação no Rock in Rio, expoente da música brasileira, Gabriel O Pensador, também alterou uma sentença em sua composição.
Na ocasião, Gabriel apresentou uma nova versão do seu grande sucesso "Cachimbo da Paz". Foi trocado "o senhor bebeu uísque demais, acordou com um travesti, e assassinou o coitado" para "O senhor bebeu uísque demais, acordou com uma trans, e assassinou a coitada".
Em entrevistas posteriores, o artista comentou sobre a mudança de "termos negativos" usados na primeira versão. Outro sucesso polêmico também teve letra alterada, trata-se "Loraburra", composto em 1990, e ironiza mulheres.
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Mudanças também ocorrem em outros países
As modificações em composições musicais não ocorrem apenas no Brasil. Em 2022, duas artistas norte-americanas, receberam críticas por utilizarem termos considerados discriminatórios.
Beyoncé, nome de referência mundial no pop, utilizou o termo "spazz", em "Heated", no álbum "Renaissance". A palavra remete à epilepsia, em casos de paralisia cerebral, e pode ser considerado capacitista.
Lizzo, conhecida no meio do hip-hop, também usou a mesma palavra no single “GRRRLS”, e fez a alteração após repercussão.
“Estou orgulhosa em dizer que existe uma nova versão de ‘GRRRLS’ com mudanças na letra e isso é resultado de ouvir e agir. Como uma artista influente, estou dedicada em fazer parte dessa mudança que espero do mundo", comentou a artista, na ocasião.
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O que mudou em 'Girassol'?
No caso de Toni Garrido, do Cidade Negra, a alteração surgiu de uma vontade do próprio artista, contou ao "Altas Horas": "Depois de 25 anos, um dia bateu uma ficha aqui, e eu falei: 'Hétero machista, top, horrível".
No hit, o cantor dizia "Pra ser homem, tem que ter a grandeza de um menino" e passou a cantar: "pra ser homem tem que ter a grandeza de uma menina, de uma mulher".
Nova tendência divide opiniões
A mudança de letras já consagradas na atualidade divide opiniões do público. Enquanto uma certa quantidade de pessoas questiona a necessidade de alteração de alguns casos, outra parcela defende a ação.
As modificações são necessárias em alguns casos específicos, por chocar de frente com a realidade praticada atualmente. Termos que antigamente poderia ser aceitáveis, não se adequam ultimamente.