Death Stranding 2: O retorno a uma jornada grandiosa
Maior e melhor, segundo "Death Stranding" continua a trama do primeiro, mas traz melhorias que deixam a experiência ainda mais impactante, dramática e divertida
“Death Stranding 2” confirma Hideo Kojima — seu criador — como um dos raros autores capazes de transformar ações repetitivas e logísticas em um espetáculo épico de conflito e reflexão. Desde o início, o jogo deixa evidente que esta continuação não é só maior; é também mais coesa. A campanha acompanha o entregador futurista Sam Porter Bridges do México até a Austrália, sempre equilibrando caixas, dramas existenciais e catástrofes climáticas que aparecem em tempo real em um mapa extenso e imprevisível.
O roteiro, escrito em parceria por Kenji Yano e Shuyo Murata, deixa de lado o excesso de diálogos e apresenta a narrativa mais clara de Kojima desde “Metal Gear Solid 3”. Neil, um novo mistério vivido pelo ator italiano Luca Marinelli, traz à tona o carisma nostálgico do protagonista clássico da franquia “Metal Gear”, Solid Snake, enquanto Higgs retorna como um vilão excêntrico e extravagante em confrontos que combinam tiroteios tradicionais com cenas quase surreais. Cada arco termina com um significado emocional claro, mesmo entre cyborgues que riem como bebês.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Nos controles, o DualSense mostra o peso virtual da carga: os gatilhos ficam mais firmes quando a mochila está pesada e o feedback vibra a cada pedra. Quando a tensão aumenta, as armas não letais respondem com precisão, especialmente os rifles de assalto e as granadas feitas com munição hemática, que contém sangue capaz de causar efeitos prejudiciais às criaturas inimigas do jogo.
Visualmente, o jogo impressiona desde o primeiro momento: partículas de chuva desgastam as rochas, rios transbordam em tempo real e a iluminação global colore desertos, florestas e neves australianas com um realismo cinematográfico impressionante e detalhes minuciosos. O setor de áudio também está perfeito, com sons que combinam ventos assustadores, passos rangendo sobre metal úmido e agudos de cordas que aumentam o suspense. Músicas licenciadas aparecem em momentos-chave, destacando alívio ou melancolia sem atrapalhar os diálogos.
O jogo possui uma campanha extensa, mas mesmo depois de cerca de 55 horas para completá-lo, o pós-jogo incentiva a otimizar rotas, melhorar a rede de monorail e buscar o cobiçado ranking Lenda das Lendas em centenas de entregas.
Entre os altos e baixos, sobressaem o ritmo mais acelerado, o repertório ampliado e o sistema de cooperação assíncrona, que transforma cada ponte erguida por estranhos em um verdadeiro ato de solidariedade num mundo fragmentado. Entre os deslizes, o excesso de músicas de encerramento enfraquece o impacto das faixas, e a curva de aprendizado inicial ainda assusta quem não vivenciou a primeira aventura, mesmo com o resumo disponível.
“Death Stranding 2” representa o auge técnico e criativo da Kojima Productions, consolidando o estúdio como um dos poucos capazes de entregar experiências realmente autorais dentro da indústria dos blockbusters. O jogo não tenta agradar todo mundo — e nem deveria. Seu ritmo contemplativo, seus sistemas densos de entrega e construção, e a forma como insere emoção em caminhadas solitárias sob chuva ácida ou neve densa vão ressoar com quem busca algo diferente, quase meditativo. Ao mesmo tempo, a narrativa recompensadora, os momentos de ação surreal e a estrutura aberta do pós-jogo oferecem camadas para serem exploradas por meses.
Para quem tem disposição para mergulhar em sua proposta, o que Kojima entrega aqui é mais do que um jogo: é uma ode à conexão humana, à persistência e à beleza de seguir em frente, mesmo carregando o mundo nas costas.
Davi Rocha é integrante do canal de Youtube Bacontástico