Cearenses lançam revista literária dedicada à temática LGBT
No mês dedicado ao orgulho LGBT+, escritoras e escritores cearenses lançam a "Puta Escrita", publicação digital voltada à literatura cuja temática se volta às diversidades de gênero, sexo e corpo
No mês dedicado ao orgulho LGBT+, escritoras e escritores cearenses lançam a “Puta Escrita”, publicação digital voltada à literatura cuja temática se volta às diversidades de gênero, sexo e corpo. Construída de modo independente, a revista traz na organização e curadoria os escritores Émerson Cardoso, Jorge Nogueira e Júnior Ratts e chega ao público a partir de evento de lançamento na Biblioteca da Universidade Federal do Cariri (UFCA), às 19 horas, da sexta-feira, 4 de julho.
A proposta traz um diálogo de e com nomes de alcance regional e nacional, prometendo uma resistência plural e poética nos tons neons de suas páginas.
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Já na capa, a ilustração de Leo Ferreira denota o vigor e a subversão do produto, ao trazer uma mão madura; cheia de anéis; unhas pintadas e grandes a segurar uma estilizada e vintage caneta tinteiro. Se os pelos ao punho apontam para a sempre presente transgressão de gênero, os vincos avançados na pele dialogam com questões que passam a ser mais discutidas hoje pela comunidade, como na Parada do Orgulho de São Paulo, a maior do mundo, que, neste ano, teve como tema: “Envelhecer LGBT+: Memória, Resistência e Futuro".
Além de poemas e contos, “Puta escrita” conta com perfis de autoras e autores, resenhas de livros, entrevistas com editoras e outros textos tão pouco classificáveis quanto o desejo das pessoas por trás deles. Escritas trans, lésbicas, gays, assexuais, não binárias e de outras siglas teimam em vencer normas políticas, compondo-se em coletivo a fim de manter o “constante puxar de fechaduras, chutes nas portas ou, o que costumo chamar, pé na porta”, nas palavras de Lú Souza no texto “Meu corpo também pulsa!!!”, publicada na revista.
Um dos idealizadores, o bibliotecário e escritor, Jorge Nogueira, diz que a ideia surgiu em debate sobre a existência e (baixo) reconhecimento de LGBT+ produtores de literatura. A intenção era fazer com que a própria comunidade pudesse se ler e que esse importante segmento da literatura contemporânea pudesse crescer.
“Começamos a pedir indicações de autoras e autores para além do Ceará e foram surgindo pessoas incríveis, sempre com a maior diversidade possível”, diz. Uma das grandes dificuldades, porém, segue sendo a orçamentária. O projeto foi totalmente custeado pelos idealizadores que agora pretendem inscrever a revista em editais de fomento.
O psicanalista, professor universitário Allan Ratts é outro nome a assinar textos na revista. Dono de uma página no Instagram em que resenha e comenta livros, ele entende que a iniciativa tem o potencial de democratizar a leitura de coletâneas como essa.
“Uma produção coletiva como essa, online e gratuita, é uma forma de incentivar a escrita desses autores, quanto de dar acesso aos leitores. Isso os incentiva a buscar esses escritores também em seus livros individuais e fazer um investimento de compra”, comenta. Do ponto de vista da representatividade LGBT+, o ganho é ainda maior.
Em um cenário de forte adoecimento psíquico, com casos de depressão e suicídio em pessoas que divergem do padrão heternormativo, Ratts reafirma o poder da literatura de construir “discursos outros”, quando pensada de modo diverso, fugindo de um padrão em que ainda são presentes referências depreciativas, excludentes e/ou violentas: “As pessoas passam a ter um lugar de pertencimento, de que existe um lugar para elas nessa sociedade. Um jovem em conflito, por exemplo, pode entender que esse sofrimento vem não da sua sexualidade, mas de como ela é vista pelo Outro e introjetado por nós”, finaliza.
Lançamento da Revista Puta Escrita
- Onde: Biblioteca da Universidade Federal do Cariri (UFCA)
- Quando: sexta-feira, 4, às 19 horas
- Gratuito. Revista estará disponível nas plataformas digitais
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