Favelar aproxima população periférica de novas oportunidades
Instituto Favelar, localizado no Edson Queiroz, procura ressignificar as oportunidades das comunidades com acesso à educação, cultura e mercado. E evidenciar o que elas possuem de melhor: sua gente
Conectar, desenvolver as favelas de Fortaleza, aproximar territórios de novas perspectivas, ressaltar as potencialidades dos jovens, ser um farol de oportunidades para todos. Esse é o intuito do Instituto Favelar, localizado no bairro Edson Queiroz, na comunidade do Dendê.
Pensada para ser um lar, por isso o nome fave“lar”, a instituição deseja acolher a população da mesma forma que um lar acolhe, protege e dá substância para caminhar com firmeza na direção do que se deseja.
É + que streaming. É arte, cultura e história.
Desenvolvido por Diego Nascimento e Michael Gomes, o instituto utiliza uma estrutura de metodologias de impacto social e sistematização de soluções, desenhando rotas que subvertem as condições precárias que muitas vezes limita quem vive em comunidades, apresentando soluções e esperanças para todos.
“Sabemos que na favela existem muitos problemas, mas a favela também é solução. O nosso principal intuito é dissolver o conceito que aponta que a favela é o calo dos grandes centros urbanos, o nosso intuito é mostrar que a favela não é problema. Favela é solução”, declara Michael Gomes, idealizador do Favelar.

Seguindo os eixos de qualificação profissional, pedagogia ambiental, empreendedorismo e cultura, o Favelar oferece cursos e qualificações voltadas para a inclusão produtiva no mercado de trabalho e tudo isso acontece no Farol da Juventude do Dendê. Atividades voltadas para o esporte e bem-estar também fazem parte do projeto.
O articulador comunitário afirma que no dia a dia é possível ver a mudança na comunidade em relação à existência do projeto e como isso beneficiou os moradores.
“A gente sente no dia a dia a importância do nosso trabalho, ao andarmos pelas ruas, no término de cada atividade. A felicidade e satisfação está estampada nos olhares, nas demonstrações de carinho e nas palavras”, conta Michael Gomes.
E tudo isso começou lá em 2018, com a criação do Coletivo Dendê de Luta, grupo formado por jovens que estavam dispostos a ultrapassar as barreiras impostas pela violência e falta de oportunidades do local.
E imbuídos pelas memórias afetivas, as praças do bairro serviram como “playground” para concentração de atividades culturais e empreendimentos locais, com ações que visavam à reocupação desses espaços públicos.
Ao passo que se tornavam um canal de acolhimento para as pessoas e se consolidava cada vez mais como porta-voz da comunidade, descobriram que comunidades adjacentes também passavam pelos mesmos problemas, como a Sabiaguaba, Sapiranga, Luciano Cavalcante e Guararapes.
E a partir dessa análise, compreenderam que todas as favelas estão conectadas, falam a mesma língua e sentem as mesmas dores, e como desejo de acolher a todos nasceu o Instituto Favelar.
“As experiências que acumulamos no Dendê de Luta alicerçaram a caminhada para a fundação do Instituto Favelar”, conta o articulador comunitário.
Como forma de provocar o poder público para direcionar um olhar mais afetivo para os bairros com menos recursos sociais, foi criado pela instituição o No Meio Social (Numei), uma metodologia de análise e sistematização de dados sociais sobre as favelas. Com base nisso, fazem estudos e pesquisas técnicas dentro dos territórios, transformando esses dados em relatórios, para convencer o poder público de aplicar políticas públicas nas regiões.
“A gente provoca o poder público, sim, por exemplo, o Farol da Juventude foi uma provocação. Fizemos uma montanha de estudos técnicos com mais de 300 jovens aqui da região, para dizer para a prefeitura de Fortaleza que precisava ter o Farol no Dendê. O nosso relacionamento com o poder público flui porque a gente provoca, mas a gente não só provoca, também apresentamos o argumento com base técnica de impacto social. E geralmente tanto o governo quanto a prefeitura tem respondido bem a essa nossa abordagem”, declara Micael.
O principal objetivo do instituto agora é de conseguir uma sede com espaço ideal para atender a todos que os recorrem. O primeiro passo já foi dado, com realizações de campanhas para arrecadar fundos e conseguir custear o primeiro ano de aluguel do local.
“O nosso sonho é fazer uma grande transformação nessa casa e torná-la qualificada para ofertarmos mais oportunidades para a nossa comunidade. Os moradores e moradoras da favela também merecem ser felizes. É importante ter acesso à educação e se qualificar para o mercado, mas sem esquecer da afetividade, pois é essa sensibilidade que nos torna quem somos, nos faz uma comunidade”, expõe o fundador do projeto, acrescentando que estão aceitando doações de tintas, mobília e ajuda com mão de obra voluntária ou até alguma contribuição financeira.

Projeto Pivetes em Ação
Na Praça das Lavadeiras, no bairro Luciano Cavalcante, é possível ver de perto as sementes plantadas pelo Instituto Favelar e como ele conseguiu chegar em outros territórios. O Projeto Pivetes em Ação possuiu uma perspectiva educacional ativa que visa desenvolver nas crianças atendidas habilidades e competências para a vida real. Trabalhando atividades sociopedagógicas, recreativas, de empreendedorismo e cultura ambiental.
“Nosso principal objetivo é que elas aprendam através de atividades mais lúdicas, que elas sintam vontade de aprender e participar. Para isso envolvemos espontaneidade, criatividade e liberdade de expressão, fazendo cada criança protagonista do seu próprio processo”, é o que afirma a Emily Braga, líder de educação do Instituto Favelar e pedagoga responsável pelo projeto.
Além de possuir atividades quinzenalmente durante os sábados, a equipe responsável pelo projeto acompanha as crianças e os pais durante todo o ano para avaliar o impacto que o programa teve em suas vidas, onde melhorar cada aspecto e o que trabalhar individualmente com cada uma delas.
“Temos um contato bem grande com as crianças, elas sempre falam e mostram gostar bastante do projeto, assim como os seus responsáveis. Na edição de 2023, colhemos resultados como uma maior sociabilidade das crianças, aumento na consciência da causa ambiental, aumento no rendimento escolar e estreitamento dos laços familiares das crianças”, pontua Emily Braga.
Empreendorismo na comunidade
A Nova Feirinha do Dendê, no bairro Edson Queiroz, é outro bom exemplo de projetos que deram certo do Instituto Favelar. Ele qualifica empreendedores locais da comunidade do Dendê e proporciona um ambiente de negócios propício para o crescimento e ascensão econômica dos moradores do território.
A empreendedora local, Ana Cleide Diniz, conta que a criação da feirinha mudou sua vida e a visão de muitas pessoas sobre a segurança do local. Dona de uma barraquinha de espetinhos e bebidas, ela avalia essa criação como positiva para a comunidade.
“A gente tem visto uma evolução. Essa já é a quarta edição, a cada final de semana que acontece um evento, tem mais pessoas. E isso é bom para quem está empreendendo em loco, porque a gente vê resultados, vê dinheiro no bolso”, avalia.

Durante os fins de semana, a praça do Dendê, antes um local predominado pela violência e criminalidade, agora é espaço de empreendedorismo, esperança, lazer e diversão para todos.
“Surpreendentemente a feirinha tem quebrado esse medo, esse tabu de que aqui a violência predomina. Felizmente, em nenhum dos eventos houve nenhum problema até agora para ‘espantar’ as pessoas que já estão vindo com o freio de mão puxado. O povo vem assustado, mas vem assim mesmo. O fato de não estar havendo nenhum problema, passa uma coragem para as pessoas” conta Ana Cleide Diniz.
E com a confiança de que as coisas estão evoluindo bem e sem violência, faz com que o policiamento seja algo que não aconteça com frequência no local, o que leva Michael Gomes, fundador do Projeto Favelar, a avaliar como “diferente”.
“A nossa avaliação é que é diferente. Acho que a relação que a comunidade tem com o espaço chegou ao ponto de significar que a polícia é dispensável. Até mesmo o território já entendeu isso. Esse movimento de entender que lugar é esse, sua importância e como as pessoas se ligam com essa praça”, expõe Michael Gomes.
Para ele, com a criação da feirinha ficou evidente o poder que a população tem em transformar a história e a importância do local. E evidência que a experiência de ver de perto tudo isso acontecer foi um dos momentos mais marcantes durante todo o seu período como articulador comunitário.
“Essa praça aqui é um exemplo disso, eu acho que me marca muita é perceber o potencial da comunidade em ressignificar o seu lugar. Essa praça era um local que as pessoas vinham para usar droga e o movimento mudou isso. E quando existe a feirinha é possível ver que a praça se transforma e o público também”, declara.
E acrescenta: “Eu acho que quando a gente valoriza a cultura da favela a gente preza pelo pertencer à gente primeiro. Reforça o lugar de memória e perspectiva do pertencimento”, comenta Michael Gomes, articulador comunitário.
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