Peça do Pavilhão da Magnólia resgata história da seca no Nordeste

Debatendo a seca que historicamente está presente no Ceará e a influência política para isso, o espetáculo debate sobre a importância da água

“O problema no Ceará não é a seca. É o movimento político-social e tudo que envolve a indústria da seca”, afirma Nelson Albuquerque, ator do espetáculo “A Força da Água”, que estreia nesta quinta-feira, 21, na Casa Absurda, em Fortaleza. A peça monta sua narrativa a partir de fatos históricos sobre a seca hidrográfica do Estado, utilizando uma pitada leve do humor sarcástico cearense.

A pesquisa que levou à montagem foi realizada pelo grupo teatral Pavilhão da Magnólia, iniciada a partir de um projeto apresentado em 2018 na Escola Porto Iracema das Artes.

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Nelson Albuquerque, ator da peça e integrante do grupo, explica que a pesquisa não se deteve apenas ao campo teórico. O coletivo também visitou a cidade de Senador Pompeu, que abriga as ruínas de um dos campos de concentração para refugiados das secas.

A partir deste estudo, a montagem fala da importância e necessidade da água para a população, e como a água se torna um elemento importante não apenas socialmente, mas politicamente também.

“Durante a pesquisa tivemos acesso a dados que (mostraram) que não é que no Ceará, ou no Nordeste chove pouco. Mas é a maneira como a política, os coronéis e governantes lidam com essa situação. E isso acabou virando uma indústria da seca”, elabora Nelson, acrescentando que a peça questiona esse motivo.

A Força da Água: História com humor e ironia

Em sua trama, o “A Força da Água” passeia por esses fatos coletados durante o estudo, por vezes seguindo uma linha cronológica e em outros momentos não. “Como é um teatro documental, vamos trazendo mais esses documentos e relatos históricos do que contando uma história com começo, meio e fim, do que essa narrativa mais clássica”, conta Nelson.

A montagem também traz um humor sarcástico. Segundo o diretor do espetáculo, Henrique Fontes, a ideia não é debochar ou depreciar o assunto. Para ele, o humor é uma forma de aproximar o assunto do público, mesmo aqueles mais duros.

“Com muito cuidado e ética, não faz disso um grande deboche. Traz o humor, a ironia — a sutileza dessa ironia — para que as pessoas se envolvam e acompanhem essa narração”, conta o diretor.

Água como um direito social

Henrique foi convidado para ser o dramaturgo da peça em 2023 e logo em seguida, com a saída de Francis Wilker do cargo, assumiu a direção. Mesmo com a pesquisa já bastante encaminhada, ele não teve dificuldade de se conectar com o projeto, pois já havia realizado um estudo com o grupo que integra, Carmim, sobre a invenção do nordeste.

“Foi riquíssimo saber mais sobre os campos de concentração e as histórias que eles tinham levantado. Mas eu também segui pesquisando”, elabora, contando que se debruçou sobre a história da comunidade Caldeirão e a acrescentou à peça teatral.

O diretor está ansioso para a recepção do público, pontuando que, apesar de alguns dados serem de conhecimento geral, alguns podem ser chocantes. Como exemplo, ele adianta que água não é garantida como um direito constitucional. “Fica mais evidente o que a gente tá querendo tratar, que é esse impedimento da força da água”, afirma Henrique. “Nós somos 70% de água, afinal de contas. E essa nossa força de vida, produtividade; de ser realmente uma sociedade diversa e liberta, essa força vem sistematicamente sendo controlada há muitos anos”, completa.

“Espero que a platéia consiga olhar para isso e fazer suas sínteses, entender os caminhos que atravessam as suas vidas. Para, quem sabe, começarmos a questionar isso mais publicamente”, finaliza.

Pavilhão da Magnólia - A Força da Água

  • Quando: quinta, 21, a domingo, 24, às 20 horas. Os dias 21 e 24 contam com acessibilidade em Libras
  • Onde: Casa Absurda (Rua Isac Meyer, 108 – Aldeota)
  • Quanto: R$20 (meia) e R$40 (inteira). Na bilheteria e no Sympla
  • Mais informações: @casaabsurda

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