Janeiro Branco: conheça projetos artísticos que abordam saúde mental

Projetos artísticos de diferentes linguagens chamam atenção para a importância de falar sobre saúde mental

Saúde mental é um assunto cada vez mais debatido. Seja em casa, instituições educacionais ou ambientes de trabalho, falar sobre bem-estar emocional é essencial diante dos dados divulgados nos últimos anos. Quase 1 bilhão de pessoas viviam com transtorno mental em 2019, de acordo com levantamento da Organização Mundial da Saúde (OMS).

No Brasil, o primeiro mês do ano é dedicado à campanha Janeiro Branco, criada em 2014 com objetivo de chamar atenção para a saúde mental, tendo em vista que as pessoas costumam focar em resoluções e metas no início do ano. Segundo a OMS, o Brasil é o país com maior número de pessoas ansiosas, um total de 9,3% da população. Um levantamento feito também em 2019 pela Vittude, plataforma online voltada para a saúde mental, aponta que 86% dos brasileiros sofrem com algum transtorno mental.

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A terapia é um dos tratamentos mais conhecidos para lidar com problemas relacionados ao emocional e a arteterapia é um dos métodos utilizados na psicologia. "De modo mais simples, consiste na arte como terapia, ou seja, a experimentação de diferentes linguagens e práticas artísticas de modo a gerar bem estar, ao permitir que o indivíduo faça contato com emoções profundas, ressignifique a própria vida, estimule a atenção, a flexibilidade e a espontaneidade, resgate o próprio ser criativo, desenvolvendo a autoestima, entre outros benefícios. Daí sua função terapêutica", explica a psicóloga Nara Thaís Oliveira.

Além da psicologia, a saúde mental também é foco de projetos artísticos. A partir de diferentes linguagens, artistas incentivam o debate sobre transtornos mentais e bem-estar emocional, mostrando que arte e saúde mental podem caminhar lado a lado.

Mente e corpo

Nos dias 7 e 8 de janeiro, o Centro de Dança Soraya Bruna levou o espetáculo "I am, I want, I need" para o palco do Theatro José de Alencar abordando questões como ansiedade, depressão e síndrome do pânico. 

Em 2019, Soraya Bruna teve a ideia de abordar o tema, criando o festival "I need" com participação da escritora Larisse Soares no enredo. "I am, I want, I need" é uma nova versão da obra. "Nós trabalhamos com delicadeza, cuidado e atenção para não atingir o público de uma forma negativa e levar ensinamento através da dança", destaca Soraya, diretora geral e artística do espetáculo.

Para elaborar o enredo de maneira correta, Soraya e Larisse contaram com o auxílio da psicóloga Sara Lamar. "A ideia era que o espectador conseguisse entrar na mente da pessoa", diz a escritora. Seis transtornos foram abordados através das coreografias: ansiedade, síndrome do pânico, depressão, bipolaridade, boderline e histriônico. Além de Soraya, os coreógrafos Natalia Menezes, Tiago Batista e Lauro Fraga mergulharam em estudos sobre os transtornos para elaborar as danças.

"Falar sobre saúde mental através da arte, a palavra que resume é: essencial", declara a diretora geral. "A gente viu o quanto era necessário para quem estava assistindo. Escutei relatos de várias pessoas, de mães de alunos, dizendo o quanto se sentiram bem com aquilo", destaca.

Além da apresentação, houve um momento em que a psicóloga Sara reforçou com a plateia a importância de buscar ajuda profissional para tratar transtornos psicológicos, mostrando que saúde mental pode ser abordada em diferentes locais, até mesmo em cima de um palco.

"I am, I want, I need"

Direção Geral e Artística: Soraya Bruna
Coreografias de Jazz: Soraya Bruna
Coreografias de Ballet: Natalia Menezes
Coreografias de Hip Hop: Thiago Batista
Coreografias de Ballet Adulto Iniciante e Jazz Adulto Iniciante: Lauro Fraga

Enredo: Larisse Soares e Soraya Bruna
Participação Especial: Sara Lamar
Organização geral com professora Soraya: Valdi Gomes

Centro de Dança Soraya Bruna abordou saúde mental no espetáculo "I am, I want, I need"
Centro de Dança Soraya Bruna abordou saúde mental no espetáculo "I am, I want, I need" (Foto: Divulgação)

Cantando Emoções

Entre letras e melodias, o grupo Vitoriano e Seu Conjunto trabalhou no projeto "Para Manter a Loucura Estável", que resultou nos disco "Nau dos Insensatos" (2017) e "Mansão dos Inocentes" (2019).

"Pesquisando um pouco sobre o tema, percebi quantos artistas, músicos, tiveram problemas com a saúde mental, sendo internados, ou tendo mortes trágicas. Então, comecei a escrever e me aprofundar mais na questão, e nesse processo foi fundamental a leitura de obras como a 'História da Loucura', do Foucault, o 'Elogio da Loucura', do Roterdã, o contato com a obra de Arthur Bispo do Rosário, entre outras referências", conta Vitoriano.

Antes mesmo do disco ficar pronto, a banda passou a frequentar os CAPs (Centro de Atenção Psicossocial), onde se envolveu ainda mais com o tema e também realizou performances artísticas.

Para Vitoriano, falar de saúde mental pela arte é essencial, sem esquecer o lado profissional da saúde. "Tratar da saúde mental em arte, música, assim como outros temas caros ao bem estar humano, é de suma importância, mas é também importante que a criação artística seja algo natural e que cultive a poesia, pois a ciência já está aí pra fazer a sua parte", destaca.

Onde ouvir: Spotify

Vitoriano e Seu Conjunto
Vitoriano e Seu Conjunto (Foto: Patrícia Araújo/Divulgação)

Luta antimanicomial nas páginas

Obra de estreia de Ricardo Zalcberg Angulo, de 19 anos, o livro "O Fardo da Lucidez" tem como pano de fundo a luta antimanicomial. Após um acidente que o deixou imobilizado por meses, o escritor se aprofundou em pesquisas sobre saúde mental, enquanto lidava com os próprios desafios. O livro acompanha uma mulher que é internada e tem tratamento humanizado.

"Quando se tem humanidade, comunidade, rede de apoio, medidas mais drásticas como o encarceramento, o distanciamento e o tratamento psiquiátrico mais pesado, como ocorreu anteriormente no Brasil, não são necessárias", afirma.

O livro também reflete sobre identidade e transtornos psicológicos. "Gostaria que o jovem tivesse uma leitura acerca de si mesmo, acerca de sua própria identidade, e tentar entender porque que, de vez em quando, se tem a compreensão de que essas classificações psiquiátricas são indissociáveis do próprio indivíduo. Às vezes, o indivíduo se lê diante dessas classificações e não consegue removê-las de si", destaca.

Onde comprar: amazon.com.br

Quanto: R$ 59,90

Ricardo Zalcberg Angulo debuta com o romance "O Fardo da Lucidez"
Ricardo Zalcberg Angulo debuta com o romance "O Fardo da Lucidez" (Foto: Divulgação / Ricardo Zalcberg Angulo)

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Janeiro branco saúde mental arte e saúde mental

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