Coluna Vanessa Passos: Não me diga como devo escrever!

Existe jeito certo de escrever?

Existe jeito certo de escrever?

Quando me refiro a jeito de escrever, falo de processo criativo, do ritual que um escritor estabelece para começar a escrever um texto ou um livro. E existe jeito certo de fazer isso? Esta foi uma pergunta que me fiz durante muito tempo.

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Durante muito tempo, eu não tive um Teto todo meu, fazendo menção à escritora Virginia Woolf e, quando passei a ter, este teto só me abrigava para dormir, quando, já exausta, esgotada, eu desabava na cama. Como escrever assim?

O tal jeito certo de escrever sempre me amedrontou, porque durante anos eu não tive uma mesa para escrever, um escritório, uma casa silenciosa e o pior: tempo. Trabalhava manhã, tarde e, às vezes, noite. Era professora de Português e Literatura na escola pública, trabalhava quarenta horas semanais, fazia mestrado em Literatura sem bolsa e tinha uma filha. Se eu fosse esperar o jeito certo para escrever, não escreveria nunca.

Eu sempre ouvi sobre escrever durante todas as manhãs, porque a cabeça ainda está fresca. Ou sobre escrever noite adentro, enquanto todos dormem. Sobre como escrever à mão alimenta mais a criatividade. Ou sobre como escrever no computador é mais ágil e pode ajudar o processo de escrita e edição do texto.

Mas, na época, em 2018, em que eu não tinha nada do que falei acima, eu optei por burlar o jeito certo. Escrevia no intervalos das aulas. Escrevia quando os alunos estavam fazendo as atividades. Escrevia no ônibus em movimento. Já escrevi até escondida trancada no banheiro para ninguém me perturbar, acreditem.

E foi por quebrar as regras para conseguir escrever que entendi que o jeito certo de escrever é o que funciona pra gente. É aquele que se encaixa em nossa rotina, que nos traz mais leveza. Simples assim. Sem normas e regras estabelecidas. E desde então passei a experimentar.

Já escrevi deitada para não doer as costas. Já escrevi à mão para diminuir a ansiedade de ficar contando a quantidade de caracteres e palavras na página branca do Word. Já escrevi no celular quando não tinha mais nada por perto. O importante não é o jeito, o importante é escrever.

Escrevi "A filha primitiva" todo à mão. Com meu segundo romance, não funcionou. Nem sempre um caminho te dá a resposta para outro, é preciso estar disposta a experimentar. Não, não me diga como devo escrever, o importante não é jeito certo, o que realmente importa é escrever.

Leia Também | Confira a coluna anterior de Vanessa Passos: Não é preciso escrever um calhamaço. Na escrita, menos é mais

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