Dia dos Pais: conexões entre paternidade e contação de histórias
Renato Oliveira, responsável pelos conteúdos do projeto "Contatória" e um dos escritores do livro infantil "Tatúlio em: tá tudo bem agora", fala sobre sua relação com as filhas, a contação de histórias e a conexão com outros pais
Quando descobriu que seria pai pela primeira vez, Renato Oliveira começou a se preocupar sobre como ensinaria questões importantes para a formação de sua filha. De que maneira deveria falar com crianças sobre valores, por exemplo? A resposta, para ele, era simples: a contação de histórias era uma forma lúdica de transmitir mensagens e de promover a conexão familiar. Assim, passou a narrar contos de fadas e, aos poucos, inventava as próprias narrativas. Anos depois do nascimento da primogênita, ele se tornou um contador de histórias, palestrante, escritor de livro infantil e parceiro do blog “Pais&Filhos”.
“Quando Camila nasceu, comecei a implantar um dos meus projetos, que era contar histórias para ela dormir, com o intuito de apresentar a leitura, e criar a possibilidade de desenvolver nela um futuro gosto pelos livros e histórias. Eu sabia o quão importante isso seria para sua vida inteira. Comecei a contar as histórias tradicionais que ouvia enquanto criança, porém, todas envolviam o medo, com personagens assustadores, como lobos, bruxas e outros malvados”, lembra.
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Incomodado com a situação, arriscou-se com os livros. Entretanto, a garota deixava de dormir para prestar atenção nas ilustrações. “Resolvi improvisar, criando uma história simples, com um cachorro e o um gato, ainda sem nome, e ela dormiu”, recorda. Na mesma época, ele e a esposa, Claudia Sena, descobriram que esperavam a segunda filha, a Marília. Por causa disso, no mesmo universo fictício em que havia criado para Camila, inventou uma personagem principal para que a protagonista se tornasse um tipo de “irmã”.
“Depois acrescentei um irmão, para trabalhar relações de amor e cuidado entre eles. Acrescentei o Papai e a Mamãe, Vovô e Vovó, que são parte do nosso núcleo familiar. Depois, ela pediu uma tartaruga e uma girafa. Aí cada um tinha uma personalidade e uma voz. Eu sempre tive facilidade em ‘fazer vozes’. Busquei na memória e na criatividade histórias simples, que eu chamava de ‘aventuras’, e elas levavam Camila ao sono com facilidade”, afirma Renato Oliveira, que também é criador de conteúdo digital e reúne mais de 15 mil seguidores em seu perfil no Instagram.
O projeto “Contatória”, que primeiro surgiria como um aplicativo, aconteceu de forma espontânea. Ele estava cansado quando a garota pediu: “conta tória, papai”. Com isso, decidiu gravar um trecho em áudio no seu celular. No dia seguinte, utilizou o registro, que logo fez com que a menina e o pai dormissem.
“Mandei para um amigo, que testou com o filho, e também funcionou. O garoto passou a repetir frases da história nas suas brincadeiras diárias. Então percebi que tinha em mãos algo que poderia ajudar pais e mães por todo o Brasil”, indica. A iniciativa começou com um aplicativo, mas os custos de manutenção eram altos. Assim, o conteúdo foi adaptado e continua disponível no site oficial e também no Spotify.
Nas plataformas digitais, é possível conhecer as aventuras de Malu e seus companheiros, como Gato José, Farofa, Tetéu e outros. No total, há 14 episódios. “Desde o começo optei por não utilizar imagens, especialmente para privar as crianças do uso excessivo de telas, afinal, já existiam estímulos suficientes em tela para eles durante o dia. Com o uso de uma história somente com áudio, a criatividade da criança é aguçada o tempo todo, pois cabe a ela formar em sua mente os cenários, personagens, as interações”, ressalta.
O projeto, entretanto, não deve ser o único fornecedor de contação de histórias para as famílias brasileiras. Segundo Renato Oliveira, o momento entre pais e filhos não pode ser “roubado” pelo “Contatória”. “Um momento de intimidade desses, como a hora de dormir, é um momento de carinho, de aconchego, de paz, e é fundamental que os pais estejam ali fazendo seu papel”, defende.
Para o contador de histórias, o debate sobre o papel da paternidade, apesar de ter ganhado proeminência com as redes sociais, precisa aumentar. “Aos poucos, os homens vão percebendo, pelo movimento de alguns caras na internet ou próximos deles, que participar da vida dos filhos em todos os níveis de participação, não diminui seu papel de homem na sociedade”, opina.
Renato exemplifica que ele tem o estereótipo de “roqueiro”: “sou careca e barbudo, parecido com um viking. Mas minhas tatuagens são desenhos das meninas ou trechos de ‘cartinhas’ que elas sempre escreveram para mim. Sou roqueiro, minha fisionomia entrega isso, mas as tatuagens entregam minha verdadeira paixão, que é ser pai”.
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Literatura infantil
O “Contatória” abriu caminhos para que Renato Oliveira conhecesse outros pais no Brasil e também se envolvesse com os temas da paternidade. Ele, por exemplo, se tornou um palestrante e fala sobre a parentalidade. “A parentalidade passou a ser uma obrigação para mim, então passei a estudar e tentar ser cada vez melhor. Aos poucos, comecei também a realizar palestras e rodas de pais”, comenta.
Como parceiro da revista “Pais&Filhos”, conheceu o músico Marcelo Correia, que produziu canções relacionadas à família e as apresentou ao palestrante. Aproximaram-se, e o artista lhe convidou para escrever um livro, que se tornaria "Tatúlio em: tá tudo bem agora", publicado primeiro de forma independente e, em seguida, pela editora Colli Books. Apesar de nunca terem se encontrado pessoalmente, deram início ao processo de criação da obra literária.
“O livro fala de paternidade, música e presença. Tirando a música desse pacote aí, entendemos que paternidade e presença devem caminhar juntas. Ser pai é uma das maiores alegrias que eu e o Marcelo tivemos em nossas vidas. Inclusive, passamos por muitas mudanças pessoais para nos adequarmos a esta nova realidade”, diz.
Segundo ele, as crianças precisam de uma figura paterna que não seja apenas aquela que “paga as contas”. “Não nos desce bem a ideia de você participar da geração de uma vida e sair fora. Criança precisa de pai também, e não só para pagar contas, como nossa cultura acabou nos empurrando, mas de alguém que ensine, que ame, que mostre seu amor, que faça mais do que promete fazer”, complementa.
Renato Oliveira e Marcelo Correia continuarão com a parceria, porque planejam um segundo título que também será lançado pela Colli Books. O tema principal da nova obra será “empatia”, mas o livro ainda não tem previsão de lançamento.
Contatória
Onde: Instagram @contatoria, no site oficial e no Spotify
“Tatúlio em: tá tudo bem agora”
Onde: site da Colli Books e Amazon
Conheça mais criadores de conteúdo
Humberto Baltar
O empreendedor Humberto Baltar é idealizador do coletivo “Pais Pretos”, que tem o objetivo de discutir as noções de masculinidades, os afetos, a maternidade, a família e a comunidade a partir de princípios ancestrais africanos. Ações do projeto acontecem de forma on-line e também presencial.
Onde: @baltarhumberto e @paispretos
Thiago Queiroz
Pai de quatro filhos, Thiago Queiroz também é escritor, palestrante e educador. Ele tem vários projetos na internet, como o canal do Youtube “Paizinho Vírgula” e o podcast “Vai Passar”. Ele ainda é autor de livros como “Abrace seu filho” e “A armadura de Bertô”.
Onde: @paizinhovirgula
Jorge Freire
Jorge Freire é um criador de conteúdo digital que dialoga diretamente com outros pais no Brasil. Com um blog chamado “Nerd Pai”, que posteriormente migrou para outras redes sociais, ele fala sobre algumas maneiras de criar os filhos com objetivo de promover o respeito e o diálogo.
Onde: @nerdpai
Família Quilombo
A família, composta pelo casal Adriana Acerbispo e Josimar Silveira e pelos filhos Akins e Dandara, mostra uma forma de criação antirracista. Além disso, a família compartilha os momentos de leitura e outras atividades cotidianas.
Onde: @familiaquilombo
Veja no OP+
Em matéria do Vida&Arte, que será publicada no impresso e na plataforma de assinantes OP+ neste domingo, 14 de agosto, pais e filhos repercutem sobre suas relações familiares e cotidiano das redes sociais.
Podcast Vida&Arte
O podcast Vida&Arte é destinado a falar sobre temas de cultura. O conteúdo está disponível nas plataformas Spotify, Deezer, iTunes, Google Podcasts e Spreaker. Escute o podcast clicando aqui.
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