Livro reúne crônicas e contos inspirados em músicas de Belchior

Na música “Alucinação”, do álbum homônimo de 1976, o cantor e compositor cearense Belchior falou: “Amar e mudar as coisas me interessa mais”. De diferentes maneiras, as mensagens deixadas por sua obra continuam reverberando até hoje, e servem de inspiração para que outras composições surjam. No caso do livro “Para Belchior Com Amor”, organizado por Alan Mendonça e Ricardo Kelmer, em contos, crônicas e cartas inspirados em músicas do “Rapaz Latino-Americano”.

A obra chega à sua terceira edição e será lançada neste sábado, 13, a partir das 16 horas. O local será o Espaço Kraft, localizado no bairro Aldeota. Ao todo, 23 autores cearenses integram a coletânea, que tem também participação de Vannick Belchior, filha caçula do cantor. O evento contará com a presença dos organizadores e autores do livro, além de música ao vivo com Felipe Breier, serviço de bar e exposição de obras de arte.

Além dos textos, o livro conta com ilustrações de Carlus Campos, Marcos Oriá e Léo de Oliveira. “Para Belchior Com Amor” reúne pensamentos de autores como Xico Sá ("Todo Sujo de Batom"), Gero Camilo ("Na Hora do Almoço"), Cleudene Aragão ("Coração Selvagem"), Mariana Marques ("Pequeno Mapa do Tempo"), Ricardo Guilherme ("Como Nossos Pais") e Thiago Arrais ("Alucinação"). O livro poderá ser adquirido por R$ 30 pelo site da Editora Radiadora e diretamente com os participantes da obra.

O início 

O projeto começou em 2016, idealizado pelo escritor e produtor cultural Ricardo Kelmer após realizar, junto com o cantor e violonista Felipe Breier, uma temporada de dois meses do show “Vinicius Show de Moraes”. Como forma de homenagear Belchior - seu “ídolo bigodudo” -, pensou inicialmente em realizar um show musical-literário, mas decidiu fazer a homenagem a partir de um livro com contos, crônicas e cartas baseados em suas músicas.

Surgiu, então, o “Para Belchior Com Amor”, com textos apenas de autores cearenses “para dar representatividade especial à obra”. A primeira edição foi lançada em outubro de 2016, com 14 textos de 14 autores entre jornalistas, escritores, acadêmicos e artistas. Na época, Belchior ainda era vivo e, depois de sua passagem, Kelmer descobriu que seu ídolo havia lido a obra.

“Um mês após sua morte, jantei com sua viúva, Edna. Ela me parabenizou pelo livro, falou que ela e Belchior leram, e que ele gostara bastante, pelo nível dos textos e por eles (autores) focarem em sua obra e suas ideias, e não em sua vida pessoal. Falou também que ele planejava entrar em contato para fazer uma tradução para o espanhol. Infelizmente, a indesejada das gentes veio buscá-lo antes”, compartilha.

Pai e filha

A segunda edição foi esgotada em 2021. Para viabilizar esta terceira, Kelmer contou com a parceria do poeta Alan Mendonça, responsável pela Editora Radiadora. Juntos, eles organizaram a nova versão e convidaram mais oito autores para a coletânea, além de chamarem a cantora Vannick Belchior, filha caçula de Belchior.

No livro, Vannick escreveu uma carta para o seu pai, em uma forma de se comunicar com o músico. Ela ressalta quão “gratificante” é poder observar como ele “ainda está vivo no coração de muitas pessoas”, com as memórias sobre Belchior e principalmente com a obra por ele deixada. “É sempre muito significativo ver e poder participar de expressões artísticas dessa natureza na literatura, já que ele também era um grande artista na literatura, pois era um grande poeta”, enfatiza.

Vannick compartilha um pouco do que buscou transmitir com o texto que escreveu para o livro: “Eu busquei me comunicar com o meu pai como se aqui ele estivesse. Eu quis trazer um pouco de contemporaneidade em tudo que está acontecendo para que, caso ele tivesse acesso a esse livro, ele pudesse ver como a sua poesia ainda está latente entre nós”.

"Aguapé"

Quem também escreveu para o livro foi a jornalista, professora e cronista Izabel Gurgel, contribuindo para a obra com a inspiração na música “Aguapé”. “E o aguapé, lá na lagoa / Sobre a água nada / E deixa a borda da canoa / Perfumada”, anuncia um dos versos da canção. Para Izabel, foi “Aguapé” quem a escolheu, e não o contrário.

A jornalista fala um pouco sobre os detalhes de seu texto: “Segui o ruído da renda repetido, invocado na canção. Fiz um pequeno exercício de texto - percurso margeando o Jaguaribe, saindo da ribeira de um afluente, o rio Salgado, em Icó, indo no rumo do mar. Guiada por dois poetas de Russas, Francisco Carvalho e o próprio Alan, que organiza o livro com o Ricardo Kelmer, e pelas rendeiras que encontro nos Cearás profundos. Uma delas me disse que a maré multiplica as horas. Belchior faz isso também, não é?”.

Para Ricardo Kelmer, a obra de Belchior segue reverberando até hoje e em diferentes contextos - algo intrínseco à sua arte. “A arte de Belchior pode ser contemplada tanto imergindo-se no espírito da época em que ele surgiu, nos anos 1970, quanto com um olhar distanciado pelas décadas. Em ambos os casos, sua arte reluz. Ela é literária, filosófica e inquietante. Usando as mesmas palavras e melodias, Belchior dialoga com sua própria geração e com os jovens de hoje, ecoando um grito de resistência latino-americano contra as opressões e defendendo, em vez do poder, a bandeira do amor, do prazer e da paixão. Ainda vivo, ela adquiriu status de lenda, e agora, morto, nunca esteve tão vivo”, destaca.

Para Belchior Com Amor

De Vários Autores, organizado por Alan Mendonça e Ricardo Kelmer

Editora Radiadora

132 páginas

Quanto: R$ 30 (físico); R$ 9,90 (e-book Amazon) e R$ 9 (PDF no site da Radiadora)

Onde comprar: site da Radiadora, rkelmer@gmail.com e com outros autores

Lançamento: sábado, 13, a partir das 16 horas, no Espaço Kraft (Rua Itaiçaba, 108 - Aldeota)

AUTORES E MÚSICAS

Alan Mendonça (Tudo outra vez)
Ana Karla Dubiela (A palo seco)
Carmélia Aragão (Paralelas)
Cleudene Aragão (Coração selvagem)
Ethel de Paula (Conheço o meu lugar)
Gero Camilo (Na hora do almoço)
Jeff Peixoto (Sujeito de sorte)
Izabel Gurgel (Aguapé)
Joan Edesson de Oliveira(Galos, noites e quintais)
José Américo Bezerra Saraiva (Apenas um rapaz latino-americano)
Josely Teixeira Carlos (Monólogo das grandezas do Brasil)
Kelsen Bravos (Comentário a respeito de John)
Léo Mackellene (Até mais ver)
Mariana Marques (Pequeno mapa do tempo)
Nirton Venâncio (Bahiuno)
Raymundo Netto (Fotografia 3x4)
Ricardo Guilherme (Como nossos pais)
Ricardo Kelmer (Divina comédia humana e Ypê)
Roberta Laena (Como o Diabo gosta)
Roberto Maciel (Velha roupa colorida)
Thiago Arrais (Alucinação)
Xico Sá (Todo sujo de batom)
e Vannick Belchior

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