30 anos de Manguebeat: 5 projetos para conhecer o movimento cultural

Movimento da cena cultural de Pernambuco comemora 30 anos a partir da publicação do manifesto "Caranguejos com Cérebro". Obras detalham criação e desenvolvimento do Manguebeat, confira

"O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Como devolver o ânimo, desbolotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife". Essa era a proposta para a capital de Pernambuco não morrer "de infarto", divulgada no texto "Caranguejos com Cérebro", escrito pelo jornalista e cantor do Mundo Livre S/A Fred Zero Quatro em julho de 1992. O material acabou se tornando o primeiro manifesto do movimento Manguebeat, que chega aos 30 anos em 2022.

"De início, era só um mero release que ia acompanhar uma fita demo que o Mundo Livre S/A e o Chico Science tinham preparado. A vantagem é que Fred é jornalista, tinha passado um tempo no jornal e estava de saco cheio de escrever texto formatado para a televisão. O release serviu como uma maneira dele escrever algo mais criativo e solto. A gente rejeitava esse rótulo de manifesto porque não era essa a função daquele texto e demandava uma seriedade, podia soar pretensioso", explica Renato Lins, ou Renato L, jornalista e um dos idealizadores do movimento.

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O escrito em questão enlaça a analogia entre o manguezal, um dos ecossistemas de Recife, e a urgência de uma cena que abrigasse a diversidade cultural na região. Para ilustrar a mensagem, o símbolo escolhido foi uma antena parabólica fincada na lama.

Esta agitação renasceu em meio a um período de declínio econômico de Pernambuco. Recife, no ano de 1990, tinha sido considerada a 4ª pior cidade para se viver pelo Population Crisis Commitee, Instituto de Washigton D.C, nos Estados Unidos. O estudo foi desenvolvido com o parâmetro de desemprego e violência, além do enfraquecimento de políticas públicas.

A cultura local, então, deveria buscar engrenar com a "cena mangue", construída por uma mescla de elementos da cultura regional - como o maracatu e o coco - com componentes da cultura pop. A ideia era promover questionamento e revitalização do cenário cultural pernambucano, além de estabelecer um estilo capaz de impulsionar novas ideias.

Mangue, a cena

"Desde a geração da Música Popular Brasileira (MPB), com Alceu Valença e Geraldo Azevedo, esse pessoal que se consagrou na segunda metade dos anos 1970 e 80, o universo do pop e do rock dos anos 1990 de Pernambuco ainda não tinha mostrado a cara", contextualiza o produtor cultural e primeiro empresário de Chico Science & Nação Zumbi, Paulo André Moraes Pires, também responsável pelo festival Abril Pro Rock.

"Quando você olha as imagens dos primeiros shows do Abril Pro Rock, tem lá Kleber Mendonça Filho, futuro diretor de Cinema; tem a galera que formaria o Jorge Cabeleira, galera da Banda Eddie, os artistas visuais. Tava todo mundo lá. Conseguiu botar fogo na cena".

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Homenagens e solenidades, distintas maneiras de reviver estas histórias, são importantes para Renato, que frisa eventos como o Festival de Inverno de Garanhuns (FIG) e a Feira Nacional de Negócios do Artesanato (Fenearte). Ambos homenageiam o movimento na edição deste ano. "A gente desenvolveu um cuidado com o 'mangue' que até hoje, em relação ao aspecto mais conceitual. É bacana comemorar os 30 anos porque foi importante para a cidade e para o Brasil. Tem muita gente mais jovem que não conhece e é importante que eles saibam o que aconteceu com tanta força. Quem sabe ainda traga ilusões e estratégias que sejam importantes", finaliza o jornalista.

Com identidade versátil, que transita entre as tradições de Pernambuco e os elementos da cultura pop, o Manguebeat segue como influência para artistas como Banda Eddie, Mombojó e Jáder. Para que você possa conhecer melhor o movimento, o Vida&Arte preparou uma lista com projetos que abordam o tema, confira:

“Da Lama ao Caos” (1994)

Álbum de lançamento de Chico Science & Nação Zumbi, responsável por sucessos como "A Praieira" e "A Cidade". O manifesto "Caranguejos com Cérebro" está no encarte do disco, que ganhou versões em inglês e japonês. Em 2022, "Da Lama ao Caos" foi considerado o melhor álbum de música brasileira dos últimos 40 anos, em enquete com especialistas produzida pelo jornal O Globo.

"Guentando a Ôia" (1996)

Segundo álbum do grupo pernambucano Mundo Livre S/A, banda formada em 1984 e um dos principais nomes da geração Manguebeat com formação inicial composta por Fred Zero Quatro, Otto, Xef Tony, Bactéria e Fábio Goró. "Guentando a Ôia" consolidou o Mundo Livre no rock, com as músicas "Computadores Fazem Arte" e "Free World".

"Manguebit" (2022)

Documentário de Jura Capela traz depoimentos dos criadores e apoiadores do movimento, focando na intersecção entre as diversas manifestações culturais de Recife. O filme foi o vencedor do 14º In-Edit Brasil - Festival Internacional do Documentário Musical e foi exibido na edição do In - Edit Barcelona, que aconteceu em junho.

"Manguebeat" (2017)

O livro dos jornalistas Júlia Bezerra e Lucas Reginato aborda o início da carreira de Chico Science, Fred Zero Quatro, Renato L., Jorge du Peixe e demais profissionais que transformaram o Manguebeat. A produção faz parte da coleção "Movimentos Musicais", que apresenta diferentes ritmos aos leitores. Disponível na Amazon.

"Manguefonia"

Em celebração aos 30 anos do Manguebeat, membros da Nação Zumbi, Mundo Livre S/A e Mestre Ambrósio desenvolveram o show "Manguefonia". A proposta é unir diferentes expoentes da cena mangue e incluir a participação de nomes como Dengue, Jorge Du Peixe, Fred Zero Quatro, Otto e Siba.

"Manguefonia" já teve edição em São Paulo e realizou apresentação na última quinta-feira, 21, no Festival de Inverno de Garanhuns (FIG).

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