Conheça o tanzaniano Abdulrazak Gurnah, vencedor do Nobel de Literatura

O romancista Abdulrazak Gurnah, nascido na Tanzânia, foi anunciado nesta quinta-feira, 7, como o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura

O romancista Abdulrazak Gurnah, nascido na Tanzânia e que mora há meio século no Reino Unido, foi anunciado nesta quinta-feira, 7, como o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura. Ele escreve textos sobre o período colonial e pós-colonial no leste da África e o destino difícil dos migrantes.

Gurnah, que cresceu na ilha de Zanzibar mas chegou à Inglaterra como refugiado no fim da década de 1960, foi premiado por sua escrita "empática e sem concessões dos efeitos do colonialismo e do destino dos refugiados presos entre culturas e continentes". Ele é o primeiro autor africano a vencer o prêmio literário de maior prestígio do mundo desde 2003, e o quinto do continente no total.

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O escritor publicou 10 romances, além de livros de contos. É conhecido, sobretudo, pelo livro "Paradise" ("Paraíso"), de 1984, ambientado no leste da África durante a Primeira Guerra Mundial. À época, foi finalista do Booker Prize de ficção. Nascido em 1948, começou a escrever aos 21 anos, durante o exílio na Inglaterra. Apesar de o suaíli ser sua língua materna, sua ferramenta literária é o inglês, recordou a Fundação Nobel.

"Não chegam com as mãos vazias"

Em sua primeira entrevista à Fundação Nobel, Gurnah pediu uma mudança no olhar da Europa sobre os refugiados da África e a crise migratória. "Muitas dessas pessoas que vêm, vêm por necessidade, e também porque, francamente, têm algo a dar. Elas não chegam com as mãos vazias. Muitas pessoas talentosas e cheias de energia que têm algo a dar", afirmou.

Embora a Academia o situe na tradição literária de língua inglesa, "é necessário destacar que rompe conscientemente com as convenções, transformando a perspectiva colonial para valorizar as populações locais", afirmou o júri do Nobel. Sua obra se afasta das "descrições de estereótipos e abre o nosso olhar para um leste da África culturalmente diversos, que não é bem conhecido em muitas partes do mundo", completou.

Até sua recente aposentadoria, ele era professor de Literatura Inglesa e Pós-Colonial na Universidade de Kent, em Canterbury. Também é reconhecido como um grande especialista na obra do Nobel de Literatura nigeriano Wole Soyinka e do queniano Ngugi wa Thiong'o. Este último era apontado como um dos favoritos este ano. Gurnah é o primeiro autor negro africano a vencer o prêmio mais importante da Literatura mundial desde Soyinka, em 1986.

Promessa

O prêmio surpreendeu muitos críticos e editoras, que admitiram não ter o escritor em seu radar. Até o editor de Gurnah na Suécia, Henrik Celander, afirmou que não imaginava sua vitória no Nobel.

Com um histórico de vencedores dominado por homens ocidentais em seus 120 anos de existência, a Academia Sueca havia assumido o compromisso de tornar o prestigioso prêmio mais diversificado, prometendo ampliar seus horizontes geográficos. No início desta semana, seu presidente destacou, contudo, que o "mérito literário" continuava sendo o "critério absoluto e único".

Dos 118 vencedores do Nobel de Literatura, 95 são europeus, ou norte-americanos, 80% do total. Além disso, são 102 homens e 16 mulheres. Após o escândalo #MeToo que abalou a Academia e provocou o adiamento do prêmio de 2018 por um ano, a instituição afirmou que ajustaria seus critérios para ter maior diversidade geográfica e de gênero.

Duas mulheres foram premiadas desde 2018: a romancista polonesa Olga Tokarczuk, no mesmo ano, e a americana Louise Gluck no ano passado. Em 2019, o prêmio foi atribuído ao austríaco Peter Handke, uma opção polêmica por seu apoio ao ex-presidente sérvio Slobodan Milosevic, que enfrentava acusações por genocídio quando morreu em 2006. O romancista chinês Mo Yan havia sido o último vencedor não europeu e americano, em 2012.

A Academia Sueca recebe entre 200 a 300 candidaturas até o fim de janeiro. Durante o verão (hemisfério norte, inverno no Brasil), a lista é, então, reduzida para cinco finalistas. Os cinco membros do Comitê Nobel da Academia estudam a obra dos cinco autores antes de submeter sua escolha ao plenário da Academia, que escolhe um vencedor antes do anúncio em outubro. As deliberações permanecem em sigilo por 50 anos.

Carreira na literatura

"Quero apenas escrever com a maior veracidade possível e tentar dizer 'algo nobre'", explicou Abdulrazak Gurnah em uma entrevista concedida na Alemanha em 2016. "Foi nos primeiros anos morando na Inglaterra, quando tinha 21 anos, que comecei a escrever", disse ao jornal The Guardian.

"Comecei a escrever casualmente, com uma certa angústia, sem um plano em mente, mas com pressa e vontade de dizer algo mais", explicou. "Em grande medida, teve relação com a sensação esmagadora de estranheza e diferença que senti ali", recordou, a respeito de seus primeiros anos de emigração.

Passaram quase 20 anos antes da publicação de seu primeiro romance, "Memory of Departure", em 1987. Em seguida vieram "Pilgrims Way" um ano depois e "Dottie" em 1990. Os três livros falam sobre as experiências dos imigrantes no Reino Unido daquela época.

A aclamação por parte da crítica veio com seu quarto romance, "Paradise" (1994), ambientado no leste da África colonial durante a Primeira Guerra Mundial e que foi finalista do prestigioso Booker Prize britânico.

Sua obra de 1996 "Admiring Silence" narra a história de um jovem que retorna a Zanzibar 20 anos depois da mudança para a Inglaterra, onde se casou com uma britânica e trabalhou como professor.

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