Denizard Macêdo, "o inesquecível intelectual", nascia há 100 anos

Historiador Licínio Nunes de Miranda homenageia o centenário de nascimento de José Denizard Macêdo de Alcântara

Hoje, José Denizard Macêdo de Alcântara completaria cem anos. O historiador Raimundo Girão o chamou de “inesquecível intelectual”, detentor de “uma lúcida inteligência, que se forrou de legítima cultura, nos domínios da História, da Economia e dos estudos filosóficos.” O escritor Gustavo Barroso o considerou um “dedicado cultor da história cearense”. Nascido no Crato, Denizard estudou no Liceu do Ceará, fez o curso de Ciências Econômicas e, posteriormente, doutorado na mesma área. Sua formação intelectual se baseou nos ensinamentos de grandes pensadores antigos, estrangeiros e nacionais.

Na adolescência, Denizard militou nas hostes integralistas, atraído pela “preservação e intransigente defesa da cultura nacional, das tradições brasileiras e do nosso passado.” Se opôs a ideários autoritários e estatizantes (ainda que defendidos por aliados), e a radicalismos políticos de direita e de esquerda, particularmente ao que classificara como “chauvinista... xenófobo, etnocêntrico e... a loucura racista de Hitler.” Considerou como fundamentais os valores cristãos católicos e os da civilização ocidental, com um tempero mestiço tipicamente brasileiro. Foi, acima de tudo, um católico convicto, e um ardoroso defensor da monarquia, a qual definiu como “única forma de governo inteligente e adequada pra ser aceita por um bom brasileiro”.

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Durante o regime militar, foi contrário aos movimentos comunistas, mas também aos métodos utilizados para enfrentá-los. A seu respeito, o escritor Mozart Soriano Aderaldo disse que “discordava do erro, mas tolerava o que errava, que combatia as ideias por ele reputadas como errôneas, mas que respeitava o adversário.” Denizard protegeu estudantes de esquerda, alertando-os do perigo iminente de sequestros e de tortura. “Apesar de ser um homem de direita”, relembrou o líder estudantil João de Paula Monteiro, “ele teve essa atitude cavalheiresca”. Esta independência, fiel a seus princípios, custou a Denizard posições de prestígio e poder. Ainda assim, por mérito e esforço próprios, foi vereador em Fortaleza, vice-reitor da UFC, secretário de cultura do Ceará, membro do Instituto do Ceará e da Academia Cearense de Letras, para citar alguns exemplos.

Contudo, foi no magistério que Denizard se realizou, sendo professor em numerosas instituições de ensino, nas quais educou, e não doutrinou, várias gerações de cearenses. Fez isto em conjunto com a criação dos filhos e dos sobrinhos órfãos, sendo também esposo dedicado à Eliana Porto Sampaio, até falecer de infarto em 11 de novembro de 1983. O escritor Cláudio Martins o definiu como um “amigo incomum, esbanjador de talento, soldado de corajosas e arriscadas batalhas, ideólogo sem tergiversação mínima, senhor dos caminhos retilíneos, pai exemplar, cidadão de raras virtudes cívicas”.

Texto escrito pelo historiador Licínio Nunes de Miranda

Confira também postagem com trajetória de Denizard Macêdo, cujo centenário se celebra nesta quarta-feira, 1:

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