Artistas se mobilizam para recuperar obra que está na UFC há mais de 40 anos

O perfil no Instagram @escoladopirambu iniciou uma movimentação para que a Universidade Federal do Ceará compre ou retorne a obra "Homens Trabalhando", dos pintores da Escola do Pirambu

Um grupo de pessoas do meio artístico criou a petição on-line “Justiça para os pintores da Escola do Pirambu - Chico da Silva”, com o objetivo de recuperar o quadro “Homens Trabalhando”, que está na Universidade Federal do Ceará (UFC) há decadas. O perfil no Instagram @escoladopirambu tem o objetivo de divulgar a situação e pressionar a instituição a devolver a obra ou a adquiri-la formalmente.

A iniciativa, idealizada pela pesquisadora e curadora Flávia Muluc e pelo artista cearense Rafael Limaverde, surge de uma história que começou em 1977 e ganha desdobramentos desde então.

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Durante anos, o pintor naif Chico da Silva (1910 - 1985) esteve envolvido em várias polêmicas acerca da autoria das suas obras. Ele, que nasceu no Acre, mas vivia em Fortaleza, ganhou relevância internacional com suas produções.

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Com o aumento da demanda, ele decidiu criar a “Escola do Pirambu”. Neste local, crianças e adolescentes com talento para as artes trabalhavam e aprendiam ao seu lado. O espaço - fenômeno corriqueiro no universo artístico - se tornou motivo de questionamentos.

Ao longo do tempo, esses jovens ficaram à margem do circuito das artes da Capital. Eram considerados por muitos como “falsificadores”. Entretanto, ao mesmo tempo que eles tinham relevância no mercado por causa da proximidade com as obras de Chico da Silva, eles também desenvolveram características próprias em suas produções.

Com o objetivo de valorizar os pintores do Pirambu e reconhecer a importância da escola para a criação de novos nomes do meio artístico, o artista Hélio Rola teve uma ideia: decidiu submeter a performance “Homens Trabalhando” no XXVII Salão de Abril, em 1977.

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Durante o evento, os pintores da Escola do Pirambu - Claudionor, Babá, Garcia, Chica da Silva e Ivan - realizariam a pintura coletiva de um painel. Os cinco não concorreriam à premiação, mas poderiam mostrar suas habilidades.

Assim foi feito. Por alguns dias, eles vestiram camisetas com seus respectivos nomes e produziram o quadro. Na época, Chico da Silva estava internado em um hospital psiquiátrico, mas teve autorização para sair com a supervisão de Hélio Rôla, que também era médico.

Após essa demonstração, o painel precisava de um lugar para ficar, porque Hélio viajaria para Paris para fazer um pós-doutorado e os artistas ainda não haviam decidido seu destino. “Colocamos a obra em uma caixa, e eu levei para a então diretora da biblioteca da faculdade de Medicina da UFC. Perguntei se não teria espaço para deixar, onde não iria importunar”, explica ele, que era professor da Universidade na época.

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Quando retornou, tentou buscar a pintura “Homens Trabalhando” na instituição, mas não conseguiu. De acordo com ele, a UFC sempre demonstrava algum impedimento. “Não houve doação, nenhum documento, simplesmente foi um lugar que foi colocado temporariamente”, afirma.

Mesmo com várias tentativas de obter a obra de volta, ele diz que não houve avanços. Durante as décadas de solicitações, vários artistas iniciais da Escola do Pirambu morreram. No momento, os remanescentes são Garcia e Babá.

“Eu, enquanto curadora, estava fazendo a exposição ‘Um Atlas para Hélio Rola’, para o Museu de Arte Contemporânea do Ceará (Mac Dragão). Então entrei em contato com a direção do Museu de Arte da UFC (Mauc) e disse que queria o painel para expor, porque é uma parte importante da história do Hélio”, indica Flávia Muluc. “O Mauc disse que ficou exposto esse tempo todo e que iria para um restauro. Por isso, não seria emprestado”, revela.

Com essa situação, o objetivo da petição é pressionar a Universidade Federal do Ceará a retornar a obra aos seus autores ou a pagar pelo painel. O POVO buscou posicionamento da instituição, que respondeu com a seguinte nota:

“Por ser a presença do referido painel artístico na Universidade Federal do Ceará um fato que já ultrapassa quatro décadas, a administração da Instituição informa que somente se pronunciará sobre o tema caso seja instada por canais oficiais e por interessados que apresentem razões de fato e de direito sobre o painel. Logo, sem mais a declarar por ora”.

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