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"M8 - Quando a morte socorre a vida" discute sobre racismo na universidade e estreia nesta quinta-feira

Dirigido pelo cineasta Jeferson De, "M8 - Quando a morte socorre a vida" é uma fusão de drama e suspense
20:19 | Nov. 27, 2020
Autor Isabella von Haydin
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Já se perguntou quantas pessoas negras existem nos locais em que transita? Em espaços de lazer, elas estão se divertindo ou trabalhando? Com quantas pessoas não brancas você estudou ao longo da vida? Em “M8 - Quando a morte socorre a vida”, que estreia nos cinemas na quinta-feira, 3, Maurício (Juan Paiva) é um estudante cotista de medicina, único negro de sua sala, que se depara com M8 (Raphael Logam), cadáver de origem desconhecida, que será estudado ao lado de outros corpos também negros. Esse encontro, que nos leva ao título, desperta uma inquietação que dita o tom do filme entre o suspense e drama.

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O diretor Jeferson De, graduado em Cinema pela Universidade de São Paulo (USP), conta que emprestou muito de sua experiência para o protagonista. “Quando eu fui fazer cinema eu era o aluno negro da sala. Em uma aula de roteiro me perguntaram: 'poxa, mas por que só tem negros nessa sua história?'. Existia uma dificuldade de me ver, não ligavam meu tom de pele à narrativa que eu tinha escrito e isso pautou toda a minha história no cinema brasileiro. Ninguém pergunta isso ao Maurício, mas ele percebe que só ele e aqueles corpos da aula de anatomia são negros”.

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A obra, baseada no livro homônimo de Salomão Polakiewicz, carrega a diferença simbólica de trocar a religião católica, representada na versão escrita, pela umbanda que rege diversas cenas do longa. A guia que Maurício carrega no pescoço, os tambores do terreiro, as roupas brancas e outros elementos marcam traços dessa espiritualidade de matriz africana.

O ritmo do filme é pautado pela música “Ponta de Lança” do MC e produtor musical Rincon Sapiência, que também assina a trilha sonora. Ao som de “faço questão de botar no meu texto que pretas e pretos estão se amando”, o longa traz à tona a rede de apoio que acolhe o protagonista ao longo de sua trajetória na capital fluminense. A produção ainda conta com a participação de atores como Lázaro Ramos, Zezé Mota, Ailton Graça e Mariana Nunes que interpreta a Cida, mãe de Maurício.

O diretor comemora o lançamento de uma obra que aborda o genocídio de pessoas pretas em um ano tão conturbado como 2020. “Nesse ano tão difícil conseguimos fazer esse filme nos '45 do segundo tempo', com os dois protagonistas da área da saúde, uma mãe negra enfermeira e seu filho negro cotista”, relata o diretor. “É um filme de celebração. Não da dor, mas da esperança. Os nossos mortos socorrem as nossas vidas. Essas mortes não podem ser em vão, nem do menino Pedro, nem do George Floyd e muito menos do João Alberto”.

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Jeferson De, que ao lado de Felipe Sholl também é responsável pelo roteiro, debate sobre os desafios de fazer cinematografia no Brasil. “É um cinema de capoeira. Você saber se desviar dos golpes, aplicar outros e sobretudo ter uma malemolência para estar vivo e bailar de vez em quando”, reflete o cineasta. “Todos nós brasileiros, nós negros e negras temos que saber muito bem como lidar com a frustração, com o fracasso. Então, pra mim, ser um é esse lugar de resistência, de ocupação de espaços”. O diretor ainda ressaltou o número ínfimo de realizadores negros e especialmente negras no audiovisual nacional e a que riqueza que se perde com essa falta.

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