Ronaldo Fraga estabelece uma dobra no tempo e conversa com Zuzu Angel em filme-protesto

Estilista mineiro fechou o último dia da edição comemorativa dos 25 anos do São Paulo Fashion Week (SPFW) com uma exibição on-line inesperada em que, além de acender debate sobre política, moda e arte com Zuzu, revela um desfile virtual projetado em 3D, com looks inspirados no protagonismo da estilista - muito pela procura pelo corpo do filho, morto pela Ditadura

Responsável pelo encerramento, nesse domingo, 8, da primeira edição 100% digital do São Paulo Fashion Week (SPFW), considerada a semana de moda mais importante do país, Ronaldo Fraga, estilista mineiro, não deixou por menos. Conhecido por sua moda política, ele foi fundo em suas lembranças, para tentar algum link, de forma despretensiosa, como não, com o atual presente. Eis que, nesse processo, para ele o Brasil, de plena efervescência, política - principalmente -, topou com o mesmo tema que havia, uma vez, em 2001, já se debruçado: "Quem matou, Zuzu Angel?", desfilado, à época, na semana de moda.

A pergunta, que tem semelhança com "Quem matou, Marielle?", não é por acaso. É pertinente. Morta pela opressão da Ditadura Militar, em 1976, Zuzu, conhecida como "A mãe da moda brasileira", tinha uma voz - mesmo que só, na luta que defendia, na época. Além de devolver a brasilidade à moda, optando por tecidos de origem simples, como chitas, estava à procura do corpo do filho, Stuart (1946-1971), morto pelo então regime autoritário. Fez então da moda seus cartazes de manifesto, pagando um preço - muito - caro por isso: "A própria vida", relembra Ronaldo, dando detalhes do que, segundo ele, culminou na afronta crucial, que deu fim ao eco solitário de Zuzu: a criação de duas das suas estampas até hoje mais icônicas, a de um anjo, "simbolizando, hoje, vários Stuarts", e a de um canhão com flores, ambas replicadas em peças divulgadas ao público.

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"Hoje, o anjinho da Zuzu Angel ele é diverso. Tem índios, tem trans, tem negros, tem o Brasil. Zuzu virou uma causa", dá sequência às caraterísticas dos próprios modelos, inicialmente pintados sob folhas de um livro. "Eu trago de volta essa estampa da coleção lá de 2001, só que, naquela ocasião, as nuvens eram azuis, hoje, as nuvens estão em preto, com a chuva de sangue", detalha Ronaldo, em outro ponto sobre o que resultou esse seu interesse em discutir novamente o que Zuzu .

No audiovisual a seguir, chamado "Zuzu Vive!", com participação de Cida Moreira e inserção de desfile 3D - surpresa! -, o estilista expande atualidades e memórias, em um diálogo onde ele, diante da câmera, como se fosse possível, fala diretamente a Zuzu, atualizando-a, de forma poética - e reflexiva -, sobre a inevitável a comparação, para Ronaldo, com o "sombrio" dos dias atuais; o que faz com que se apoie na moda, como linguagem que dê suporte ao que o pensamento - político e criativo - está cheio. "Eu acredito na moda como arte. Ela tem esse lugar. Nem tudo está perdido".

"A sua obra, Zuzu, ela nos permite a falar do Brasil como um todo, e ela convida a colocar na mesma mesa artistas de diferentes frentes", continua em um papo como se a costureira estivesse na outra ponta da mesa, literalmente posta, com "lugar marcado". "Hoje, o desafio do designer é entender que a escrita está naquilo que se come, naquilo que se veste, naquilo que se mora, naquilo que se senta, como estou aqui", vai muito além das roupas, que, por sinal, para o estilista, há muito já no mundo, então, novamente, instiga, trazendo uma introdução "tec" à moda que sempre lhe foi - e continua sendo - do papel; de mão à mão.

Descubra no filme:

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