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Morre ator e dramaturgo cearense Wellington Rodrigues vítima de coronavírus

A morte ocorreu na noite desta segunda-feira, 3
06:39 | Ago. 04, 2020
Autor Alan Magno
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Alan Magno Estagiário de jornalismo
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Tipo Notícia

Atualizada às 12h16min

Wellington Rodrigues, ator e dramaturgo cearense, morreu nesta segunda-feira, 3, aos 45 anos. Segundo depoimentos de amigos e familiares do artista, ele estava em uma situação delicada de saúde desde a semana passada, após ter desenvolvido sintomas de Covid-19. O dramaturgo deu entrada na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Messejana no domingo, 26 de julho, com falta de ar e cansaço. Dois dias depois, foi transferido para o Hospital Leonardo Da Vinci, por apresentar agravamento no quadro clínico. Wellington deixa seis irmãos e a mãe, Maria do Socorro.

De acordo com a irmã, Verônica Rodrigues, Wellington passou a ser tratado com suspeita de infecção com o novo coronavírus. Entre as complicações, ele teve dificuldades para se alimentar, e precisou ser entubado, após o diagnóstico de uma forte pneumonia. “Quando foram tratar da pneumonia, ele teve uma parada cardíaca e depois de oito tentativas retornou, com o coração fraco”, conta a irmã. Desde que foi entubado, o quadro clínico de Wellington começou a piorar, até que, em torno das 17 horas da segunda-feira, sofreu outra parada cardíaca, e não resistiu.

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Wellington ficou internado por quase uma semana no Hospital Leonardo da Vinci, conta a irmã. Até a quarta-feira, 29, ele estava consciente, e conversava com a família por videochamadas. “A gente conversou com ele. Ele pediu para ver minha mãe e disse que seria entubado, que a gente orasse por ele. Na quinta-feira, depois que o entubaram, foi só piorando”, diz Verônica. “Meu irmão era uma pessoa batalhadora, sempre nos ajudou, nunca fez mal a ninguém. Uma pessoa que estava sempre brincando, sorrindo, foi muito alegre. Vou me lembrar dele assim, com a alegria que é só dele”, acrescenta.

Segundo Verônica, enquanto estava no hospital, o dramaturgo passou por dois exames para detecção do coronavírus, um teste rápido e outro por RT-PCR. Ambos tiveram resultados negativos, mas os médicos não descartam a suspeita da Covid-19 no atestado de óbito. Por causa da suspeita e a possibilidade de contaminação, a família não pode realizar o velório de Wellington. O dramaturgo foi sepultado por volta das 11h30min desta terça-feira, 4, no cemitério Parque da Paz, em Fortaleza.

Uma trajetória de superação e o legado da generosidade

Wellington Rodrigues foi o fundador da Companhia Teatral Moreira Campos, na qual ocupava o cargo de diretor e dramaturgo. Com olhar sensível e cirúrgico, Wellington usava a arte para se debruçar sobre as nuances do existir. Sua obra mais recente de maior impacto na sociedade cearense foi “Velha Moça”. Em temporada entre 2017 e 2018, a obra se tratava de monólogo com base em relatos colhidos de acompanhantes de terceira idade em Fortaleza.

Influente no âmbito artístico cearense, ele não só produziu uma vasta obra como também ajudou a formar novos artistas. “O legado [que ele deixa], para mim, é sua arte, seu teatro e sua generosidade; porque não pensava só nele, pensava nos outros, queria somar. Ele era aquela pessoa insistente, que não se conformava. Sempre prestativo, ajudou muito os irmãos e a mãe”, recorda a amiga, Luiza Pontes, professora, atriz e membro do grupo Imagens de Teatro.

Wellington foi professor do curso de Teatro da Universidade Regional do Cariri (Urca) entre 2013 e 2015. Atualmente, atuava como professor substituto de Artes e Literatura no Instituto Federal do Ceará (IFCE). Formado em Letras, sendo especialista em cultura clássica, ele detinha ainda o título de mestre em literatura brasileira pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e estava realizando o doutorado em literatura dramática também pela UFC.

“Ele era uma pessoa muito querida, um amante do teatro, apaixonado por Clarice Lispector e pelo teatro infantil. Era uma grande figura, que venceu preconceitos e barreiras”, lembra o humorista Luciano Lopes, criador da personagem Luana do Crato. Em relato ao O POVO, ele conta que teve o dramaturgo como orientador durante sua formação no curso de jornalismo.

Outro título de Wellington era “ser uma pessoa iluminada”. Definição recorrente nos depoimentos de luto depositados em uma de suas redes sociais por amigos, alunos e familiares. O Theatro José de Alencar publicou uma nota de pesar ao tomar conhecimento da morte do ator. "Sempre com um sorriso no rosto", assim a entidade definiu o ator. O Theatro José de Alencar mencionou ainda se solidarizar com a dor de parentes e amigos de Wellington.

Ao longo de 15 anos no teatro como ator e produtor, trabalhou em 14 espetáculos. O artista cearense chegou ainda a participar como ator convidado de espetáculos montados pela Companhia Palmas Produções Artísticas, pelo Grupo Palcos Produções Artísticas e pelo grupo Bilu Bila de Teatro.

Para os amigos, essas conquistas demonstram o legado de um grande artista, que fará falta no teatro, na arte e na academia cearense. “A palavra que Wellington me lembra é superação. Um homem negro, humilde, passou por preconceitos e estigma, mas conseguiu superar tudo com muito esforço. Nunca vi o Wellington triste. Ele era um empreendedor, criava muito”, relata Edson Candido, diretor de teatro, produtor cultural e membro do Grupo Imagens de Teatro.

Em dezembro de 2015 e janeiro de 2016, foi convidado pelo grupo de brincantes de teatro da cidade do Porto a participar do espetáculo “Auto do Boi”. O trabalho rendeu apresentações em oito cidades europeias, em dois países. O espetáculo foi apresentado em Portugal, nas cidades de Coimbra, Lisboa, Aveiro e na Espanha, nas cidades de Vigo, Santiago de Compostela e Madrid.

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