Crítico de cinema Pablo Villaça acusa ex-aluno cearense de plagiar curso dele
Bruno Albuquerque, fundador do portal Sociedade Brasileira de Cinema (SB Cinema) e instrutor do curso "Decifrando o Cinema", nega o plágio e se diz vítima de difamação e calúnia
O escritor e crítico cinematográfico mineiro Pablo Villaça está acusando o portal Sociedade Brasileira de Cinema (SB Cinema) de plagiar um de seus cursos. O site foi fundado pelos cearenses Bruno Albuquerque e Auriledo Rocha.
Villaça atua há quase 26 anos ministrando cursos sobre cinema no Brasil. Bruno é produtor audiovisual e ex-aluno de Pablo, participante do curso "A Arte do Filme: Forma e Estilo Cinematográficos", em 2013. Segundo o crítico afirma, a ementa deste curso teria sido copiada, inclusive com as mesmas referências e cenas utilizadas por ele. O cearense nega o plágio, argumenta falta de provas e acusa o mineiro de calúnia e difamação.
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Há cerca de duas semanas, o professor de cinema, residente em Belo Horizonte, recebeu via e-mail o relato de um dos alunos do curso “Decifrando o Cinema”, ministrado por Bruno Albuquerque na SB Cinema. Segundo o relato, havia clara similaridade entre o curso oferecido pela plataforma e o "A Arte do Filme”, de autoria de Villaça. Por meio de uma foto da turma que participou do curso em Fortaleza, em 2013, Pablo confirmou que Bruno tinha sido seu ex-aluno.
Após comentar em seu perfil do Twitter sobre a situação, Pablo relata ter sido contatado por outras pessoas que perceberam similaridades entre o curso da SB Cinema e o dele. "Várias pessoas vieram falar comigo sobre as semelhanças. São coisas bastante específicas, como cenas que uso e ele repete", explica.
De acordo com Pablo, pelo menos 12 relatos de ex-alunos de Bruno chegaram por meio das redes sociais apontando sinais de plágio. "Fiquei mais chateado ainda porque tenho um carinho imenso pelos meus ex-alunos", desabafa. Com a repercussão do caso, o cearense procurou Pablo para conversar por meio de rede social.
As acusações e as réplicas
Nas conversas divulgadas no perfil do Twitter do professor mineiro, Bruno reconhece semelhanças entre a estrutura da ementa do seu material e a do curso de Pablo. No mesmo diálogo, ele nega o plágio, mas se oferece para modificar a ementa do curso "Decifrando o Cinema".
Além da equivalência entre os conteúdos, Pablo também acredita que houve cópia de interpretações, comentários e até de cenas idênticas que ele utiliza em seu curso como exemplos. O professor sugere, ainda, que o cearense poderia estar reeditando vídeos do curso para evitar acusações de plágio, inserindo tardiamente créditos a ele.
Ok, @ClubeDuasPortas, eu não havia citado você diretamente nenhuma vez até agora. Mas você dizer para alunos que estão pedindo reembolso que eu estou "incomodado com o sucesso do seu curso" é demais pra mim.
— Pablo Villaça (@pablovillaca) May 2, 2020
Em resposta ao O POVO, via e-mail, Bruno confirma a veracidade das conversas publicadas. Ele explica que levantou a possibilidade de modificar a ementa de seu curso como uma prova de que estaria aberto a resolver a situação.
“Ao tomar conhecimento desse mal entendido, ainda que discordasse, inteiramente, de sua posição (de Pablo Villaça), por uma questão de respeito e admiração por um dos produtores de conteúdo que me inspiraram, eu me coloquei aberto ao diálogo e, se um título qualquer o incomodava, não teria problema algum em alterar, justamente porque não se tratava do conteúdo do curso, mas sim de suposta similaridade de título ou apresentação cronológica de aulas, ou de alguma citação, nominal, do autor. Detalhes pequenos, e até insignificantes, no universo do curso”, afirma.
Ainda de acordo com Bruno, o material da SB Cinema passou pela avaliação de um advogado para verificar se “a coincidência de base curricular e ordem cronológica de apresentação dos temas, de alguma forma, poderia caracterizar plágio”. Ele assegura que a assessoria jurídica da empresa concluiu que “não há, sob nenhuma forma ou tipo, qualquer plágio”. “Não se pode confundir uma similaridade de base curricular ou de apresentação do curso que, naturalmente, podem seguir a mesma ordem lógica de aprendizagem, com acusação de plágio. São coisas totalmente diferentes”, acrescenta.
Na resposta assinada por ele e pela equipe da empresa, Bruno reitera o apreço pelo trabalho de Pablo Villaça e salienta que todos os cursos foram preparados e revisados por um grupo de pessoas. “Nosso intuito, como demonstrado, era esclarecer e encerrar qualquer mal entendido, sempre abertos a ouvir, educadamente, a outra parte que, infelizmente, não se dispôs a conversar e optou pela difamação pública”, diz.
Sobre o curso em que foi aluno de Pablo há sete anos, Bruno ressalta que não guardou nenhum tipo de vídeo ou áudio das aulas ministradas e participou de diversas outras formações durante a adolescência. Em relação ao apontamento de Pablo sobre edição em um vídeo para evitar plágio, ele garante que todos os vídeos do curso “Decifrando o Cinema” foram gravados em 2019, estão no acervo da empresa desde então e “permaneceram intactos”.
Para Bruno, Pablo escolheu fazer “ofensas públicas” contra ele e o curso da SB Cinema em vez de “dialogar, de ouvir e chegar, civilizadamente, a um consenso”. “É sempre bom lembrar que a lei vale para todos, se por um lado, a Justiça garante a todos o direito de expor e reivindicar os direitos que julgam ter, por outro lado, a ninguém é conferido o direito de difamar, caluniar e humilhar, publicamente, qualquer pessoa, sob pena de responder, civil e criminalmente, por tais ofensas”, rebate.
Medidas legais
Em resposta à questão, o professor Pablo Villaça acionou a advogada dele, Jane Oliveira Santos, e pretende comprovar, por meios legais, o cometimento de plágio. "É extremamente frustrante porque desde 2009 viajo o Brasil inteiro com esses cursos. Cada curso que eu crio, levo meses trabalhando", defende.
A ação que deve dizer se o caso ficará na esfera cível ou será levado à esfera criminal ainda será definida, mas Jane considera que "o plágio está óbvio". "Uma criação literária já tem direitos autorais garantidos desde o momento que é criada. Os direitos estão garantidos porque ele já deu o curso várias vezes", assegura a advogada, que conhece o material criado por Pablo por ser ex-aluna dele.
No caso de uma ação penal, respondendo pelo crime de plágio, caracterizado pela violação dos Direitos Autorais, se houver condenação, a pena pode variar entre dois e quatro anos de reclusão e multa. Na área cível, a empresa, se condenada, poderia responder por danos morais e materiais, além de ser proibida de oferecer o curso.
SB Cinema e Pablo Villaça
No portal SB Cinema, onde ministra seu curso, Bruno Albuquerque, 24 anos, se apresenta como crítico de cinema há 11. Além disso, também é sócio-diretor da Screen Filmes, produtora de vídeos de Fortaleza. Seu canal no YouTube, o "Clube de Cinema de Duas Portas", soma mais de 60 mil inscritos e quase 4 milhões de visualizações.
Na propaganda do curso ministrado por Bruno, a promessa é aprender a "decifrar qualquer filme sem nunca ter estudado cinema antes".
A SB Cinema surgiu no ano passado e atualmente oferece os cursos “Decifrando o Cinema: Teoria e Linguagem Cinematográficas” e “Decifrando o Roteiro de Cinema: Técnicas de Escrita e Criatividade”. Além de Bruno Albuquerque e Auriledo Rocha, os também cearenses Wagner Chaves e Lucas Nascimento são sócios na empresa.
Conforme Pablo, em 2017, ele chegou a ser convidado duas vezes por Bruno para lançar seus cursos de forma online, mas sempre recusou.
Pablo Villaça, 45 anos, mantém, atualmente, três cursos presenciais sobre cinema: "A Arte do Filme: Forma e Estilo Cinematográficos", "Teoria, Linguagem e Crítica" e "Decifrando o Poderoso Chefão". Ele também é diretor do portal Cinema em Cena. Mais de 5 mil alunos já participaram de suas aulas em diversos estados do País. Em Fortaleza, o professor esteve pelo menos quatro vezes. Em virtude da pandemia, ele planeja começar a oferecer seus cursos de maneira virtual agora.