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Como o bordado ajuda a aproveitar o tempo em casa

O isolamento social tem nos imposto uma nova relação com o tempo. A prática do bordado tem muito a ensinar sobre isso. Que tal experimentar? Confira dicas para iniciar essa atividade artesanal durante a quarentena
19:39 | Abr. 22, 2020
Autor Ivig Freitas
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Tipo Notícia

Pelas tramas invisíveis feitas de cores, linhas e relevos, o gesto de bordar revela um importante ensinamento: o de saber esperar. Em meio à realidade da quarentena, que tem exigido particularmente o estabelecimento de uma ainda estranha relação com o próprio tempo, a antiga prática manual tem sido redescoberta para dar novo significado à solitude e ao isolamento social por meio do tecer. O afeto depositado no trabalho com a linha, o algodão, a seda e outros diferentes materiais tem se transformado em momento de reflexão e autoconhecimento, além de aproximar a vida real e a imaginada em um gesto inclusivo e criador que entrelaça a vida com a arte.

Para Juliana Farias, designer de moda e artesã, passar o tempo junto ao bordado durante a quarentena tem trazido leveza aos dias de sentimento de incerteza. "Me apaixonei pelo ofício justamente pela capacidade que ele tem de fazer esquecer de tudo. Posso estar com vários problemas, chateada... Mas a partir do instante que inicio o processo do bordado, começo a relaxar mente e corpo, e parece que nada mais existe. Quando vejo, horas já se passaram", relata. Ela criou o canal do Youtube "Transbordando" em 2017, quando deixou de ser aluna de bordado e passou a ministrar cursos sobre a técnica na Cidade.

Com uma experiência de bordar trazida ainda da infância, o trabalho manual é, para a artesã Talita Késsia, uma das melhores maneiras de parar, se desligar do mundo e ter um momento para si. "No cenário atual de isolamento, é bem difícil lidar com os sentimentos de ter que se manter longe de tudo lá fora e de todas e todos. Ter como ocupar a mente com um trabalho que requer do corpo também, ajuda a mudar o foco e, quem sabe, descobrir novos gostos e habilidades", conta.

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Além de ser uma atividade introspectiva, Juliana Farias considera que o bordar lhe abre caminhos para uma imersão em um universo onde a pressa dá lugar para a ludicidade e as suas próprias memórias. "O manuseio da agulha passeando pelo pano e aquele movimento de vai e volta, faz com que a pessoa vá descobrindo que é possível, sim, ter paciência, porque não é um ofício que se vai conseguir fazer de uma hora pra outra", descreve. Talita, que aprendeu com o bordado um novo significado para o tempo, percebe na prática uma forma de não levar a vida de forma "automática". "Eu acho que essa relação mais lenta, respeitando o tempo dos materiais e do corpo, traz toda uma nova visão de como se levar a vida", pontua.

Para iniciar a prática do bordado, Juliana ressalta que é importante começar pelos passos mais simples como aprender a colocar a linha na agulha e finalizar os pontos. "Os materiais não precisam ser muito elaborados: um tecido de algodão, agulha, linha de crochê e tesoura são suficientes para começar. Caso não tenha um pano sobrando, pode pegar uma peça de roupa que não seja de malha. Em tecido plano é bem melhor de começar a bordar", explica. Ela destaca ainda que a agulha de mão não pode ser fina demais, e que uma de n° 5 ou de tapeçaria n° 24 seria o tamanho ideal.

Embora seja muito utilizado para delinear a parte a ser bordada, o bastidor (uma espécie de arco feito de madeira) não é indispensável para começar a bordar. "Podemos usar tampas, pulseiras e outros objetos para melhorar a posição do bordado", explica Iara Reis, que trabalha com artesanato há mais de 20 anos. Ela explica que o bordado à mão pode ser praticado com materiais que quase todo mundo tem em casa. "Pode ser em uma almofada, em bolsas, em nossas próprias roupas, customizando e repaginando aquilo que já não estava mais em uso. O bordado é muito versátil e mesmo se tivermos só uma cor de linha podemos bordar com estilo e criatividade", descreve a professora, que faz parte do grupo de bordado Entrelaçadas.

Nas últimas semanas, Iara tem feito de seu perfil no instagram (@iara.reis.rococo) um espaço para ensinar alguns pontos de nível iniciante e intermediário. "Nesse momento de isolamento social, precisamos nos manter bem, e bordar à mão é uma atividade bastante prazerosa, uma espécie de terapia para passar esses tempos difíceis. O bordado é uma ótima forma de exercitar a paciência", considera. Ela acredita, ainda, que os trabalhos manuais, em geral, têm o poder de exercitar a criatividade, a paciência e a concentração. "Se a pessoa borda por diversão, pode separar um tempo para se dedicar e se desconectar um pouco desse problema que o mundo vivencia", conclui.

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