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Com ruas vazias, pandemia leva um novo cenário às cidades

Isolamento domiciliar para reduzir a propagação do novo coronavírus esvazia cidades ao redor do mundo, promove reflexões e outras formas de sociabilidade
00:00 | Abr. 03, 2020
Autor Bruna Forte
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Bruna Forte Repórter
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Tipo Crônica

"A rua! Que é a rua? (...) Os dicionários dizem: 'Rua, do latim ruga, sulco. Espaço entre as casas e as povoações por onde se anda e passeia'. Abri o primeiro, abri o segundo, abri dez, vinte enciclopédias, manuseei in-folios especiais de curiosidade. A rua era para eles apenas um alinhado de fachadas, por onde se anda nas povoações... Ora, a rua é mais do que isso, a rua é um fator da vida das cidades, a rua tem alma!". Na célebre obra A alma encantadora das ruas (1908), o jornalista carioca João do Rio é assertivo — nascida do suor humano, a rua é artéria que carrega sangue rico em oxigênio. Pulsa masala nas barraquinhas de comida em Mumbai, cores no emblemático museu a céu aberto El Caminito em Buenos Aires, luzes na charmosa Champs-Élysées em Paris. A rua é, por excelência, lugar do encontro.

Vivemos, entretanto, um presente em crise. A pandemia do novo coronavírus se alastra feito erva daninha: até o fechamento desta edição, o número de casos confirmados no mundo ultrapassava 1 milhão e mais de 52 mil pessoas já haviam morrido em decorrência da doença. Na Itália e no Equador, cadáveres se acumulam em calçadas. O cenário é assolador e urge: esvaziemos as ruas. O isolamento é impreterível medida no combate à proliferação da Covid-19. Hoje a rua é, sobretudo, lugar do silêncio.

A experiência do corpo coletivo, que vibra ao ocupar múltiplos espaços públicos, só é uma possibilidade do amanhã se hoje nos resguardarmos. A antropóloga indiana Veena Das mobiliza o conceito de "eventos críticos", acontecimentos que marcam uma distinção brusca entre o antes e o depois. A pandemia do novo coronavírus rompe nossas antigas formas de estar no mundo. Para inaugurar o futuro, talvez seja imprescindível encontrar a ancestral sabedoria dos povos originários e compreender que o respeito pela vida do outro é a condição de sobrevivência de cada um.

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A seguir, um giro pelo mundo e suas paisagens modificadas a partir de uma sociedade que recua para enfrentar o desconhecido.

 

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