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Ressignificação de situações de violência contra a mulher é tema de exposição interativa no RioMar Fortaleza

"O que não nos disseram" traz 14 relatos de superação por meio de fotografias; exposição segue até o dia 17 de março e por todo o mês na Defensoria Pública
16:59 | Mar. 13, 2020
Autor Marília Freitas
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Marília Freitas Estagiária do O POVO Online
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Tipo Notícia

Aos 13 anos, Tereza conheceu seu ex-namorado, com 21 anos à época. Viveu o relacionamento por dois anos e meio e só percebeu a toxicidade da relação após terminar o relacionamento ao quase ser impedida de realizar um sonho: dançar quadrilha junina. Dez anos depois, ela é uma das personagens da exposição audiovisual "O que não nos disseram (OQNND)", que retrata a superação de 14 mulheres que perpassam por algum tipo de violência contra o gênero, como física e psicológica. A mostra segue no RioMar Fortaleza até o dia 17 de março e por todo o mês na Defensoria Pública.

O manifesto foi idealizado pela jornalista Andressa Meireles após se ver vítima de violência. Andressa não se sentia representada pelas campanhas de incentivo a denúncias contra violência física a mulher noticiadas e resolveu subverter a situação. "O trabalho traz depoimentos de mulheres que falassem para além da violência sofrida. Não era mais só sobre Andressa, mas sim sobre outras mulheres", conta. Cerca de 20 dias foram necessários para a produção final, inaugurada durante a III Conferência Nacional da Mulher Advogada, na sede da OAB-CE, no último dia 5 de março.

A exposição interativa traz quadros das fotografadas acompanhadas de um fone de ouvido, no quais os telespectadores podem ouvir um pouco sobre uma parte da história das mulheres. Dez fotógrafas participaram do movimento. Lia de Paula retratou três personagens a convite de Andressa, e conta que a exposição ajudou a perceber que a mesma tinha sido vítima de micromachismo, atitudes contra as mulheres que tendem a se normalizar diante de sua perpetuação diária.

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O micromachismo é presente em todos os relatos apresentados na exposição, inclusive na história de Teresa. O fato de seu ex-namorado ser irmão de um dos seus amigos normalizou o comportamento abusivo dele diante do grupo. Devido ao relacionamento, diversas atitudes do cotidiano de Teresa passaram a ser interrompidos. "Eu não podia me dar o luxo de não me maquiar quando fosse sair com ele".

A estudante do curso de Moda se viu prestes a realizar o sonho de entrar em uma turma de quadrilha junina ao ser convidada para desenhar as roupas do grupo. A situação de isolamento logo reapareceu por seu ex-companheiro. "Um dia, ele pediu para eu escolher entre continuar nosso relacionamento e sair da quadrilha. E após disso, eu dancei quadrilha por cinco anos seguidos”, conta Tereza.

Ela ressalta que só percebeu a situação de violência psicológica após anos e também questiona campanhas divulgadas na mídia. "Se eu vejo uma campanha que retrata que eu posso denunciar uma violência física que sofri, eu vou entender que só posso denunciar a violência física. Mas há diversos outros tipos de violência, como a psicológica”. A relação de troca entre mulheres proporcionada na OQNND a ajudou a perceber uma força dentro de si diante dos relatos.

Para Andressa, é importante não representar constantemente as mulheres como vítimas da violência, mas sim como pessoas que superaram a situação. “Essas mulheres são lindas e são quem elas são. E isso não as impediu de passarem por violências”. Dentre os 14 relatos está o de uma mulher trans, que superou um relacionamento abusivo por meio da música. Para a curadora, a abordagem da Lei Maria da Penha ainda é insuficiente para minorias, como mulheres trans e mulheres que vivem um relacionamentos homoafetivos. “Tudo que está aqui está na Lei. Mas não nos disseram isso”, rebate.

ESPAÇOS INTERATIVOS AJUDAM NA PERCEPÇÃO DO TEMA

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A exposição também conta com dois espaços interativos. Um deles é uma sala que traz objetos citados nas histórias, como perfumes, escovas e lençóis. Cada um deles foi usado simbolicamente para praticar a violência relatada pelas personagens, e o objetivo é trazer a tona o conhecimento de diversos tipos de violência além da física. A porta, por exemplo, vem em uma das histórias de cárcere privado citada na exposição. O relato fez com que a personagem “abrisse as portas do seu coração”, como cita no áudio.

A abordagem didática das exposição possibilitou que diversos públicos, incluso homens envolvidos na organização também se conscientizassem sobre o assunto e a perceber micromachismos que cometiam e que visualizavam. Em rodas de conversas proporcionadas na exposição, Andressa relata que, homens tímidos e “escondidos”, no entanto, interessados, assistiam ao evento. “A única forma de resolver a violência contra a mulher é tratando com quem a comete”.

A pretensão é que a OQNND retrate mulheres de cada estado ao perpassar pelo País. Futuros lançamentos, como o documentário e outros relatos na íntegra, também seguirão pelo perfil do projeto no Instagram, que já conta com quase mil seguidores após uma semana do lançamento. “Criamos aqui uma pressão social positiva, ao perceber que devemos criar uma rede de acolhimento social no qual homens e mulheres entendam o que é violência.”

Serviço

Exposição "O Que Não Nos Disseram"

Quando: 7 a 17 de março no shopping; até 31 de março na Defensoria Pública do Estado do Ceará 

Onde: shopping RioMar Fortaleza (avenida Desembargador Lauro Nogueira, 1500 - De Lourdes) e na Defensoria Pública Geral do Estado do Ceará (avenida Senador Virgílio Távora, 2184 - Dionísio Torres)

Funcionamento: segunda a sábado, das 10h às 22 horas, e aos domingos, das 14h às 21 horas (shopping RioMar) e de segunda a sexta, de 8h às 17 horas

Outras informações: (85) 3066 2000 (shopping RioMar) e (85) 3101 1263 (Defensoria Pública do Estado do Ceará) 

Gratuito

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