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"Só sabe sobre racismo quem vive na pele", diz idealizadora da hashtag #machadodeassisreal

O projeto que leva o mesmo nome da hashtag casou repercussão nas redes sociais ao apresentar a real cor do autor, diferente da impressa em seus livros
14:04 | Mai. 03, 2019
Autor Danielber Noronha
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Tipo Notícia

A figura de Machado de Assis tem aparecido com frequência nas redes sociais. O escritor está sendo rememorado por meio de levante na busca por representatividade do movimento negro. A #machadodeassisreal foi destaque nas redes sociais, principalmente no Twitter e no Instagram, nos últimos dias.

As postagens variam entre dois tipos. A primeira compara duas versões da mesma foto de Machado de Assis: uma em que ele aparece com a pele branca e a outra como realmente era, negro. A segunda mostra livros com a foto real do escritor sendo colada sobre a imagem embranquecida presente nos volumes da vasta obra do autor.

A discussão nas redes sociais virou pauta do podcast Recorte. Escute:

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Esta segunda ganhou as redes sociais a partir de um projeto idealizado na Faculdade Zumbi dos Palmares por alunos do curso de Publicidade e Propaganda. Na iniciativa do site homônimo à hashtag, foi disponibilizada para download a verdadeira foto de Machado de Assis para que seja impressa e colada sobre as fotos impressas nos livros do autor. “A ideia veio do intuito de buscar a retratação do Machado de Assis como realmente era. O projeto é uma luta pela eliminação do preconceito racial”, define a coordenadora da iniciativa Enisete Malaquias, ao O POVO Online.

A coordenadora de extensão, cultura, esporte e ação comunitária da faculdade explica que o propósito da ação é conseguir mudar o máximo de capas possível. "O que a gente quis foi corrigir e retratar uma situação de preconceito vivida lá atrás. E, para nós da raça negra, é motivo de orgulho que um dos maiores nomes da literatura brasileira era negro", acrescenta.

Até a noite desta quinta-feira, 2, quase 150 fotos já circulavam no Instagram com o uso da hashtag  #machadodeassisreal. Segundo Enisete, a ideia de promover o projeto online foi pensada para fazer a iniciativa atingir o maior número de pessoas nesse processo de retratação. A coordenadora ressalta esta fase de difusão nas mídias como a mais importante. “Apesar do projeto ter começado em 23 de abril, agora é o momento mais importante, de fazer que o maior número de pessoas conheça o projeto. O resultado é que vai nos mobilizar e motivar para entender o que precisamos daqui pra frente”, adianta.

Em 2011, uma propaganda da Caixa cometeu a mesma gafe ao contratar um ator branco para dar vida a Machado de Assis. Após a repercussão negativa, o comercial foi tirado do ar e uma nova versão com um ator negro foi regravada.

O racismo aplicado historicamente ao retratar Machado de Assis com a pele clareada vem sendo sentido durante toda a vida por Enisete. A profissional se afirma como negra e condena as frases tradicionais de que o racismo não existe. “Eu passei e passo por muitos momentos de preconceitos racistas e costumo dizer que: as pessoas que falam que hoje não existe mais racismo é porque não vivem como ele todos os dias”, expõe.

Durante entrevista, a coordenadora relembra momentos em que sofreu julgamentos prévios. Em um dos relatos, Enisete relembra uma das várias vezes em que está no elevador social e é confundida com uma empregada doméstica. "Quando estou no elevador, as pessoas perguntam se tenho algum dia livre para fazer faxina”, conta.

O fato de morar em um condomínio de luxo não a exclui de ser evitada por alguns moradores quando está acompanhada da filha deficiente, de pele clara, que foi adotada por ela. “Quando estou no elevador junto com ela, as pessoas perguntam pela mãe dela”, complementa.

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