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"O artista da terra precisa de mais visibilidade", diz Beto Barbosa; confira entrevista completa

O artista falou da superação de sérios problemas de saúde e o retorno aos palcos
13:43 | Abr. 07, 2019
Autor Bruna Forte
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Bruna Forte Repórter
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Tipo Notícia

"Preta, fala pra mim..." O nome de Beto Barbosa suscita coro imediato. Após se submeter a uma delicada cirurgia para tratar os cânceres na próstata e na bexiga, descobertos no ano passado, o Rei da Lambada voltou aos palcos e partilhou com O POVO o reinício de sua trajetória musical.

O POVO - No último mês de fevereiro, você utilizou sua conta no Instagram para divulgar a cura dos cânceres na próstata e na bexiga que enfrentou no ano passado. Como foi esse processo?

Beto Barbosa - Eu descobri o câncer entre julho e agosto de 2018. Em Fortaleza, um médico me tratou por mais de um ano como se fosse uma infecção urinária. O que me chateou e me fez sair da Cidade é que eu estava fazendo um teste ergométrico e a médica disse que eu estava infartando. Eu me conheço, sabia que não estava, mas ela disse que eu não podia ir embora do hospital. Na mesma hora, fiz um cateterismo que não deu absolutamente nada e por causa do exame fiquei dois dias na UTI. Assim que melhorei, peguei um avião e vim para São Paulo. No mesmo dia que cheguei no Hospital Israelita Albert Einstein, os médicos descobriram o câncer. Foi difícil o que eu passei, foi um câncer com apenas 20% de chances de vida, muito agressivo. O meu urologista disse que a cirurgia a qual fui submetido é a maior que existe nesse tipo de enfermidade: abri barriga, tirei próstata, tirei bexiga, abri o intestino para fazer uma outra bexiga, então foi muito traumático e a operação ainda vai fazer três meses. Eu fiz quatro sessões de quimioterapia e, no meu último PET-Scan, o médico disse que estou 100% curado. Eles fizeram biópsia de cada pedaço que tiraram de mim e, graças a Deus, nada mais tinha célula cancerígena. Estou feliz nessa minha fase nova, estou feliz por estar vivendo novamente. Deus, a minha fé e a oração dos meus fãs ajudaram. Eu senti um carinho muito grande do Brasil e isso tudo vai deixando a gente feliz. Felicidade cura.

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O POVO - No último final de semana, você voltou aos palcos com dois shows na Paraíba. Seu retorno já foi completo? Que sucessos não podem faltar no seu repertório?

Beto - Foram sete meses parado, então estou naquela fase de entrar no ritmo novamente. O primeiro foi bom, o segundo já foi ótimo… No primeiro, em João Pessoa, certa hora eu fui dançar e senti a vista querendo escurecer, sabe? Eu me preocupei em desmaiar no palco, mas fui melhorando e dei uma diminuída no ritmo – eu gosto de cantar dançando, aquela alegria toda, correndo no palco de um lado para o outro. Já no segundo, em Campina Grande, eu senti que estava mais forte. Além disso, o infectologista também me acompanha direto. Eu sempre trabalhei bem e estou com shows vendidos até outubro. Na próxima semana, nós vamos ter uma reunião para organizar um show em setembro num país que está se abrindo agora, a Arábia Saudita. Esse evento acontecerá em parceria com o Ministério da Cultura de lá e, segundo informações do contratante, será um dos primeiros show de um artista brasileiro no país. Também já tenho show marcado nos Estados Unidos e em diversas cidades brasileiras.

Nos meus shows, não podem faltar os meus sucessos que estão nos dois discos lançados no auge da lambada, de 1987 a 1991. Em cada cidade o povo pede músicas, na Paraíba pediram Caminhando com a solidão Meu Xodó – que já nem estava mais no repertório, mas se pedem eu tenho que cantar. No dia 4 de maio estarei em Fortaleza para um show no Kukukaya com a Eliane.

O POVO - O que torna Beto Barbosa tão universal?

Beto - A minha música tem muito a ver com o que se toca no mundo há muitos anos: a cumbia, o merengue, a salsa. Lambada foi uma palavra que nós usamos no Brasil para conseguir um marketing maior para esse ritmo dançante que envolveu samba de gafieira, samba paulista, dança pernambucana... Quem gosta de dança no mundo curte Beto Barbosa porque é o estilo brasileiro, é envolvente e sensual sem baixaria. Nesse show que vamos fazer na Arábia Saudita, por exemplo, procuro saber como é a cultura do local, se posso levar bailarinas ou não, se posso aprender uma dança e adaptar para um estilo dança do ventre, se posso aprender uma música deles e adaptar para um ritmo mais brasileiro… O contratante nos disse que a filha do sheik que nos convidou canta muito Beto Barbosa. A gente sempre está aberto para misturar as coisas é isso que faz a música do mundo há milhões de anos.

O POVO - Quais são suas projeções futuras na música? Atualmente, composições suas estão na trilha sonora da novela global Verão 90...

Beto - Isso, tem duas músicas minhas na Verão 90. É a quarta novela que eu tenho essa honra de fazer parte na trilha sonora e a Globo é um canhão, né? Você está ali e está no Brasil inteiro, no mundo todo… No momento, a gente está querendo estabilizar o produto – eu sempre digo que Beto Barbosa é um produto. Meu nome é Raimundo Roberto Morhy Barbosa e o Beto Barbosa, como a minha gravadora sempre dizia, é um número. Além do meu público que eu amo e trabalho para ele, se não agradar o contratante que está te levando, você não volta mais. Em Fortaleza, eu sempre trabalho no Kukukaya. Hoje, o Kukukaya se tornou a única casa na Cidade que faz todos os shows que você já não encontra mais, como um forró tradicional, e apresenta artistas da terra.

O POVO - Você se divide entre São Paulo e Fortaleza e sua relação com a Capital cearense é forte. Como você avalia o cenário musical local neste momento?

Beto - Eu me divido entre São Paulo e Fortaleza há 35 anos. Eu me sinto mais cearense que paraense, eu já moro há mais tempo no Ceará do que na terra que eu nasci. Aí tem o meu filho, cearense legítimo, meu orgulho. O que me agrada no Estado é essa força do cearense, é a cultura, é essa valorização que o povo - repito: o povo - dá aos seus artistas. Onde os artistas da terra vão, o povo acompanha. Eu acho que o artista da terra precisa de mais visibilidade, mais oportunidade, participar de shows grandes como o Réveillon e o São João. O artista de fora vem e ganha 800 mil reais, o da terra ganha 10 mil e ainda acham que estão fazendo um favor. Eu não canto nesse esquema, não participo, não dou percentual, aí você me vê mais no Kukukaya. Eventos grandes deveriam ser (com atrações) 99% de nossa terra e 1% de fora, eu penso assim.

O turista, quando chega em Fortaleza quer comer lagosta, camarão. Não adianta oferecer uma pizza italiana se ele come fora daqui já. Quando eu chego em outro estado, quero ver como esse povo dança, canta, é isso que me interessa: buscar essa riqueza deles. O Estado do Ceará não pode perder essa alma. Não é nada contra ninguém, eu sou a favor de que se junte tudo, mas isso não pode morrer nunca. Nossa cultura própria tem que ficar viva sempre com renovação.

 

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