Crônica: Lanlink do ponto de vista da fortaleza

A cearense Lanlink faz 35 anos e comemora fazendo planos para o futuro a partir da torre de uma fortaleza na Praia de Iracema.

Cristina deu uma resposta com rara autenticidade a minha pergunta sobre o porquê do nome da empresa. “Lan são redes. Redes de computadores, tá certo? E Link é a interligação de redes. O nome Lanlink é uma forma de, mudando, falar que a gente fazia trabalhos de interligação de redes”, disse por meio de áudio.

LAN é acrônimo de Local Area Network, lembrei sem procurar no google. Link já está quase abrasileirado uma vez que “linkamos” pessoas e memórias quando necessário. Mas é bom levar em consideração que a construção do termo foi por volta de 1988 quando cinco estudantes, sendo quatro deles colegas do Curso de Ciência da Computação da UECE decidiram criar uma empresa de tecnologia dentro de um contexto no qual sequer internet de fato havia.

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Há época, ou talvez um pouco antes, passava-se cerca de 30 minutos em frente a um terminal, baixando por uma linha discada, um arquivo que reproduzia o som do motor de um carro de Fórmula 1. Era uma trabalheira para 10 segundos do som de um motor. O máximo!

Pois bem, continua Cristina, “E como a gente começou focando muito fortemente nas redes de computadores Microsoft, então era isso, era interligação de redes Microsoft. Então essa aqui é a justificativa, só que a gente não mudou mais o nome porque é um nome gostoso de falar, é simples e já tá conhecido, né?”, comenta.

Sim, o nome está conhecido, tem mais de mil colaboradores atende em todas as regiões do país, mais de mil certificações, e 66 prêmios nacionais e internacionais, sede em Fortaleza e filiais ou escritórios em Recife (PE), Salvador (BA), Aracaju (SE), Belém (PA), Poá (SP), São Paulo (SP), Belo Horizonte (MG) e Brasília (DF). Declara 90% de crescimento nos últimos cinco anos, e uma receita de cerca de mais de R$ 500 milhões no ano corrente. A empresa, como você já percebeu, é cearense, e comemorou em pílulas ao longo de 2023 seus 35 anos de estrada.

Uma das pílulas foi no restaurante L´ô na Praia de Iracema numa sexta-feira que ficou bucólica porque o local escolhido para os comensais era em frente a sede da empresa – um conjunto arquitetônico do qual falarei alguns parágrafos a frente, porém deste belo conjunto de prédio faz parte a SEFAZ II onde trabalhei pouco mais de uma década na informática. Entrei como digitador lento e sai como analista ruim da instituição.

Porém a vivência me deu muito aprendizado e me oportunizou ir a Lanlink para algo, certa vez. Não lembro o que era o algo, mas lembro da estrutura interna absolutamente sedutora do prédio, um deleite para quem gosta de história, patrimônio, cidades. Na forma de uma fortaleza com torre e piso de madeira, a preservação nos ensina sobre o usufruto de estruturas e os efeitos delas na composição da percepção do que é uma cidade. A nossa cidade.

Lembro também que vizinho ao prédio da Lanlink havia um átrio, depois usado para estacionamento por ser um vão livre, onde havia uma exposição de quadros de um certo artista famoso. Ao cruzar a pé a Rua Boris, deparei-me com este artista olhando para rua com os cotovelos sobre um carro assobiando. Pensei em cumprimentá-lo, mas faltou coragem. Fiz que ia e não fui. Ele percebeu e sorriu. Arrependido estou até hoje porque não falei com Belchior.

“O prédio de Boris Freres é de 1869, e a empresa é a segunda mais antiga em funcionamento no Ceará. É exatamente onde fica a sede da Lanlink, ao lado do Dragão do Mar. Foi restaurado recentemente e tem uma torre onde no início a empresa via o porto para os negócios de exportação e importação. Tem uma belíssima vista de pôr do sol de Fortaleza e muita história para contar. O piso de madeira ainda é todo de 1869”, explica Charles Boris, sócio fundador.

Fecharei aqui a Gestalt do nome para seguir em frente. O nome é audível, quase musical. Aquela junção feliz de fonemas que se “linkam” bem. Sem trava-língua, em inglês, mas aportuguesado. Imagine a cena fantasiosa: jovens no restaurante universitário que raramente abria, canja de galinha, pequenos doces de goiaba, pratos de plástico, uma pergunta: como será o nome da empresa? Que tal Link Lan? Por quê? Não sei, acho bacana. Mainframe não é melhor? Ninguém sabe ler isso. E mainframe vai acabar, todo mundo sabe. E se a gente inverter? E ficar Lan Link? Taí, boa! É melhor porque soa melhor e nada mais precisa ser dito.

“Não faz mais sentido trabalhar com esse objetivo de link em lans. Mas era esse o nosso objetivo quando começou”, finaliza Cristina. Não faz mais sentido mesmo. As redes estão interligadas e embora tudo na TI seja desafiador, inclusive as próprias redes, devido ao caráter dinâmico das mudanças nelas contidas, as possibilidades explodiram. Passando pela conquista da primeira empresa da América Latina a receber o selo IBM Specialty System Storage Elite, e a primeira empresa de TI do Brasil a aferir o ISO 19600, chega-se à cibersegurança com a Trust Control, braço de segurança cibernética da Lanlink.

Porque se antes a empresa fazia o que hoje achamos prosaicas junções de redes, agora precisa cuidar de eixos de atendimento que dão conta de segurança de dados, produtividades das empresas às quais atende, central de serviços, infraestrutura e Inteligência Artificial, para olhar para frente sabendo que o mundo continua mudando e alguns desses produtos hoje talvez não existam mais daqui a cinco anos.

Melhor exemplo das mudanças impostas pela tecnologia, e que não poderia faltar, é, claro, a inteligência artificial. Na conversa pré-almoço, aquela meio sem pretensão em que a gente fica balançando a perna porque já projeta as mil coisas a serem resolvidas depois, conheci Sérgio Ricardo Oliveira, Diretor de Business Transformation da Lanlink e tive a sorte de ladeá-lo no almoço. Descobri com Sérgio que de saudosismo não morro, uma vez que mainframes ainda existem, mas apontou-me o desafio que é ser relevante em um mercado que supostamente acaba de fazer nascer o Q* (lê-se "queue-star").

Sérgio começou a explicar do que se trata: “segundo especulações de fontes não oficiais (ex-funcionários e funcionários anônimos), é um modelo que atingiu o nível de AGI (Inteligência Artificial Geral -- que, grosso-modo, é um nível que iguala a capacidade de raciocínio humano). A perna parou de balançar nesse momento. “Fato mesmo é que o nível de AGI já era esperado ser atingido nos próximos anos (se ele realmente foi, veio antes do esperado), e que ele é o nível que precede o chamado Ponto de Singularidade, no qual a IA passará a ter autoconsciência (consciência da sua própria existência -- o que, na minha opinião, é inexorável que acontecerá por volta de 2030)”, continuou Sérgio.

Em resumo Q* é uma nova abordagem que eu defendi ser impossível, mas que pode já estar feito. E vai determinar rumos de empresas e empregos nos próximos anos.

A respeito dessa incerteza que nos cerca, mas sempre nos rodeou, questionei Charles Boris sobre o porquê de ter chegado aqui sem nunca vender. Parece-me óbvio que em alguns momentos ofertas tentadoras tenham chegado. Sua resposta: “A empresa tem conseguido crescer organicamente, com reinvestimento de nossos resultados, e, até hoje, não tivemos necessidade de buscar recursos no mercado”, disse Charles.

A lógica de construir uma empresa para vendê-la assim que possível, ficar rico e amargo, cheio de dinheiro, sem propósito, fingindo felicidade por não ter mais aquelas preocupações que na verdade é o que fazem as pessoas se moverem, existe. E move legitimamente muita gente. De tal forma que é de se apreciar a postura de quem enfrenta o futuro como quem cuida de uma fortaleza. E saber que a Fortaleza que se vê da rua é a mesma fortaleza que há dentro de cada um das que a constroem cotidianamente.

 

 

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