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Os riscos da exposição dos filhos nas redes sociais em casos de divórcio

A exemplo do "reality show" interativo que se estruturou em torno das redes sociais de Wesley Safadão e Mileide Mihaile, são trazidas questões sobre o prejuízos decorrentes da exposição
11:10 | Set. 15, 2018
Autor Lucas Braga
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Lucas Braga Repórter do O POVO Online
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Tipo Notícia
Neste ano, com o pedido de revisão de pensão do cantor Wesley Safadão ao filho Yhudy, 7, surgiram as reafirmações de preocupação com o bem-estar do menino. O processo, mesmo correndo em segredo de Justiça, era conhecido pelos seguidores do artista e da ex-esposa dele, Mileide Mihaile. 
 
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“O artista pretende, no que depender dele, preservar ao máximo Yhudy de toda essa exposição desnecessária e negativa para criança”, informou a assessoria do cantor, em junho. 

No fim de julho, o valor da pensão foi aumentado pela Justiça de 10 para 40 salários mínimos. Mas as acusações e desavenças que mantêm a criança no cerne não pararam. 
 

Certos usuários do Instagram, segundo Wesley, criam mentiras, difamam a imagem “da família e dos filhos”

[QUOTE1]Mais recentemente, a polêmica foi o suposto contato da criança com material indutor ao suicídio. Vídeos do YouTube relacionados, conforme a advogada de Safadão, foram encontrados no histórico de acessos. Já a mãe acusou o artista de enviar conteúdo pornográfico ao garoto. 
 
Mais uma vez, tudo foi minuciosamente relatado nas redes sociais, como se fosse imperativa a comprovação dos diálogos às legiões de fãs dos familiares do menino. A briga suscitou ainda mais opiniões debruçadas sobre a vida da família, que mais se assemelha a um reality show interativo. 

[SAIBAMAIS]A família chegou a se queixar em nota à imprensa, na última segunda-feira, 11, sobre o “bullying virtual e perseguições”, que “fazem mal”. Foram mencionadas agressões verbais e psicológicas.

supostos maus-tratos já foram questões pontuadas. Até o endereço de Mileide foi vazado.
 

Argumentos retrucados, holofotes, indiretas, disse-me-disse, disputas... A vida dos envolvidos vem sendo exposta nas redes sociais, levantando diversas questões, a respeito das quais O POVO Online consultou especialistas. 

Infância e tecnologia
Está mais difícil cuidar de crianças hoje em dia do que foi no passado, por conta da invasão da internet nos lares. A análise é da psicoterapeuta Virgínia Moreira, professora da Universidade de Fortaleza (Unifor) e pós-doutora em Medicina Antropológica pela Escola Médica da Harvard University, nos Estados Unidos. 

“As crianças são introduzidas à tecnologia muito cedo. Em idades iniciais, não fazem separação entre o real e o imaginário, de forma que a fantasia pode se tornar perigosa quando começam a seguir ordens de personagens que mandam fazer isso ou aquilo, o risco é altíssimo”, adverte. Ela, porém, ressalta que a fantasia, por si só, faz parte da infância.

Mesmo reconhecendo a utilidade e a importância dos gadgets tecnológicos, a especialista recomenda “um acompanhamento mais colado”, o cuidado dos pais. A redução da sociabilidade e até a obesidade podem ser consequências do uso excessivo desses aparelhos.

“Há adolescentes deixando de estudar e crianças deixando de brincar por conta da dependência no smartphone, por exemplo. Apesar de não ser uma patologia classificada, é necessário criar estratégias efetivas para intervir antes que isso vire um problema de saúde pública”, completa Virgínia.

A criança em meio ao divórcio dos pais
O divórcio nem sempre vai prejudicar a vida dos filhos do casal, segundo a psicanalista Rebeca Castro. Ela pondera as configurações familiares contemporâneas e seus conflitos. “É o modo de condução desse divórcio ou do casamento que vai definir se haverá prejuízos ou não", defende.

À luz da teoria do inglês D.W. Winnicott e da francesa Françoise Dolto, ambos pediatras e psicanalistas, Rebeca fala da importância do suporte dos pais para o desenvolvimento da saúde mental da criança. Dolto frisa que o filho precisa conviver com ambos os genitores e demais parentes. 

“Eles são responsáveis pela criação de um ambiente mais seguro e mais propício ao desenvolvimento das potencialidades de relacionamento e aprendizagem, por exemplo. Uma separação traumática entre as figuras de segurança e estabilidade emocional (os pais) pode prejudicar o filho. As consequências podem ser catastróficas. Adultos têm de ser bem orientados para que a questão não se arraste além do que é necessário, amenizando as dores”, completa a psicanalista. 

As especialistas concordam ao criticar a exposição de crianças durante conflitos como o divórcio. “É lastimável usarem a criança, manipulando-a”, analisa Virgínia. 

“Existem casos onde a criança vira moeda de troca, sendo usada em chantagem e jogo emocional entre o casal”, conclui Rebeca.

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