Os maiores perigos da automedicação
|Riscos|Existem diversos riscos que a automedicação ocasiona na população, como efeitos colaterais adversos e piora de quadros clínicos de saúde
Com rotinas cada vez mais aceleradas, muitas famílias têm negligenciado a ida ao médico e recorrem à automedicação como uma alternativa "mais fácil" de solucionar sintomas "leves", como dores de cabeça ou desconfortos abdominais.
O Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ) fez uma análise dos dados apurados pelo Conselho Federal de Farmácia (CFF) em 2024 e revelou um cenário preocupante: no Brasil, 86% dos entrevistados admitiram tomar medicamentos sem orientação de um prescritor.
O Brasil registra cerca de 20 mil mortes por ano devido à automedicação, de acordo com dados da Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas (Abifarma).
O farmacêutico Maurício Filizzola, presidente da rede de Farmácias Santa Branca e diretor da Confederação Nacional do Comércio (CNC) e do Sincofarma no Ceará, expressou grande preocupação com o uso crescente de medicamentos sem prescrição pela população.
O profissional atribui este aumento a diversos fatores, como: o maior acesso a consultas e diagnósticos, que resulta em um número elevado de prescrições; a cultura do alívio imediato de sintomas que a sociedade busca; e o estímulo ao uso excessivo de analgésicos, relaxantes musculares e até produtos controlados, como os ansiolíticos.
"Um ponto é a cultura da própria população, que busca, muitas vezes, um alívio imediato daquela sua situação. Então, vivemos essa lógica acelerada, onde as pessoas querem resolver os sintomas rapidamente, sem a necessidade, muitas vezes, de atacar a causa daquilo que está realmente por trás de um determinado problema de saúde. Isso, inclusive, estimula o uso excessivo de analgésicos, relaxantes musculares e até mesmo de produtos mais controlados, como os ansiolíticos", afirma o farmacêutico.
Clara Marques, de 19 anos, estudante universitária, experienciou uma situação perigosa de saúde devido à automedicação. Durante a pandemia, a estudante buscava alívio para fortes dores de cabeça.
Essa procura resultou em uma série de testes arriscados com medicamentos comuns, como nimesulida, paracetamol e dipirona, que provocaram graves e distintas reações alérgicas. O período pandêmico a impedia de ir a um médico de rotina, o que influenciou que essas tentativas frustradas continuassem.
Consequentemente, ela começou a sentir sintomas como inchaço facial e ocular e falta de ar, exigindo corridas urgentes ao hospital para evitar o fechamento da garganta. Após tantos efeitos colaterais, o aconselhamento médico levou a estudante à realização de um exame que diagnosticou uma intolerância a inúmeras substâncias.
"Fiz exame de alergia e nele constou, realmente, que eu tenho alergia a muitos medicamentos. Hoje em dia, não tomo mais remédio que eu não saiba que eu possa tomar com certeza", afirma Clara.
O que aconteceu com a universitária não é uma experiência incomum. Como afirmado anteriormente por Filizzola, o uso de medicamentos sem prescrição pode gerar consequências danosas, afetando diversas áreas da vida.
Os principais sintomas que podem ser causados são: redução de funções cognitivas e motoras (alguns medicamentos podem reduzir a atenção, o raciocínio, os reflexos e a memória); riscos de acidentes; impacto no desempenho diário; interações medicamentosas entre remédios distintos; e aumento do risco de saúde em grupos específicos.
Filizzola também reitera que a utilização contínua ou inadequada pode gerar problemas físicos e de dependência. Com o tempo, o organismo pode se tornar mais tolerante: por exemplo, um comprimido que antes resolvia uma dor de cabeça deixa de ser suficiente, levando ao aumento das dosagens.