Sedentarismo cognitivo: o seu cérebro precisa de estímulo

Sedentarismo cognitivo: o seu cérebro precisa de estímulo

|Tecnologia| Risco de sedentarismo cognitivo gera alerta sobre a dependência humana em relação às novas tecnologias

As tecnologias estão mudando nossa relação com o mundo e os hábitos do dia a dia. Tarefas simples, como anotar algo em uma agenda ou tirar um tempo para buscar uma informação, hoje são resolvidas em instantes.

Quem ainda consegue decorar números de telefone? Ou quem não usa um aplicativo para decidir a melhor rua para dobrar? Essas facilidades também geraram acomodação. E vem a pergunta: ficamos mais inteligentes com as tecnologias ou acontece o contrário?

O que se sabe até agora é que tudo depende do tempo e da forma como utilizamos as novas ferramentas disponíveis no mercado e também como nos desafiamos. A questão principal é não abrirmos mão do nosso poder criativo.

Em 2024, um estudo da Universidade de Toronto revelou que o uso de grandes modelos de linguagem e sistemas de IA generativos reduz a capacidade humana de pensar criativamente, resultando em ideias mais homogêneas e convencionais, com menos propostas inovadoras.

Os pesquisadores dizem que, embora essas ferramentas melhorem o desempenho no curto prazo, elas podem diminuir a capacidade humana de pensar de forma independente e criativa a longo prazo.

É nesse contexto que surge o termo sedentarismo cognitivo, que, segundo o neurocirurgião Luiz Bevilaqua, é a falta de estímulo intelectual necessário para manter o cérebro ativo, como aprender algo novo, resolver problemas ou desenvolver conversas aprofundadas.

"Esse conceito está ligado à neuroplasticidade, a capacidade do cérebro de criar novas conexões entre os neurônios ao longo da vida. Quando não exercitamos a mente, ela perde agilidade. Isso aumenta o risco de perda de memória, concentração e até de doenças neurodegenerativas, como o Alzheimer", explica.

Nesse caso, o especialista aponta pessoas com histórico de lesões cerebrais, cirurgias neurológicas ou em envelhecimento como o principal grupo de risco. Ele também destaca que, no Brasil, fatores como a desigualdade social e o acesso limitado a atividades educacionais podem ampliar esse problema.

"Rotinas sem estímulo, inatividade física, saúde mental fragilizada, envelhecimento, dependência de tecnologia e isolamento social são algumas das principais causas. As consequências, além da dificuldade cognitiva e seu declínio mais acelerado, manifestam-se com alterações emocionais, sintomas físicos e piora das condições neurológicas", diz.

O neurocirurgião destaca que, na intervenção médica, existem algumas abordagens para combater o sedentarismo cognitivo, especialmente em casos de declínio mental ou de condições neurológicas.

"Pequenas mudanças no dia a dia podem fazer uma grande diferença. Para casos mais graves, a medicina oferece soluções como a reabilitação cognitiva e técnicas avançadas de estimulação cerebral. Cuidar da mente é tão importante quanto cuidar do corpo, e o momento de começar é agora", conclui.

Como evitar o sedentarismo cognitivo?

Para o neurocirurgião Saulo Teixeira, o sedentarismo cognitivo vem gerando menor tolerância a esforço mental prolongado, dificuldade de planejar tarefas e até mesmo empobrecimento do repertório verbal.

"Ainda há muito a ser estudado neste campo, mas a tendência é que isso cause um prejuízo ao funcionamento do cérebro. Devemos lembrar que não estamos falando de demências, que têm motivos específicos, muitas vezes genéticos, e apresentações clínicas diferentes", lembra.

Fazer leitura ativa, buscar se concentrar nas informações, fazer planejamentos, percorrer caminhos sem GPS, dormir bem e usar dispositivos eletrônicos de forma consciente são algumas das dicas que o especialista sugere para evitar o sedentarismo cognitivo.

 

 Desafios e aprendizados melhoram o desempenho mental

 

A psicóloga Sabrina Romero de Oliveira Montenegro, que possui pós-graduação em Neuropsicologia e Reabilitação Neuropsicológica e Desenvolvimento Cognitivo, e é diretora franqueada da unidade Cocó do Supera, explica o impacto das mudanças provocadas pelas ferramentas tecnológicas disponíveis.

"Estamos em um momento particular com o advento da Inteligência Artificial no dia a dia. A grande questão é como podemos usar a tecnologia de forma consciente e benéfica, sem um alto custo social", acrescenta.

Na avaliação da especialista, precisamos ter cuidado para não delegar nossas funções cognitivas às inteligências artificiais e abrir mão da nossa criatividade. A psicóloga relata um estudo realizado pelo Massachusetts Institute of Technology (MIT) com 51 alunos, convocados para escrever alguns textos. Um grupo poderia utilizar IA, enquanto o outro teria que criar o texto sem nenhuma ajuda de inteligência artificial, utilizando apenas a memória. Em seguida, os alunos foram chamados para relatar o que escreveram. Durante o processo, a atividade cerebral dos participantes da pesquisa foi medida.

"A parte que utilizou IA não conseguia lembrar do que tinha escrito e a atividade cerebral tinha sido menor. Já aqueles que usaram apenas a memória falavam de forma elaborada sobre os textos e tinham uma atividade mental maior", reforça.

A psicóloga destaca que nosso esforço cognitivo é reduzido quando delegamos funções consideradas superiores, como a cognição. "É importante criar desafios para estimular nosso cérebro, que precisa ser permanentemente estimulado. É necessário socializar, fazer atividade física e exercitar a criatividade. Se não for dessa forma, ficamos sedentários".

A estimulação cognitiva envolve várias funções (memória, raciocínio e linguagem). Ela deve estimular as atividades como um todo. "O importante é ter algo que nos desafie. Algo que mexa no modo padrão. Tem que haver uma novidade: um idioma, um instrumento musical, algo que nos estimule". (Neila Fontenele).

Qualidade de vida

 

A ginecologista e obstetra Gelma Freitas Peixoto, de 67 anos, com uma carreira consolidada, resolveu estruturar um envelhecimento saudável. Após se aposentar de suas atividades em hospitais públicos, ela passou a desacelerar o ritmo de trabalho. Atualmente, faz atividade física e participa de programas de estimulação cognitiva pelo método Supera. "Quando me aposentar totalmente, pretendo continuar fazendo alguma coisa. É preciso cuidar da saúde física e mental como forma de prevenção e para evitar perdas futuras. Temos que nos manter ativos, manter a autoestima, a segurança e a autonomia", acrescenta a médica.

Aprendizado contínuo

A médica Nelsina Frota, de 70 anos, teve uma longa carreira como perita do INSS. Após a aposentadoria, continuou estudando e, atualmente, é acupunturista. "Nunca parei de estudar", afirma. A médica mantém uma rotina de cuidados pessoais que inclui atividade física e estimulação cognitiva. Ela conta que, no INSS, participou de um programa para o período pós-aposentadoria que alertava para a importância dessas atividades. Nelsina é uma leitora atenta e gosta de escrever cartas, hábitos que ajudam o cérebro a se manter saudável.

Grupos de socialização

A funcionária pública e professora aposentada Agamenilza Sales, de 73 anos, considera-se uma pessoa acelerada. Quando se aposentou, decidiu cuidar mais da sua casa e usufruí-la, algo que considera positivo. Mesmo assim, manteve-se ativa em grupos de bordado, hidroginástica, pilates e academia, além de participar de atividades de estimulação cognitiva com jogos e leituras, mantendo um bom nível de socialização. Todas essas atividades fazem parte de uma rotina de manutenção da saúde física e mental.

  

Exercite o seu cérebro

1. Exercício físico também estimula o cérebro


Pesquisas comprovam que atividades físicas aumentam as sinapses, criando mais conexões cerebrais. Os exercícios também ajudam na boa saúde cardiovascular, contribuindo para eliminar toxinas. Se for ao ar livre, ainda há o benefícios de uma melhor absorção de vitamina D.


2. Ativação da memória

Decorar textos enquanto caminha ou fazer outros movimentos é uma técnica para ativar a memória. Estudos mostram que essa técnica ajuda a reter mais informações. Por essa razão, não se iniba em dar pequenas caminhadas no quarto ou até mesmo em dançar enquanto lê para você mesmo um texto.


3. Boa alimentação

O controle do nível de glicose também é importante para a saúde cerebral; mas o prazer também deve estar inserido. Quando você se alimenta de algo que gosta, ocorre a ativação da área de recompensa do cérebro. E é por isso que você sente prazer em comer determinados alimentos. Apesar disso, é preciso cuidado e manter o equilíbrio é fundamental para o bem-estar da mente. Por essa razão, é recomendado uma dieta variada e saudável. São recomendados alimentos com ácidos graxos considerados essenciais que estão presentes em nozes, sementes, abacate bons para desenvolvimento cerebral, assim como o alecrim e o açafrão.


4. Relaxar também ajuda

O estresse tem seu vai para a liberação do hormônio cortisol que ajuda na concentração, mas o seu efeito por um período longo de tempo é considerado desconfortável e até tóxico para o cérebro. Por essa razão, é importante momentos de descanso, relaxamento e meditação.

5. Novos desafios

Novos desafios ajudam a estimular o cérebro. Aulas de arte ou cursos de idiomas aumentam a flexibilidade cerebral.


6. Estimulação musical

Também existem pesquisas que indicam que a música contribui para a melhora das conexões cerebrais, podendo melhorar a cognição de um modo geral. Portanto, participar de coral, aprender um instrumento musical ou ir a um show pode contribuir para uma melhor cognição.


7. Estudar na cama

Uma boa qualidade de sono é importante para a consolidação da memória. Portanto, estudar na cama, antes de dormir, pode ser bom para memorizar algo. Mas se você costuma ficar muito tenso antes de eventos como provas e apresentações, melhor não pressionar a memória e tentar não pensar no pensar no conteúdo antes de dormir.


8. Quebra-cabeças

O uso de quebra-cabeças, palavras cruzadas ou sudoku também ajuda a estimular o pensamento mais estratégico e a desenvolver a capacidade de solucionar problemas.

9. Leitura e escrita

A rotina de leitura de livros e jornais também ajuda na estimulação cerebral. Já o processo de escrita também contribui para o treino de memória.

10. Jogos de cartas

É um ótimo exercício e desafio mental, ajudando também no convívio e social.

11. Artes manuais

Trabalhos manuais como pintura, desenho, tricô também estimulam a criatividade e os raciocínio.

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