Preconceito e falta de informação contribuem para diagnósticos tardios de TEA

Estima-se que cerca de 2 milhões de brasileiros estão dentro do espectro autista, e muitos têm procurado diagnóstico na fase adulta

O mês de abril é dedicado à conscientização do Transtorno do Espectro Autista (TEA). No Brasil, no entanto, ainda não existem dados oficiais e atualizados sobre a prevalência do transtorno. Estima-se que cerca de 2 milhões de brasileiros possam ser afetados, segundo o CDC (Center of Deseases Control and Prevention). Nesse cenário, muitos casos são diagnosticados tardiamente no País, o que pode resultar no comprometimento da qualidade de vida e dificultar o acesso a intervenções terapêuticas.

O autismo é um transtorno de neurodesenvolvimento que se caracteriza principalmente pela dificuldade de comunicação social, padrões de comportamento repetitivos e interesses restritos.

O transtorno se manifesta na infância e acompanha o indivíduo por toda a vida, e a detecção o mais cedo possível é vital para que o paciente tenha o acompanhamento e suporte adequados.

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Segundo a psicóloga Mariana Brandão, nos últimos anos houve um aumento expressivo da busca do diagnóstico por adultos, principalmente no período após a fase aguda da pandemia.

“E isso não quer dizer que a incidência do TEA aumentou, mas que há mais acesso à informação que permite que esses indivíduos hoje busquem um diagnóstico assertivo”, afirma a psicóloga.

Algumas das dificuldades relacionadas à comunicação que esses adultos podem apresentar são a de interpretar expressões faciais e outros sinais não verbais, entender ironias e piadas ambíguas, de receber e mostrar afeto e lidar com sentimentos, entre outras.

Porém, muitos indivíduos não diagnosticados aprendem a esconder esses sintomas.

“Quando nós falamos sobre buscar esse diagnóstico o mais cedo possível, estamos falando de fazer com que isso abra portas para um cuidado mais assertivo, para que esse sujeito tenha mais qualidade de vida”, explica Mariana.

Autismo: dificuldades mascaradas

A artesã Ana Karynne Magalhães, 39, só recebeu o diagnóstico aos 34, após a filha dela ser diagnosticada. Criada em uma família onde as dificuldades de comunicação eram normalizadas, ela nunca foi avaliada na infância.

“Quando eu comecei a perceber algumas características na minha filha, minha mãe dizia: ‘Isso não é nada, porque você também era assim, seu pai era desse jeito’. Eu tenho parentes próximos não diagnosticados com todas as características de autismo.”

Outro fator que dificultou a procura por uma avaliação foi o desconhecimento dos profissionais. Ana conta que chegou a escutar de um psiquiatra que era apenas “preguiçosa” quando procurou ajuda pela dificuldade de ir à faculdade.

Ela acredita que a maioria dos profissionais estão procurando apenas atrasos de fala e desenvolvimento em crianças, sem entender como o transtorno se manifesta na fase adulta.

“Eu acho que falta aquela sensibilidade de entender que cada fase da vida da gente, socialmente, tem uma dificuldade diferente. As dificuldades que eu enfrento para interagir com as pessoas e as habilidades que eu tenho no meu cérebro hoje não são as mesmas que eu tinha quando eu tinha 3 anos de idade”, diz Ana.

Para a empreendedora Kassiane Costa, 37, a suspeita do autismo também veio após o diagnóstico do filho, em 2017. Ela diz que passou a seguir vários adultos autistas nas redes sociais para entender melhor as experiências do filho e começou a se identificar com os relatos deles.

Ela conta que, na escola, as dificuldades do TEA podem ter passado despercebidas devido ao rendimento acadêmico dela. “Sempre fui avançada na escola. E eu me sentia muito impostora porque eu não me considerava uma pessoa inteligente, mas eu tinha muita facilidade de identificar padrões.”

Para aqueles que não tem certeza se devem procurar uma avaliação de autismo, Kassiane afirma que o diagnóstico faz toda a diferença. "É bem libertador você entender como você se sente, perceber que não é má vontade. Eu fazia um esforço mental muito grande e hoje eu não me cobro mais por isso, eu me respeito muito mais.”

 

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