Varíola dos macacos: há risco de pandemia? O que fazer se caso for confirmado?

Brasil tem três casos suspeitos, um deles no Ceará

Com o risco de introdução da varíola dos macacos no Brasil, que investiga três casos suspeitos, aumenta o receio da população da ocorrência de uma nova pandemia além da Covid-19 — que ainda não acabou. Conforme especialistas em infectologia e virologia, é possível que o número de casos aumente, mas é improvável que varíola dos macacos atinja as proporções do Sars-Cov-2. Foco deve ser no isolamento dos casos confirmados. 

Um dos casos suspeitos é de Fortaleza. Há ainda um em Santa Catarina e outro no Rio Grande do Sul. Conforme o Ministério da Saúde, os três pacientes estão em isolamento e sob monitoramento. Um caso só é confirmado ou descartado após resultado laboratorial por teste molecular (qPCR e/ou sequenciamento). 

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Diante situação, não se faz necessária nenhuma mudança prática para a população em geral. Essa é a avaliação do infectologista Guilherme Henn, mestre em Saúde Pública/Doenças Infecciosas e Parasitárias e professor da Universidade Federal do Ceará (UFC). "As pessoas que tiveram contato direto com os casos suspeitos devem se auto-isolar e informar as autoridades sanitárias sobre o surgimento de sintomas", diz.

A virologista e epidemiologista, Caroline Gurgel, professora do Departamento de Saúde Comunitária da UFC, frisa a necessidade de isolamento por 21 dias. "Diferente da Covid-19, essa doença demora bem mais para apresentar os seus sintomas. A gente precisa de um rigor maior em relação a manter esse isolamento", alerta.

Para os professora, a varíola dos macacos dificilmente se tornará uma pandemia. Isso porque a doença é menos transmissível, menos patogênica (causa doença com menos frequência) e menos virulenta (tem potencial menor de gravidade e letalidade) que a varíola humana, erradicada no final da década de 1970, explica Henn. Segundo ele, "é mais provável que surjam surtos localizados".

"A transmissão é muito mais lenta e por meio de contato mais próximo e prolongado com a pessoa infectada, diferente da Covid-19", compara Gurgel. Ela detalha que o monkeypox não apresenta tanta variação quanto o  Sars-Cov-2. "Temos uma grande família de vírus de DNA, chamada Poxviridae. Diferente da Covid, que era de RNA, esse vírus é muito mais estável. Então, não tem a probabilidade de ter mutações, variantes". 

Para a virologista, a vacinação é "a estratégia mais racional" para enfrentar a varíola utilizando, inclusive, a mesma formulação do imunizante aplicado contra a varíola humana. Com a erradicação desta doença, a vacinação deixou de ser realizada. "Já tem estudos confirmando que as pessoas que foram vacinadas há 50 anos têm imunidade contra a monkeypox. Os idosos não precisam mais receber. O foco é crianças e adultos jovens, que não receberam."

Por outro lado, o infectologista Guilherme Henn avalia que uma campanha de vacinação em massa "depende da evolução epidemiológica da monkeypox". "Por via das dúvidas, a Organização Mundial da Saúde entrou em contato com o laboratório que detém a tecnologia para fabricação da vacina contra a varíola para avaliar a possibilidade de produção em larga escala", afirma.

Ele diz ainda que "não é possível ter certeza" que as pessoas vacinadas há mais de quatro décadas ainda estão imunizadas. "Embora se imagine que sim, pela semelhança entre os dois vírus, não há estudos conclusivos ainda. Além do mais, a vacina para varíola humana deixou de ser administrada em 1980, e não se sabe se 40 anos depois ela ainda garantiria imunidade contra um vírus um tanto diferente daquele para o qual a vacina foi desenhada", contrapõe. 

 

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