Mãe, uma figura supervalorizada?

Autor DW Tipo Notícia

"Todo cuidado é pouco ao escolher seus genitores", diz um psicólogo espirituoso. Relação mãe-filho é colocada acima de tudo, mas para alguns basta uma "figura de apego". E outras culturas adotam modelos bem diferentes.Amor de mãe, língua materna, Mãe Terra: mãe, só tem uma! A ligação entre as crianças e sua progenitora é considerada uma base muito especial para o desenvolvimento humano, contribuindo para a formação de um senso de confiança primordial. É certo que ambos os genitores podem criar uma relação estreita com o filho, porém no inconsciente coletivo, sobretudo no Ocidente, está gravada a imagem da mãe desvelada, estabelecendo uma ligação indelével e insubstituível. Claro que também existem "mães desnaturadas", e nem todos têm um relacionamento ideal com a sua, porém em geral são elas que protegem a criança desde o início, desde primeiro contato físico, o assim chamado bonding, logo após o nascimento. Uma mãe percebe as necessidades do filho, que encontra consolo e segurança junto a ela. "Uma mãe é a única pessoa do mundo que te ama antes de te conhecer", postulava já no fim do século 18 o pedagogo suíço Johann Heinrich Pestalozzi. Que lindo, combina tão bem com o Dia das Mães! Teoria do apego como base da segurança emocional O método educacional segundo o qual a mãe, como pessoa de referência mais importante e toda a vida, responde a todas as necessidades da criança, se origina na teoria do apego ou da vinculação, elaborada pelo psicanalista e psiquiatra infantil inglês John Bowlby (1907-1990). Sobretudo no Ocidente ela é considerada o padrão-ouro da pedagogia. Ele examinou sistematicamente internos de orfanato que apresentavam distúrbios de desenvolvimento. Entre muitos escolares e jovens ladrões com disfunção comportamentais, constatou vínculos maternos precoces profundamente fraturados, devido à separação da mãe. Bowlby definia "apego" como um laço emocional duradouro com indivíduos específicos, não livremente intercambiáveis, cuja proximidade a criança procura quando não consegue processar de modo autônomo dor, medo ou sensação de perda. A figura de apego é aquela a que ela recorre, por exemplo, quando cai da gangorra, ou cujo afastamento a faz chorar especialmente. Tal conexão íntima se cria ao longo de um ano, aproximadamente, explica o psiquiatra infanto-juvenil Karl Heinz Brisch, da Universidade Particular de Medicina Paracelsus, de Salzburgo, adepto da teoria. Entre as características de uma figura de apego está um caráter sensível, que reage às emoções infantis, prossegue Brisch. Passar tempo juntos não basta: só alguém atencioso é capaz de consolar uma criança em prantos e encontrar a forma adequada de agir. Enfim: a imagem perfeita da mãe devotada. "Todo cuidado é pouco ao escolher seus genitores" No entanto, essa abordagem também está sujeita a ressalvas. Em seu livro The myth of attachment theory – A critical understanding for multicultural societies (O mito da teoria do apego – Uma compreensão crítica para sociedades multiculturais), a psicóloga da Hebrew University de Jerusalém Heidi Keller critica, entre outros, o fato de, no Ocidente, lhe ser conferido um caráter universal. Afinal, em muitas culturas não é comum os pais terem a responsabilidade exclusiva sobre as crianças: também parentes, avós, irmãos e vizinhos representam um papel importante, neonatos e bebês são logo integrados em redes de relações mais amplas e ficam a seus cuidados. Na experiência de Keller – que ao longo de décadas conviveu com diversas culturas da Índia, Estados Unidos, África, América do Sul, Europa e Oriente Médio, em metrópoles e aldeias –, o fator decisivo para um desenvolvimento emocional saudável é receber suficiente amor e atenção, que não precisa necessariamente ser dos genitores. O contato com outros, além disso, promove a valiosa capacidade de adquirir e ampliar as aptidões sociais. O psicólogo Paul Watzlawick (1917-2001) escreveu certa vez, com ironia bem-humorada: "Todo cuidado é pouco ao se escolherem seus genitores". Afinal, a figura de referência ou vinculação na idade mais tenra tem uma responsabilidade marcante, já que muitas doenças psíquicas se originam na infância. Karl Heinz Brisch confirma que os pequenos priorizam, geralmente elegem uma ou dias figuras de apego, e "hierarquizam, de acordo com quem lida de maneira mais sensível com eles". E não precisa ser nem o pai, nem a mãe: "Apego não tem nada a ver com parentesco biológico", afirma o psiquiatra infantil. Enfim, por mais decepcionante que pareça, ainda mais no Dia das Mães: a noção de que as crianças tenham mais afinidade emocional com os parentes de sangue carece de qualquer fundamento científico. Autor: Alexander Freund

Dúvidas, Críticas e Sugestões? Fale com a gente

Os cookies nos ajudam a administrar este site. Ao usar nosso site, você concorda com nosso uso de cookies. Política de privacidade

Aceitar