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Ceará é o quinto estado do Nordeste com mais internações do SUS em 2019

A maioria do público brasileiro que precisou da internação é de homens pretos ou pardos entre 18 a 29 anos. Pessoas pretas (75,9%) e pardas (73,6%) utilizaram três vezes mais as internações públicas do que pessoas brancas (53,6%)

Um total de 6,6% da população brasileira - 13,7 milhões de pessoas - ficaram internadas em hospitais por 24 horas ou mais - e desses, 64,6% utilizaram o Sistema Único de Saúde (SUS). Com o Nordeste sendo a região com maior índice de atendimentos públicos no País (77,8%), o Ceará foi o quinto estado da região que mais utilizou o SUS para internamentos durante o período, marcando 75,7%. Os dados foram divulgados hoje, 4, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e pelo Ministério da Saúde (MS), através da Pesquisa Nacional de Saúde.

A maioria do público brasileiro que precisou da internação é de homens pretos ou pardos entre 18 a 29 anos. Pessoas pretas (75,9%) e pardas (73,6%) utilizaram três vezes mais as internações públicas do que pessoas brancas (53,6%).

 

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Para o médico Érico Arruda, a herança de um passado escravagista no Brasil concentra a renda em pessoas brancas, refletindo-se inclusive em quem mais usa o sistema de internações: pessoas pretas ou pardas e nordestinas. "Nós estamos falando de aspectos que se relacionam com a renda. Quanto ganha em média a população? Qual a qualidade de higiene em sua vida? O espectro de natureza socioeconômica é que vai definir qual o grau de dependência do SUS. É compreensível que o Norte ou Nordeste dependam muito mais do que outras regiões", cita.

A questão socioeconômica brasileira novamente influencia os índices da pesquisa: quanto menor o nível de instrução do usuário, maior foi a proporção de uso. Pessoas sem instrução e com o ensino fundamental incompleto utilizaram três vezes mais o serviço de internamento público do que pessoas com o superior incompleto. Das pessoas que se internaram no SUS, 95% delas tinham rendimento de até 1/4 do salário mínimo. Pessoas com mais de 5 salários mínimos corresponderam a 6,8% da proporção.

Na região rural, as internações via SUS também foram mais frequentes (85,9%) do que as registradas na área urbana (61,4%). "Quando pensamos em um indivíduo que está em uma comunidade do interior ou em um município pequeno, ele provavelmente se internou no SUS. Volto a analisar dentro de um contexto socioeconômico", destaca Érico.

 

A situação do SUS também se relaciona com os índices de saúde em planos particulares. A mesma pesquisa mostra que um total de 59,7 milhões de pessoas (28,5% da população) pagaram algum plano de saúde no País, enquanto o nordestino é um dos públicos que menos financiam o complemento. "Em situações de alta complexidade, a necessidade muitas vezes inclui o paciente dentro do Sistema. Quando se pensa no transplante de fígado, muitas vezes o procedimento dentro de um hospital privado é custeado pelo SUS, pois os sistemas complementares se esquivam e não cobrem", relaciona.

O SUS é a principal porta de entrada de atenção à saúde pública no País e possibilita o atendimento de diversos serviços, de atendimentos primários a transplantes de órgãos. O sistema surgiu com a constituição de 1988, mas Érico ainda se surpreende ao atender fichas de pacientes antigos no Hospital São José, onde atua, quando o Sistema ainda não havia sido implementado. "Quando recuperamos o documento, a gente vê a identificação que existia antes do SUS: quem era trabalhador rural ou autônomo era visto como alguém que não pagava pela assistência. É uma chancela muito simbólica", cita.

O especialista aponta três pilares de formação do sistema: quantidade de pessoas utilizando o serviço, financiamento e distribuição do atendimento. Quanto mais pessoas utilizando o serviço de uma vez só, mais dificuldades são encontradas ao prestar a assistência. "O exemplo da Covid-19 foi algo que nos trouxe a esse debate de forma cruel e angustiante", relembra. "Com pouco financiamento, como o sistema trabalha?"

Érico ainda reforça a importância de se ter uma saúde primária de qualidade para desafogar o último ponto de atendimento: o hospital público. "Se eu tenho um bom atendimento no posto, agentes de saúde visitando as famílias e resolvendo a maioria dos problemas [que seriam destinados ao hospital], eu desafogo essa unidade", analisa.

Para o médico, a população precisa compreender e valorizar a existência desse sistema e lutar para melhores financiamentos. "Veja a quantidade de pessoas que precisam e para aonde vão no SUS. É preciso alertar que reivindiquem de seus direitos", declara.

 

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