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Pesquisa busca interromper a transmissão da hanseníase em Fortaleza e Sobral; Ceará registrou 1.889 casos da doença em 2019

A Capital e o município de Sobral lideram o ranking do Estado com 455 e 84 casos, respectivamente. O projeto realizado pela ONG NHR Brasil alcançará 200 mil pessoas no Ceará
12:38 | Mar. 05, 2020
Autor Lais Oliveira
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Lais Oliveira Estagiária do O POVO Online
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Tipo Notícia

As manchas na pele características da hanseníase podem passar despercebidas pela maioria das pessoas, mas a doença é capaz de deixar sequelas físicas irreversíveis. No Ceará, foram notificados 1.889 casos de hanseníase em 2019, segundo balanço parcial da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Um projeto realizado pela ONG NHR Brasil que procura interromper a transmissão da doença foi lançado na última quarta-feira, 4, e terá aplicações em Fortaleza e Sobral.

O número de casos teve um aumento de 11% em relação ao ano passado, quando o Estado registrou 1.700 notificações. De acordo com a Sesa, Fortaleza e Sobral lideram os números com 455 e 84 casos, respectivamente. Os dados ainda devem ser fechados oficialmente no dia 31 de março.

Justamente considerando suas altas endemicidades, Sobral e Fortaleza foram selecionados para participar do projeto “PEP++: Interromper a Transmissão da Hanseníase”. Na Capital e no município, 200 mil pessoas participarão da pesquisa, que está sendo realizada pela ONG NHR Brasil e se baseia na profilaxia para pessoas próximas de pacientes da hanseníase, chamadas de “contatos”.

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De acordo com o epidemiologista e diretor nacional da NHR Brasil, Alexandre Menezes, a pesquisa utiliza uma combinação de antibióticos que será ministrada em três doses no total, uma a cada 29 dias. “Já existem evidências a partir de outras pesquisas feitas pelo mundo que apenas a rifampicina, um dos antibióticos usados, protege cerca de 57% contra a doença. Esperamos que, com a adição desse novo antibiótico, a claritromicina, a cobertura aumente para 80%”, avalia.

A hanseníase é uma doença infectocontagiosa crônica causada pela bactéria Mycobacterium leprae e afeta, principalmente, a pele e os nervos de mãos, pés e olhos. Araci Pontes, diretora técnica do Centro de Dermatologia Sanitária Dona Libânia, referência no tratamento da doença no Estado, destaca que o período de incubação da bactéria pode levar de dois até dez anos. 

Isso significa que o aparecimento dos sinais da doença pode se manifestar bastante tempo após a bactéria estar alojada no organismo. “Os principais sintomas são manchas de qualquer cor e em qualquer parte do corpo, com diminuição da sensibilidade ao calor e ao toque (dormência)”, alerta Araci.

Muitas vezes, por falta de informação, pacientes infectados não-diagnosticados acabam transmitindo a hanseníase sem perceber por meio de gotículas de salivas, espirro ou tosse. O dermatologista Marco Túlio, do Hospital Universitário Walter Cantídio, ressalta que o diagnóstico precoce é indispensável no tratamento da doença.

Segundo ele, a cura pode ser completa se a hanseníase for identificada mais cedo. “É importante ter o diagnóstico precoce para evitar as sequelas, que vão desde a dificuldade em fechar os olhos até perda da visão, além de sequelas neurológicas e comprometimento das mãos e pés”, finaliza.

Interromper a transmissão

Os trabalhos do projeto “PEP++: Interromper a Transmissão da Hanseníase” em Fortaleza e Sobral começaram em 2018 com o mapeamento da população sob risco de ter hanseníase. Alexandre Menezes diz que, ao fim de um período de cinco anos, a expectativa é que aconteça uma queda de 50% no número de novos casos de hanseníase dentro das áreas do projeto. "Esperamos uma eliminação da doença enquanto problema de saúde pública e interrompimento da transmissão nesses locais", considera.

Os primeiros contatos em Sobral e Fortaleza receberão nesta quinta-feira e sexta-feira, dias 5 e 6 de março, uma dose simbólica em eventos da NHR Brasil. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Brasil fica atrás apenas da Índia no ranking mundial de hanseníase, contabilizando mais de 28 mil casos anualmente.

O projeto visa alcançar mais de 600 mil contatos de pessoas acometidas pela hanseníase nesses dois países e na Indonésia. Os três países concentram 80% dos novos casos de hanseníase. O financiamento foi feito pela Loteria Nacional Holandesa por meio do Fundo dos Sonhos.

Assistência no Ceará

No Ceará, a cobertura do programa de prevenção e combate à hanseníase está acima de acima 80%, conforme assegura Gerlania Martins, assistente social do Núcleo de Vigilância Epidemiológica da Sesa. “A maioria dos municípios já tem profissionais treinados. Quando o município é muito pequeno, tem de ter pelo menos uma equipe capacitada. Estamos tentando organizar essa rede para dar mais suporte e agilidade ao diagnóstico e aos pacientes que procuram o serviço”, explica.

A técnica acrescenta que sempre no primeiro mês do ano, a Sesa realiza o Janeiro Roxo, campanha em referência ao dia 26 de janeiro, considerado como Dia Mundial de Combate à Hanseníase. Hoje o tratamento contra a hanseníase é oferecido nos postos da rede básica do Sistema Único de Saúde (SUS) e consiste em doses de poliquimioterapia que podem ser administradas no período de seis meses a um ano. A duração do tratamento depende do estágio da doença.

Sintomas e prevenção

- Não existe ainda uma vacina específica para a hanseníase. O diagnóstico e tratamento precoce de todos os pacientes é a melhor forma de prevenção;

- Observe manchas brancas, avermelhadas ou cinzentas que aparecem na pele. A cor pode variar dependendo do tom de pele das pessoas. Nódulos e caroços podem ser identificados em estágios mais avançados da doença. A principal caraterística da hanseníase é alteração de sensibilidade na mancha ou no entorno da mancha dérmica;

- Se você convive ou conviveu de forma prolongada com alguém diagnosticado com hanseníase antes de iniciar o tratamento, procure a Unidade Básica de Saúde (UBS) mais próxima para verificar qualquer sinal ou sintoma da doença;

- Após descartada qualquer suspeita de hanseníase, os contatos podem receber uma dose da vacina BCG, que apesar de não ser específica para hanseníase, proporciona melhora da defesa contra o bacilo responsável pela doença;

- O tratamento está disponível nos postos de saúde, através das equipes do Programa de Saúde da Família. É feito com comprimidos, distribuídos de forma totalmente gratuita, e proporciona a cura da doença. Quando o diagnóstico é precoce e o tratamento adequadamente seguido, a hanseníase não deixa sequelas e ou complicações.

 

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