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Bebê nasce saudável após mãe tratar doença "incurável" com óleo de cannabis

Caso aconteceu em Maceió (AL). Brisa Flor nasceu na sexta (17), sem sequelas e pesando quase quatro quilos
11:41 | Jan. 21, 2020
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Tipo Notícia

“Sem cura”. Foi o que o casal Eline Santos e Maxi Queiroz, de Penedo (AL), ouviu do obstetra sobre a situação da sua filha, ainda no útero. O feto havia desenvolvido uma doença rara chamada Malformação Adenomatoide Cística de grau 3 (MAC/3), o mais severo. A única solução proposta foi uma cirurgia, realizada somente em São Paulo, que tem chances de sucesso de uma em mil. A enfermidade, que afeta os pulmões, o coração e o fígado, é considerada letal: o médico informou que 99% das gestações não chegam ao sétimo mês e, após o nascimento, a expectativa de vida é de no máximo dois dias.

Sem esperanças de recuperação pelos métodos habituais, o casal buscou soluções alternativas. Maxi havia se curado de um linfoma, dois anos antes, tendo a maconha como parte do tratamento. Decidiram então utilizar a planta para tentar solucionar o problema. Primeiramente Eline utilizou uma “tinta”, solução de tetrahidrocanabiol (THC) em álcool. Em seguida, já com o acompanhamento de um médico especializado em tratamentos com canabinoides, passaram a usar o óleo de canabidiol. As duas substâncias são os mais importantes princípios ativos da maconha.

Uma ultrassonografia realizada em dezembro de 2019 mostrou que os sintomas haviam sumido. Como consequência, apenas um pulmão menor que o outro, mas o bebê não apresentava mais os cistos nos órgãos, característicos da doença. Após o nascimento, na última sexta-feira, 17, em Maceió (AL), a criança foi encaminhada à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) neonatal pelo fato de a gravidez ser considerada de risco, mas não necessitou de nenhum tipo de atenção especial.

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Tratamentos inviabilizados

Para Italo Coelho, advogado membro Rede Jurídica pela Reforma da Política de Drogas, ainda existem empecilhos para garantir que casos como esse possam ser devidamente tratados: “Somente psiquiatras, neurologistas e neurocirurgiões podem prescrever medicamentos à base de cannabis para crianças, segundo resolução do Conselho Federal de Medicina (CFM), e apenas se todos os outros métodos houverem sido tentados”. Segundo ele, a resolução contraria o próprio código de ética da categoria, que determina que paciente e médico têm a liberdade para escolher o melhor tratamento para cada caso.

Italo afirma ainda que a proibição da maconha e de outras substâncias com potencial medicinal dificulta várias situações. Pesquisadores, com acesso limitado, não podem desenvolver medicações e descobrir novos usos. Pacientes, por sua vez, acabam realizando os procedimentos terapêuticos de maneira clandestina, sem controle de qualidade e frequentemente sem o acompanhamento adequado. Ele orienta que pessoas que tenham problemas de saúde e considerem o uso da cannabis como tratamento devem procurar a Defensoria Pública ou advogados particulares que tenham experiência nessa questão.

O médico fitoterapeuta Igor Maia, que trabalha o uso da cannabis no tratamento de doenças, concorda que há obstáculos para se investigar o assunto. “A proibição nos freia justamente por dificultar os estudos que nos permitiriam saber mais do potencial da planta”. Ele pontua que a maioria das pesquisas foca em usos neurológicos e anestésicos da maconha, mas há muitos efeitos que precisam ser mais bem conhecidos, como regulação do sono, digestão e circulação de sangue, e que comunidades tradicionais já usavam a cannabis em situações como parto ou asma.

Maia defende que “haveria muito mais estudos, sobre várias outras condições, caso tivéssemos um governo que de fato cuidasse de seu povo, em vez de criminalizar práticas milenares de cura”. Para o médico, é necessário inserir o uso medicinal da cannabis na saúde pública “e lutar para ampliar a prescrição para a atenção primaria, que é onde se atende à grande demanda de nossa população”. Ele conclui afirmando que “a criminalização só afasta as pessoas da real informação sobre a planta”, e que há muitos casos em que indivíduos são presos por utilizarem maconha com fins terapêuticos.

O caso de Brisa Flor, como foi batizada a criança, mostra que é necessário pesquisar mais sobre os usos medicinais da cannabis. Exames clínicos realizados após o parto confirmaram que ela está saudável e sem complicações. Segundo Maxi, até a equipe da maternidade não consegue acreditar no que aconteceu. “As pediatras estão abismadas, me pediram o contato do médico que acompanhou o tratamento”, afirma. No dia seguinte ao nascimento, a criança foi transferida da UTI para o berçário, onde segue sob observação até o fim desta semana.

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