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"Desafio do Desodorante": saiba como pais podem proteger filhos de brincadeiras perigosas

O POVO Online procurou profissionais para falar sobre o assunto e formas de prevenir as crianças dos riscos que práticas promovidas como brincadeiras podem gerar
14:20 | Fev. 08, 2018
Autor Carlos Holanda
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Carlos Holanda Repórter
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Tipo Notícia

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Brincadeiras de autodesafio têm se disseminado pela Internet, sobretudo no YouTube. Pesquisa de autoria da doutora Juliana Guilheri revela que, em 2010, existiam 500 vídeos relacionados a jogos de asfixia, por exemplo, no site. Agora, em 2018, são 24 mil conteúdos somente sobre "jogos" de não oxigenação.

[SAIBAMAIS]O mais recente desafio envolve um desodorante. A atividade consiste no inalo do produto pelo maior tempo que a pessoa conseguir suportar. A brincadeira vitimou Adrielly, uma menina de 7 anos, moraradora de São Bernardo do Campo, em São Paulo. Ela espirrou o spray na boca, segurou o ar e passou mal na mesma hora. O caso aconteceu no último sábado, 3.

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O POVO Online procurou profissionais para falar sobre o assunto e formas de prevenir as crianças dos riscos que práticas promovidas como brincadeiras podem gerar. O psicólogo e membro da Liga de Neurologia e Psiquiatria Infantil da Universidade Federal (UFC), Daniel Franco, afirma que proibir o acesso das crianças à Internet não é o caminho.

Proibições não

Conforme o psicólogo, qualquer atitude proibicionista relacionada à Internet não é saudável, uma vez que inibe a possibilidade de a criança entrar em contato com conteúdos positivos para a sua educação. "A Internet tem muita coisa boa, mas assim como qualquer atividade que a criança vai desenvolver, ela precisa ser supervisionada e mediada", afirma Franco, lembrando que o conselho vale para todos os âmbitos da vida infantil.

Controle dos pais

Uma alternativa dada por ele é a de que os pais façam do uso monitorado da Internet um momento lúdico entre pais e filhos, o que não precisa acontecer sempre, mas eventualmente. "É a oportunidade que os pais têm de orientar. É uma oportunidade de educar", afirma o profissional.

Visita ao histórico

Nos momentos em que os pais não estiverem presentes, Franco aconselha uma visita ao histórico, a fim de saber que tipo de conteúdo foi consumido naquele instante. Por mais invasiva que a prática possa ser, "são crianças e é preciso olhar o que elas estão fazendo". Em caso de a criança ter apagado o histórico, ele avalia que uma conversa sobre o assunto é necessária.

Aplicativos

A tecnologia é considerada uma ferramente útil no combate aos perigos que a própria tecnologia é capaz de oferecer. Franco aconselha aplicativos de monitoramento dos filhos. Um citado por ele é o Watchover. "São ferramentas que auxiliam os pais". Ele informa que em lojas de aplicativo tem vários destes.

Papel da escola

"A escola também tem que orientar, até porque a própria sugere o uso da internet para fins de pesquisa". Além da pesquisa, o psicólogo entende que a criança usa a internet para outros dois fins: jogar e se comunicar. Por isso, ele afirma que a escola deve, mais uma vez, fazer a sua função educativa.

Diferenças entre as brincadeiras

Franco explica que a atual brincadeira do desodorante, bem como o desafio da asfixia em nada têm a ver com o jogo da Baleia Azul. Ao passo que um jogo necessita de um jogador disposto a morrer, outro pretende testar os limites do corpo, como se fosse uma prova de que o jogador, quando bem sucedido, é "superior a morte".

Instituto Dimi Cuida

Em Fortaleza, o Instituto Dimi Cuida, localizado na Avenida Santos Dumont, no bairro Aldeota, trabalha especificamente com a prevenção à brincadeiras perigosas. Foi criado em 2014 para a prevenção de brincadeiras perigosas. É o primeiro do País.

O instituto nasceu a partir do "jogo do desmaio", onde o jovem Dimitri Jereissati, de 16 anos, teve uma experiência fatal. Ele foi encontrado enforcado em cima de sua cama pelo irmão mais velho após ter uma experiência mal sucedida com o desafio. "Fizeram toda uma investigação e chegaram à conclusão de que não foi suicídio. Estava provocando o enforcamento para curtir a sensação de não morrer", explica Franco.

Ao O POVO Online, a psicóloga e membro do Instituto, Fabiana Vasconcelos, informa que nos anos subsequentes ao da morte de Dimitri, tiveram outros casos no Brasil. Foram mais dois casos em Fortaleza e um Recife. No Brasil, ela precisa 21 casos.

O trabalho do Dimi Cuida é centrado em três pilares: conhecimento, compreensão e prevenção das brincadeiras perigosas. "O 'conhecer' é porque a maioria dos adultos que trabalham com crianças e adolescentes estão sem saber da prática".

Já sobre o "compreender", ela cita a importância de todas as pessoas envolvidas, pais, responsáveis e professores, estarem cientes do fênomeno das brincadeiras perigosas. Para reforçar seu argumento, ela menciona uma pesquisa científica de autoria Juliana Guilheri, que revela que 40% dos entrevistados pelo trabalho já tinham praticado brincadeiras de não oxigenação.

A prevenção vem com a Oficina do Brincar. "A Oficina é um convite das instituições quando a escolar percebe que existe uma necessidade de esclarecer brincadeiras. A gente conversa sobre todos tipos de brincadeiras, off e online, para que a criança chegue numa conclusão, ela mesma, de que não deveria brincar com aquilo", explica Fabiana. "Estamos numa era onde a socialização online, sobretudo nas plataformas de vídeo, são consideradas muito importantes por crianças e adolescentes. Essa disseminação só tem aumentado", alerta Fabiana.

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