Arcebispo de São Paulo proíbe transmissões de misssas do padre Júlio Lancellotti
Arquidiocese também interrompeu atividades em redes sociais; Decisão gera revolta entre fiéis, que apontam censura. Padre nega ter havido transferência de paróquia
O cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Odilo Scherer, ordenou a suspensão das transmissões de missas ao vivo e a interrupção das atividades em redes sociais do padre Júlio Lancellotti. A decisão foi comunicada pelo próprio sacerdote no último domingo, 14, durante uma celebração que estava sendo transmitida.
A justificativa para a ordem seria proporcionar um período de "recolhimento e proteção" para o religioso. O padre Júlio Lancellotti, que atua há mais de 40 anos na paróquia de São Miguel Arcanjo, na Mooca, em São Paulo, afirmou que, diante da diretriz, caberia a ele "apenas obedecer".
As missas celebradas por ele vinham sendo acompanhadas por fiéis de diversas partes do Brasil e do exterior por meio de canais digitais como a Rede TVT e o YouTube desde a pandemia de Covid-19. O religioso é reconhecido por seu trabalho assistencial junto à população em situação de rua e de vulnerabilidade na capital paulista, por meio da Pastoral do Povo da Rua.
Contudo, o padre é alvo frequente de críticas e ações por parte de políticos de direita e membros do Movimento Brasil Livre (MBL). Em uma investida recente, o deputado federal Junio Amaral (PL-MG) afirmou ter entregado um abaixo-assinado à Embaixada do Vaticano solicitando o afastamento do padre das funções religiosas.
Além da suspensão das atividades online, foi avaliada a permanência de Lancellotti à frente da paróquia. Ele completará 77 anos no final deste mês, e as regras eclesiásticas preveem que padres com 75 anos podem ser removidos para a aposentadoria.
Reação do público e questionamentos
A notícia da suspensão gerou manifestações públicas de apoio ao padre Júlio por parte de fiéis, entidades sociais e voluntários.
A decisão de Dom Odilo, que tem aposentadoria prevista para abril de 2026, gerou questionamentos nas redes sociais, com colaboradores do projeto social do padre se perguntando o que levaria o arcebispo a tomar uma decisão "tão drástica" neste período.
Na última postagem do padre Júlio no Instagram, por exemplo, há mais de 600 comentários, grande parte acusando o cardeal de censura contra o colega religioso.
Entre as especulações levantadas publicamente, estava a possibilidade de que a visibilidade e popularidade do padre, as manifestações em favor do povo palestino, ou pressão de políticos e incorporadores imobiliários pudessem ter influenciado a decisão. Rumores de que o padre já teria sido transferido circularam em grupos de WhatsApp.
Padre nega transferência
Em nota divulgada nesta terça-feira, 16, o padre Júlio Lancellotti confirmou o cumprimento das ordens do arcebispo e esclareceu a situação.
"As transmissões [online] estão temporariamente suspensas, porém as missas dominicais continuarão sendo celebradas normalmente às 10h, na Capela da Universidade São Judas, na Mooca. As redes sociais não estão sendo movimentadas por um período de recolhimento temporário. Não procede a informação sobre a transferência da Paróquia São Miguel Arcanjo. Reafirmo minha pertença e obediência à Arquidiocese de São Paulo", disse.
Assim, as missas presenciais seguem ocorrendo normalmente aos domingos. Lancellotti reiterou sua pertença e obediência à Arquidiocese de São Paulo. A Arquidiocese, no entanto, não divulgou até o momento nenhum posicionamento público detalhando os motivos da decisão ou informações adicionais sobre o futuro do sacerdote.