Deputado cearense Júnior Mano é citado em investigação da PF sobre emendas, mas não é investigado

Parlamentar aparece em anotações analisadas pela PF, mas não é alvo da apuração; defesa afirma que remanejamento citado era regular e foi cancelado

13:00 | Dez. 13, 2025

Por: João Paulo Biage
Deputado federal cearense Junior Mano (PSB) é pré-candidato ao Senado (foto: Billy Boss/Câmara dos Deputados)

A Polícia Federal (PF) deflagrou a Operação Transparência para apurar suspeitas de desvio e manipulação de recursos públicos por meio de emendas parlamentares, em um esquema associado ao período do chamado “orçamento secreto”.

A investigação foi autorizada pelo ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), e tem como principal alvo a ex-assessora da Presidência da Câmara dos Deputados Mariângela Fialek, conhecida como "Tuca".

Embora citado em documentos analisados pela PF, o deputado federal cearense Júnior Mano (PSB) não é investigado, não foi alvo de medidas judiciais e não figura como suspeito no inquérito. O mesmo ocorre com o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL), que também não é formalmente investigado no caso.

Investigação sobre o orçamento secreto

A Operação Transparência investiga indícios de execução irregular de emendas ao Orçamento da União, com apuração de possíveis crimes como peculato, falsidade ideológica, uso de documento falso e corrupção. O foco central da investigação está na atuação de Mariângela Fialek, que ocupou cargo estratégico durante a gestão de Arthur Lira na Câmara.

Segundo o STF, a apuração teve origem em representações e manifestações de parlamentares, entre eles Glauber Braga (Psol-RJ) e José Rocha (União Brasil-BA), que relataram suspeitas quanto ao direcionamento pouco transparente de recursos públicos no período em que vigoraram as emendas de relator.

Nos autos, o ministro Flávio Dino registra que os elementos reunidos até agora apontam para a atuação de Tuca na operacionalização dessas emendas, com envio de orientações a comissões responsáveis pela liberação dos recursos. Embora o despacho mencione o contexto político da época, não há imputação de crime ou investigação direcionada a Arthur Lira.

Citação ao deputado Júnior Mano

O nome do deputado cearense Júnior Mano, pré-candidato ao Senado em 2026, aparece no inquérito a partir da análise de dados telemáticos e documentos apreendidos exclusivamente com Mariângela Fialek. A Polícia Federal não atribui ao parlamentar qualquer participação no esquema investigado, nem aponta indícios de que ele tenha cometido irregularidades.

A referência ocorre em anotação manuscrita feita por Tuca, encontrada durante as diligências. Nesse documento, a ex-assessora registra uma orientação para alteração da destinação de recursos de emendas parlamentares.

De acordo com a investigação, a anotação menciona pedido de transferência de recursos inicialmente destinados ao município de Nova Russas para o município de Reriutaba, ambos no Ceará.

O prefeito de Reriutaba é Pedro Humberto, filiado ao PSB, mesmo partido de Mano. Já a prefeita de Nova Russas é Giovanna Mano (PRD), esposa do deputado.

As verbas, vinculadas à Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf), tinham como finalidade a pavimentação de vias.

A PF ressalta que a menção ao parlamentar é meramente contextual, sem atribuição de autoria, operacionalização ou controle dos recursos. Não há acusação, indiciamento ou medida judicial contra Júnior Mano.

Posicionamento do deputado

Em nota enviada pela assessoria, o deputado federal Júnior Mano afirmou que não é investigado no processo conduzido pelo ministro Flávio Dino. Segundo o parlamentar, as anotações manuscritas mencionadas na investigação referem-se a um remanejamento de recursos entre municípios que sequer chegou a ser efetivado, pois o procedimento acabou sendo cancelado.

Ainda conforme a nota, o pedido de remanejamento é um procedimento regular, previsto nas atribuições parlamentares, utilizado para ajustar repasses federais quando necessário, sem qualquer irregularidade.

Controle rudimentar e papel da Codevasf

Para os investigadores, chama atenção o que classificaram como “incomum desapego à formalidade” no controle das emendas. A simples anotação à mão teria sido suficiente para promover a tentativa de realocação de valores entre municípios, o que levou a PF a comparar o método de organização do orçamento secreto a uma “conta de padaria”.

O ponto sensível, segundo a investigação, está no fato de que Mariângela Fialek, além de assessora da Câmara, mantinha assento no conselho fiscal da Codevasf, estatal responsável pela execução de parte dessas emendas. Essa condição reforça as suspeitas sobre a atuação da ex-assessora, não sobre os parlamentares citados nos documentos.

Medidas cautelares e continuidade da apuração

Como resultado da operação, o ministro Flávio Dino determinou o afastamento de Mariângela Fialek de qualquer atividade relacionada a emendas parlamentares, até a conclusão das investigações. A Procuradoria-Geral da República (PGR) manifestou-se favoravelmente às medidas, apontando indícios de que a ex-assessora exercia controle indevido sobre a indicação de recursos públicos.

A investigação segue em andamento para esclarecer a materialidade dos fatos e eventual autoria dos crimes, sem que, até o momento, haja imputação formal contra o deputado Júnior Mano ou contra Arthur Lira.