Deputado Lucas Bove é denunciado por violência contra Cíntia Chagas
Ministério Público também pediu a prisão preventiva do parlamentar por descumprir medidas protetivas impostas à influenciadora
O Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) denunciou, nessa sexta-feira, 24, o deputado estadual Lucas Bove (PL) por violência contra a influenciadora Cíntia Chagas. O parlamentar, que foi casado durante três meses com a criadora de conteúdo, foi acusado pelo órgão de perseguição, violência psicológica, violência física e ameaça.
O MPSP também solicitou a prisão preventiva do parlamentar por reiterado descumprimento de medidas protetivas contra Cíntia. O parlamentar nega as acusações. O casal namorou por dois anos e meio e se separou em agosto de 2024, após três meses de casamento.
Conhecida por posições antes consideradas conservadoras, a influenciadora, que tem 7,6 milhões de seguidores nas redes sociais, afirma que Bove vinha desrespeitando as medidas protetivas impostas pela Justiça.
Quais as acusações contra Lucas Bove?
O parlamentar foi indiciado pela Polícia Civil no dia 29 de setembro pelos crimes de perseguição e violência psicológica. Em agosto deste ano, o Conselho de Ética da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp) arquivou a denúncia contra o deputado.
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Segundo a promotora Fernanda Raspantini Pellegrino, Bove é acusado por crimes praticados durante e após o relacionamento com Cíntia. As denúncias descrevem uma escalada de violência física, moral e emocional entre 2022 e 2025.
De acordo com os autos, o Ministério Público afirma que o deputado agiu para controlar e degradar a ex-mulher, causando dano psicológico e físico.
O texto cita episódios em que ele teria beliscado e apertado o corpo da vítima, inclusive na presença de outras pessoas, enquanto fumava "maconha".
Segundo a denúncia, o deputado também teria apontado uma arma de fogo em direção à ex-esposa "como se fosse uma brincadeira" e até arremessado uma faca contra sua perna.
Ele também teria ameaçado "matá-la" caso descobrisse uma traição e repetido as intimidações em mensagens enviadas a pessoas próximas.
A promotora aponta ainda que Bove controlava as roupas, a rotina e as interações sociais da ex-mulher, exigindo provas de onde ela estava, restringindo viagens de trabalho e interferindo em campanhas publicitárias.
Em uma das mensagens anexadas, ele teria escrito que "conheceu uma professora de direita, não uma blogueira vendida", se referindo a Cíntia.
Segundo laudos psicológicos anexados, a vítima desenvolveu transtorno de estresse pós-traumático (TEPT) e passou a viver sob escolta e em veículo blindado por medo do ex-marido.
Ainda segundo o MPSP, Lucas vem desrespeitando as ordens judiciais há cerca de um ano, continuando as infrações mesmo após advertências formais. Para o Ministério Público, o parlamentar segue descumprindo as determinações judiciais por acreditar que não será responsabilizado, apesar de ter plena consciência da gravidade dos atos e das medidas impostas.
Entre as condutas ilícitas atribuídas a Bove, o MPSP aponta publicações com indiretas nas redes sociais que, com o tempo, passaram a expor diretamente a vítima, fazendo referências ao processo e ao caso — o que, segundo o órgão, descumpre a decisão judicial que proíbe a menção ao tema.
No documento, a Promotoria também cita postagens em que a vítima é colocada em dúvida e tem sua dignidade questionada. Por meio de nota, a influenciadora afirmou ter recebido a decisão “com serenidade e inabalável confiança na Justiça”.
Em nota pública, a advogada Gabriela Manssur, que representa Cíntia Chagas, afirmou que a denúncia "representa um marco importante para as mulheres na busca pela verdade, pela responsabilização e pela dignidade da vítima", e que "ninguém está acima da lei e da Justiça".
Quem é Cíntia Chagas
A influenciadora digital e professora de português Cíntia Chagas ganhou notoriedade nas redes sociais ao unir humor e ensino da língua portuguesa, conquistando milhões de seguidores. Conhecida pelo trabalho como educadora e comunicadora, ela também se tornou uma voz ativa em temas ligados à autoestima feminina e relacionamentos.
No entanto, desde 2024, o nome dela passou a ocupar o noticiário por um motivo doloroso: as denúncias de violência doméstica contra o ex-marido, o deputado estadual Lucas Bove (PL-SP). Desde então, Cíntia Chagas afirma seguir enfrentando as consequências emocionais e sociais das agressões, enquanto aguarda a decisão definitiva da Justiça sobre o caso.
Durante boa parte da trajetória pública, Cíntia Chagas se apresentava como uma voz crítica ao feminismo, adotando discurso considerado conservador sobre o papel da mulher na sociedade. Em diversas entrevistas e postagens, ela chegou a afirmar que não se identificava com o movimento feminista, defendendo ideias ligadas à submissão feminina e à valorização de papéis tradicionais nas relações. Esse posicionamento lhe rendeu apoio de setores mais à direita, mas também críticas de mulheres que a acusavam de reforçar estereótipos e discursos machistas.
Após denunciar as violências que diz ter sofrido do ex-marido, a influenciadora passou a rever posições e a refletir sobre o significado do feminismo. Em declarações públicas, Cíntia afirmou ter sido surpreendida pelo acolhimento que recebeu justamente de mulheres feministas e de esquerda, enquanto muitas mulheres de direita — grupo com o qual antes se identificava — se afastaram ou a julgaram. Segundo ela, a experiência pessoal de violência e o apoio recebido de quem antes criticava a fizeram repensar sua visão sobre as pautas de gênero e a importância da solidariedade feminina.