Ciro admite conflitos com André Fernandes e Wagner e reconhece: "Alguns eu estava errado"

Ex-governador, recém-filiado ao PSDB, falou de desentendimentos com novos aliados do PL e do União Brasil

14:17 | Out. 22, 2025

Por: Érico Firmo
Ciro Gomes e Tasso Jereissati com as esposas Giselle e Renata (foto: Fabio Lima)

O ex-governador e ex-ministro Ciro Gomes usou o primeiro discurso no retorno ao PSDB para tratar das diferenças com os novos aliados. Ele fez referências específicas ao deputado federal André Fernandes e ao ex-deputado federal Capitão Wagner, dirigentes estaduais do PL e do União Brasil, respectivamente.

Após mencionar as diferenças nacionais, Ciro afirmou: "Do Ceará para frente é quase tudo afinidade e algumas desavenças que nós vamos amadurecer fraternalmente". E emendou: "Estou falando de ti, André Fernandes, esse jovem talento", saudou.

Na sequência, Ciro desafiou opositores a utilizar o argumento das divergências: "Pode trazer as diferenças, vamos ver quem tem moral para encarar essa discussão. Aqui não tem ladrão. E lá, dá para dizer isso?", indagou sobre os adversários.

O ex-ministro então passou a citar outro ex-desafeto, com quem os desentendimentos foram mais profundos. "Muito obrigado às lideranças todas que, sendo diferentes das nossas, com quem já tive embates quentes, calorosos. Alguns eu estava errado. O que me custa ter humildade para mostrar isso? E outros eu aprendi pelo amadurecimento que eu estou testemunhando. Estou falando do companheiro que teve que sair para cumprir suas tarefas, o Capitão Wagner", disse em referência ao ex-deputado, que deixara o local após o discurso do ex-prefeito Roberto Cláudio (sem partido) e antes do de Tasso Jereissati (PSDB).

"Capitão, você não está só. O Capitão hoje está ameaçado de morte mais uma vez, porque está indo botar o dedo na ferida da questão do domínio das facções", disse, acrescentando que o problema está também na política e "é muito mais grave do que pode se supor".

Diferenças com novos aliados

Ainda sobre os novos parceiros políticos, Ciro afirmou: "Nós não devemos ter medo de afirmar, com honestidade e humildade a todo o povo do Ceará, que nós temos diferenças", reconheceu.

E disse mais: "Quando o olhar é sobre a vida nacional, um ambiente absolutamente passionalizado, calorosamente, por uma polarização assentada no ódio, na paixão despolitizada, mais violentas ainda ficam as contradições".

Ele apontou o caminho que considera possível para o entendimento. "Se nós não tivermos a generosidade de compreender o que, nos sendo comum, nos obriga a trabalharmos juntos e trabalhar nossas diferenças sem vergonha nenhuma, sem nenhum cabimento de ficar escondido seja de quem for".

Ciro, então, fez o retrospecto de que Lula, ao se eleger presidente em 2002, teve José Alencar, do PL de André Fernandes, como vice. "Aí tudo bem, pode", irozinou, acrescentando elogios a Alencar.

Mencionou também que Michel Temer (MDB) foi vice de Dilma Rousseff (PT). "Não tem problema nenhum, porque sendo Lula e o PT, pode". E completou ao citar Geraldo Alckmin, ex-PSDB, como vice de Lula. "Assim que será enfrentada essa contradição", completou.

"É muito fácil a gente se aliar com quem pensa igual. É muito fácil a gente se aliar com quem é  subalterno. É muito fácil a gente se aliar com quem tem dívida conosco. Não é o caso", disse ele.

Diferenças

Lembrando que as diferenças de pensamento são grandes, principalmente no que diz respeito à política nacional, Ciro falou em consenso no Estado. "O que está fazendo com que superemos as nossas diferenças que, repito, não são poucas, não são pequenas, mas no Ceará há um consenso de que nós precisamos por de lado as nossas diferenças para resolver o problema", explicou.

Coração venceu a razão

O ex-ministro do governo Itamar lembrou que, antes de surgir a possibilidade de concorrer no Ceará, estava encaminhando para por fim na carreira política.

"Eu estava, nesse momento, em uma encruzilhada. Largar a vida pública. Eu estava com 80% da minha decisão em largar a vida pública. Por quê? Porque as minhas ideias, o meu esforço, a minha militância não consegue se expressar na política brasileira", lamentou.

Ele lembrou então da trajetória em diversos partidos, desde que deixou o PSDB - no poder - e foi para a oposição no PPS. Depois o PPS foi para a base do governo e ele foi para o PSB. O partido se virou contra a Dilma, que ajudara a eleger, aí ele saiu.

"Eu não suporto esse tipo de incoerência. Minha linha de coerência é defender os valores, as virtudes, a decência e isso que o Tasso me chama de volta para fazer. E o meu coração, mais uma vez, venceu o meu juízo", concluiu, acrescentando que a união ocorre com base no "espírito público".

Ao fim do evento, em entrevista coletiva, o ex-governador defendeu novamente o diálogo com antigos opositores. "A política é a substituição da violência pelo diálogo", afirmou.