Por que demora tanto?

Por que demora tanto?

|NEGOCIAÇÕES | O receio é de que eventuais concessões a Moscou sirvam de precedente e estimulem novas investidas de Vladimir Putin

A Ucrânia é o segundo maior país da Europa. A Rússia é o maior. O continente apoia os ucranianos, mas a solidariedade se trata também de preocupação com o o próprio bloco europeu. O receio é de que eventuais concessões a Moscou sirvam de precedente e estimulem novas investidas de Vladimir Putin.

"A Europa continua do lado da Ucrânia, continua dando suporte, e vai continuar, porque tem medo de que se a Rússia sair totalmente vitoriosa, pode expandir esse intervencionismo para outros países europeus", explica Luiz Philipe de Oliveira, doutor em Direito Internacional pela Universidade de São Paulo (USP).

O geógrafo e dourando Tito Lívio Barcellos Pereira, do Grupo de Estudos em Conflitos Internacionais (Geci) da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), concorda, mas pondera que a união já não é tão sólida quanto nos primeiros meses da guerra. "Essa coesão ainda existe pelo menos entre os principais membros do bloco europeu. Entretanto, ela já foi maior no começo do conflito".

Se os Estados Unidos oscilam entre gestos meramente simbólicos, a Europa vive na encruzilhada. O bloco mantém apoio à Ucrânia, mas sofre impactos econômicos e sociais diretos. É ao continente que chegam os refugiados e onde cresce o temor de que a ofensiva russa avance além das fronteiras ucranianas.

Fatores militares, como ocupação de territórios; políticos, sobre soberania e orgulho nacional, e os interesses internacionais de EUA, Europa e integrantes da Otan também dificultam o encerramento da guerra.

"Ninguém quer também ter um problema grave com a Rússia, até porque boa parte do gás natural e outros recursos como petróleo, fertilizantes, atendem países da Ásia, inclusive os próprios Estados Unidos compram petróleo russo. Essa soma e o não desejo de enfrentamento ao poderio russo, principalmente, acabam impactando bastante o problema de chegar a um acordo, porque sempre que bate num interesse russo fundamental, você trava negociações como aconteceram na reunião da Alasca, onde nada foi decidido", complementa Oliveira.

Já Vladimir Feijó, doutor em Direito Internacional pela PUC-Minas, explica que a Europa pressionou por acordo de paz, mas de modo fragmentado, "dividida entre cansaço econômico e a necessidade de manter firmeza".

"A Europa deve permanecer no lado da defesa da soberania ucraniana, conforme o direito internacional, mas buscar flexibilização para evitar isolamento global. A Europa apresenta coesão formal, mas internamente está profundamente dividida. O dilema europeu é escolher entre sustentar uma guerra de desgaste ou assumir um papel de mediadora imparcial".

Oliveira menciona que há "muito mais" uma União Europeia preocupada em resolver do que os Estados Unidos, "razoavelmente distantes". "Essa ambiguidade do Trump de ficar entre a admiração que tem pelo Putin e o que ele deveria fazer, que é apoio financeiro-militar para defesa da Ucrânia, deixa esse caminho para a paz, esse caminho da negociação num ritmo mais lento".

Tito resume: "Todos querem a paz. Putin quer a paz, Zelensky quer a paz, Washington quer a paz. Mas a paz firmada por quem? A paz de qual vencedor?" 

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