O que a PF aponta sobre Jr Mano, Eunício, Guimarães e Yury do Paredão e o que eles respondem
A Polícia Federal realizou mandados de busca e apreensão em endereços de sete pessoas e há menção dos deputados federais Eunício Oliveira (MDB), José Guimarães (PT) e Yury do Paredão (MDB) no inquérito que investiga desvio de emendas parlamentares
07:00 | Jul. 10, 2025
A operação da Polícia Federal (PF) que investiga o desvio de emendas parlamentares, fraude em licitações, desvio de verbas públicas em prefeituras do Ceará cumpriu mandados no gabinete e em residências do deputado federal Júnior Mano (PSB).
Na terça-feira, 8, foram cumpridos 15 mandados de busca e apreensão nos municípios cearenses de Fortaleza, Nova Russas, Eusébio, Canindé e Baixio, e em Brasília (DF), na operação batizada de "Underhand". A ação da Polícia Federal gerou ainda um bloqueio de R$ 54,6 milhões das contas de pessoas investigadas.
São ainda investigados crimes de organização criminosa, captação ilícita de sufrágio, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica com fim eleitoral. A operação foi autorizada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes.
Na representação enviada pela Polícia Federal ao ministro, há menções não apenas a Júnior Mano, mas também aos deputados federais Eunício Oliveira (MDB), José Guimarães (PT) e Yury do Paredão (MDB). Todos os quatro congressistas negam irregularidades.
A pedido da PF, o ministro autorizou instauração de investigação específica, além da que já tem Júnior Mano como alvo, para apurar eventual participação de agentes políticos com foro privilegiado na destinação ilícita e execução de recursos federais de emendas parlamentares e transferências de recursos públicos.
Confira os papéis de cada um dos nomes envolvidos e mencionados pela PF:
Júnior Mano
As provas e investigações da Polícia Federal apontam com destaque a suposta participação central do deputado federal Júnior Mano como figura estruturante de uma organização criminosa voltada à utilização indevida de recursos públicos e à manipulação de processos eleitorais em diversos municípios cearenses.
"A atuação do parlamentar extrapola a esfera meramente política, configurando-se como operador ativo da engrenagem criminosa", diz o inquérito.
De acordo com as diligências, o deputado e Bebeto Queiroz (PSB), prefeito cassado de Choró, distante 168,1 km de Fortaleza, lideravam o grupo que autorizava a destinação de emendas parlamentares, inclusive de terceiros, para prefeituras previamente cooptadas, mediante exigência de retorno financeiro, um "imposto", na ordem de 12%.
"Há referência expressa em áudios que o grupo de que as verbas do gabinete seriam destinadas a compra de apoio político, ao financiamento oculto de campanhas e ao pagamento de influenciadores e jornalistas", segundo a PF.
Os mandados de busca e apreensão tiveram como alvos, além de Júnior Mano, Adriano Almeida Bezerra, Carlos Douglas Almeida Leandro, Iago Mariano Pedrosa Santana, Lucio Alves Barroso e Iago Viana Nascimento. Veja o papel de cada um segundo as investigações da PF.
- Adriano Almeida Bezerra: é assessor direto de Júnior Mano, ocupa posição estratégica dentro do grupo investigado, desempenhando papel de intermediador técnico e político nas operações de liberação de recursos públicos, segundo a PF.
- Carlos Douglas Almeida Leandro: figura importante no núcleo empresarial da organização, conforme a PF, como sócio administrador da empresa Cariri Edificações, Serviços, com centenas de interações com Bebeto Queiroz a respeito de contratos com prefeituras cearenses
- Lúcio Alves Barroso (Republicanos): prefeito do município de Baixio, teria o papel de gestor de contratos públicos voltados ao abastecimento financeiro da organização, com destaque aos serviços de transporte escolar e locação de veículos em Quixeramobim e Tabuleiro do Norte. Em áudios trocados com Bebeto, Lúcio relata os pagamentos já realizados e informa que os valores restantes seriam entregues por intermediário identificado como Maurício para entregar o dinheiro.
- Iago Mariano Pedrosa Santana: o investigado manteria reiteradas interações com Bebeto, às quais revelariam o exercício do papel de articulador financeiro da organização, com conhecimento das atividades do grupo e inserção da divisão de tarefas, diz a PF.
- Iago Viana Nascimento: Iago facilitariaa a inserção de empresas nas licitações, como também orientava diretamente as etapas administrativas e logísticas atuação fraudulenta.
O que disse Júnior Mano
Em nota, o deputado federal afirmou:
O deputado Júnior Mano não tem qualquer participação em processos licitatórios, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos.Como parlamentar, o deputado não exerce qualquer função executiva ou administrativa em prefeituras, não participa de comissões de licitação, ordenação de despesas ou fiscalização de contratos administrativos.
O parlamentar reafirma sua confiança nas instituições, em especial no Poder Judiciário e na Polícia Judiciária Federal, e reitera seu compromisso com a legalidade, a transparência e o exercício probo da função pública.
Tem plena convicção de que, ao final da apuração, a verdade dos fatos prevalecerá, com o completo esclarecimento das circunstâncias e o reconhecimento de sua correção de conduta.
Ao correspondente do O POVO em Brasília, João Paulo Biage, Júnior Mano disse: "Eu não vendi e nem negociei emenda". Ele atribuiu o caso a perseguição do ex-senador Chiquinho Feitosa.
Eunício Oliveira e José Guimarães
Nestas investigações em que apuravam articulação de transferências com indícios de favorecimento a empresas vinculadas ao grupo de Bebeto Queiroz, foram identificadas tratativas que envolvem menções aos deputados federais José Guimarães e Eunício Oliveira. Eles, assim como Júnior Mano, são pré-candidatos ao Senado Federal pelo Ceará em 2026.
As investigações da PF apontam que em diálogo mantido entre Bebeto e Carlos Douglas, há referência à emenda parlamentar atribuída a José Guimarães, supostamente intermediada por Ilomar Vasconcelos, atual vice-prefeito de Canindé, com possibilidades de destinação para saúde, pavimentação ou “sarramento”.
Em mensagem posterior, Bebeto afirma para Cleidiane Queiroz ter sido informado, por meio de áudios que atribui a Eunício Oliveira, de que Guimarães teria indicado R$ 2 milhões de emenda para o município de Choró, e que o próprio Eunício também teria destinado R$ 1 milhão para Canindé.
Maria do Rozário, ex-prefeita de Canindé, narrou que Ilomar Vasconcelos teria relatado que obteve duas emendas parlamentares oriundas do gabinete de José Guimarães, e posteriormente, passou a insistir no repasse de 10% do valor de cada emenda com retorno. Ilomar foi vice de Rozário na Prefeitura e também é vice-prefeito atualmente, na chapa de Professor Jardel (PSB), apoiada por Bebeto,
Ela disse ter recusado as exigências, um dos motivos que levou ao rompimento político dela com o vice.
O que diz José Guimarães
O parlamentar divulgou nota nas redes sociais:
Diante das últimas atualizações no caso de suspeita de mau uso de emendas por deputados cearenses, alguns pontos para deixar claro que:
1 - Eu NÃO enviei emendas para Canindé e Choró, municípios citados na investigação. Uma rápida consulta ao Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi) mostra esse fato.
2 - Eu não sou objeto de investigação pela Polícia Federal e não fui alvo de nenhuma busca e apreensão nas últimas horas.
3 - Tive o nome citado durante conversa de terceiros e isso, nem de longe, denota participação em qualquer organização que usurpa o dinheiro público e prejudica os cearenses.
Qualquer tentativa de me ligar a esse escândalo que envergonha a bancada cearense é puramente desonesta e direcionada. Sejam elas vindo de outros parlamentares ou por parte de veículos de imprensa que tenham interesses escusos por trás, inclusive eleitorais.
Como parlamentar, exijo a retratação com a verdade. Não há negociação de emendas, muito menos destinação. Um bom jornalismo requer apuração responsável dos fatos, e do processo em questão.
O que diz Eunício Oliveira
À coluna Vertical, do O POVO, Eunício afirmou destinar emendas a dezenas de municípios, "de forma transparente e de acordo com a legislação”. Afirmou ainda não ter sido notificado de investigação.
O deputado acrescentou que a emenda para Canindé só foi indicada em maio deste ano, para a saúde do município, e que ele já teria pedido a suspensão do recurso ao ministro Alexandre Padilha na terça-feira, 8, após a operação.
Nesta quarta-feira, o parlamentar enviou o link de uma notícia segundo a qual Gilmar Mendes teria dito a ele não haver inquérito para investigar o emedebista.
Yury do Paredão
O parlamentar Yury do Paredão tem vinculação nas investigações em diferentes níveis, considerados a partir de registros que apontam que o deputado federal teve interlocução direta e indireta com o núcleo operacional liderado supostamente por Bebeto Queiroz, segundo a PF.
Uma assessora de Yury, Lanuse, teria tido contato com o prefeito de Choró, solicitando informações acerca de um plano de ação da execução do tipo "transferência especial" destinada ao município. O deputado destinou 10 milhões de reais em emendas para a cidade.
Há registros de diálogos diretos entre Yury e Bebeto em que o parlamentar questiona se há alguma Comissão Intergestores Bipartite (CIB) aprovada com pedido de aumento de limite de área de alguma “cidade sua”.
O que diz Yury do Paredão
O parlamentar se manifestou por meio da assessoria: "Não há, em absoluto, acusações em meu nome, como pode ser verificado nas matérias da imprensa e no inquérito em questão". Ele acrescentou não estar envolvido "em nenhuma acusação legítima". "Acredito na importância do diálogo respeitoso e construtivo, e estou comprometido em fazer política com seriedade, transparência e respeito pela verdade".