PF apreendeu texto de "discurso pós-golpe" no escritório de Bolsonaro na sede do PL

A apreensão do documento foi em fevereiro, durante as investigações do plano de golpe de estado após a derrota em 2022

Foi apreendido na sala do ex-presidente Jair Bolsonaro na sede do PL, em Brasília, um documento que foi classificado pelos investigadores como "discurso pós-golpe". O texto de quatro páginas elenca “justificativas” para convocação das Forças Armadas.

O discurso é finalizado com um trecho que declara Estado de Sítio e Operação de Garantia da Lei e da Ordem, que era uma das possibilidades mais populares entre textos desinformativos que inflamavam os apoiadores de Bolsonaro.

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"Com base em disposições expressas da Constituição Federal de 1988, declaro Estado de Sítio e, como ato contínuo, decreto Operação de Garantia da Lei e da Ordem", diz o fim do texto, além de anular o resultado das eleições e trocar os magistrados integrantes do Tribunal Superior Eleitoral.

Os investigadores da Polícia Federal (PF) consideraram o escrito como sendo um esboço de discurso. De acordo com o relatório apresentado pela PF, o documento “parece se tratar de ensaio para discurso preparado para eventual subversão do Estado Democrático de Direito”.

Ainda segundo as investigações, o material seria lido após a ruptura democrática. O texto também alega abusos cometidos pelo Supremo Tribunal Federal com motivo para o cancelamento do pleito eleitoral perdido por Bolsonaro.

O texto contém cinco pontos considerados para “justificar” a quebra democrática do país, entre eles desinformação:

  • Segundo o documento, Alexandre de Moraes, então presidente do TSE, teria amizade com o vice presidente eleito Geraldo Alckmin.
  • Ainda no texto, há decisões que são chamadas de ilegítimas ao restringir prerrogativas de parlamentares e profissionais de imprensa. O então presidente reclamava de decisões judiciais contra blogueiros que pediam golpe da internet.
  • O TSE não investiga acusação do partido de Bolsonaro (PL) de rádios não veicularem propaganda eleitoral do candidato. As acusações, entretanto, foram refutadas pelo por especialistas, explicando que o erro veio do próprio partido que não passou as propagandas para as rádio.
  • O Ministério da Defesa não ter acesso ao código-fonte das urnas (dados foram abertos um ano antes da eleição, e peritos militares não encontraram falhas).
  • Revisão do “trânsito em julgado”. (Mesmo sem menção a Lula no texto).


“Moralidade”

O material apreendido citava trechos da Constituição e teses jurídicas na tentativa de dar legalidade ao golpe de Estado. O texto ainda falava em “princípio da moralidade”, argumentando também que agentes públicos devem agir de acordo com a lei.

O princípio é citado no começo do texto, e na interpretação de quem escreveu, permite contestar as decisões do judiciário caso essa ocorra com o intuito autoritário. Decisões da Suprema Corte são constantemente atacadas por Bolsonaro e seus seguidores.

De acordo com o documento, esse princípio se aplicaria até mesmo às eleições. A PF apreendeu um parecer jurídico que também estava na sala de Bolsonaro na sede do PL.

O texto expressa posições de Ives Gandra, jurista conhecido por posições consideradas lenientes com os arroubos autoritários que envolvem Bolsonaro e militares golpistas. Segundo ele, militares podem atuar em casos de subversão à lei e ao Estado democrático de Direito, o que é incompatível com o princípio da democracia liberal sob o qual vive o Brasil. O STF já rejeitou essa tese.

Segundo o jurista, um interventor deveria ser nomeado, e sob ele ficarem subordinados o Exército, a Marinha, a Aeronáutica, Polícia Federal e Polícia Rodoviária Federal.

Troca de magistrados do TSE

Ainda segundo o documento, três ministros do TSE deveriam ser trocados por outros ministros. O texto indicava a troca de Alexandre Moraes, o então presidente da Corte, Edson Fachin, e Ricardo Lewandowski.

Os magistrados deveriam ser substituídos por Nunes Marques, André Mendonça (ambos indicados por Bolsonaro ao STF), e Dias Toffoli. Segundo informações publicadas pelo portal Uol, os três ministros se encontraram com Bolsonaro entre julho e dezembro de 2022.

Mesmo sem provar a tese de Bolsonaro e seus aliados é de que a eleição foi desigual por causa de decisões da Justiça Eleitoral.


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