Hospedagem de Bolsonaro em embaixada repercute em jornais na Hungria: "Escândalo diplomático"

Desde que o caso veio à tona, os veículos de comunicação da Hungria repercutiram a "visita diplomática" de Bolsonaro, que é vista por muitos como uma tentativa de buscar proteção no caso de a PF e a Justiça se voltarem contra ele

Veio a público nesta segunda-feira, 25, imagens que mostram o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) indo à embaixada da Hungria com o intuito de se hospedar. A iniciativa do ex-mandatário foi tomada logo após ele ter sido alvo de operações da Polícia Federal (PF).


Desde que o caso veio à tona, os veículos de comunicação da Hungria repercutiram a “visita diplomática” de Bolsonaro, que é vista por muitos como uma tentativa de buscar proteção no caso de a PF e a Justiça se voltarem contra ele. Os holofotes também estão virados para a conduta do embaixador do país no Brasil, Miklós Halmai.

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Recentemente, a suspeita de que Bolsonaro estaria buscando refúgio político na Hungria para evitar uma possível prisão ocupou as manchetes de alguns dos principais portais de notícias húngaros, como Magyar Nemzet, Népszava, Blikk30 e Index.

A cobertura do caso nos veículos locais enfatiza a convocação do embaixador Halmai para prestar esclarecimentos ao Itamaraty, no entanto, não anula o contexto político da hospedagem, explicando que o ex-presidente é investigado por suspeita de elaborar uma minuta de golpe de Estado e que seu passaporte foi apreendido dias antes da visita à embaixada.

Um dos jornais mais antigos da Hungria, Népszava, retratou o acontecimento como um “escândalo diplomático” e reitera que o período de refúgio na embaixada húngara pode servir como justificativa de uma ordem de prisão preventiva contra Bolsonaro.

O tabloide Blikk30, também se posicionou sobre o caso, reproduzindo as falas do ex-presidente e de sua defesa, que alegou à imprensa que a visita tinha o intuito de “conversar com autoridades de um país amigo”. No entanto, o tabloide afirma que Bolsonaro estava “fugindo da prisão”.

O Magyar Nemzet, tradicional jornal de viés conservador da Hungria, publicou a manchete: “Embaixador da Hungria no Brasil é convocado por causa de Bolsonaro”, frisando que as autoridades brasileiras desejam saber “por que um acusado de tentativa de golpe teve permissão para ficar duas noites na embaixada”.

O Index, por sua vez, noticiou o acontecimento sob a manchete: “Ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro fugiu da Justiça para embaixada húngara”, e esclareceu que há uma fake news sendo propagada na Hungria sobre uma suposta expulsão do embaixador pelas autoridades do Brasil.

Bolsonaro é intimado a prestar depoimentos ao STF

O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), abriu prazo de 48 horas para que o ex-presidente Jair Bolsonaro esclareça sua permanência na embaixada da Hungria, em Brasília, por dois dias em fevereiro. A estadia ocorreu após ele ter o passaporte apreendido.

A hospedagem de Bolsonaro na embaixada foi revelada na tarde de segunda-feira (25), pelo jornal norte-americano The New York Times. O jornal dos Estados Unidos analisou imagens do circuito de segurança do local e publicou vídeos que mostram a entrada e a saída do ex-presidente.

As embaixadas são ambientes protegidos, fora do alcance das leis e das autoridades brasileiras. A permanência nesses locais, em tese, pode configurar burla à determinação de não se ausentar do país, já que o objetivo da medida é exatamente manter o investigado ao alcance das forças de segurança nacionais.

As imagens da câmera de segurança da embaixada mostram que o ex-presidente permaneceu no local de 12 a 14 de fevereiro, acompanhado por seguranças. O embaixador Miklós Halmai também aparece acompanhando Bolsonaro.

A embaixada estava praticamente vazia, mostram as imagens, exceto por alguns diplomatas húngaros que moram no local. Segundo o jornal, os funcionários estavam de férias porque a estadia de Bolsonaro foi durante o feriado de carnaval.

Segundo a reportagem, no dia 14 de fevereiro, os diplomatas húngaros contataram os funcionários brasileiros que deveriam retornar ao trabalho no dia seguinte, dando a orientação para que ficassem em casa pelo resto da semana.

Passaporte

O passaporte de Bolsonaro foi apreendido por determinação de Moraes no âmbito da operação Tempus Veritatis, que apura a existência de uma trama golpista no alto escalão do governo do ex-presidente.
A reportagem do The New York Times mostra que Bolsonaro entrou na embaixada da Hungria dias depois de sua defesa entregar o passaporte dele à Polícia Federal (PF). A defesa de Bolsonaro chegou a pedir a devolução do documento, alegando não haver risco de fuga.

Bolsonaro está sujeito também a outras medidas cautelares determinadas por Moraes, como a proibição de se comunicar com os demais investigados, entre outras. Em depoimento à PF, os ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica colocaram o ex-presidente no centro da trama golpista.

Defesa

A defesa do ex-presidente da República confirmou que ele passou dois dias hospedado na embaixada da Hungria em Brasília “para manter contatos com autoridades do país amigo”. Em nota, os advogados de Bolsonaro dizem que ele mantém um bom relacionamento com o premier húngaro, com quem se encontrou recentemente na posse do presidente Javier Milei, em Buenos Aires.

“Nos dias em que esteve hospedado na embaixada magiar [húngara], a convite, o ex-presidente brasileiro conversou com inúmeras autoridades do país amigo atualizando os cenários políticos das duas nações. Quaisquer outras interpretações que extrapolem as informações aqui repassadas se constituem em evidente obra ficcional, sem relação com a realidade dos fatos e são, na prática, mais um rol de fake news”, diz a defesa de Bolsonaro.

Na tarde de segunda-feira (25), durante um evento do PL em São Paulo, Bolsonaro comentou indiretamente o caso, dizendo que frequenta embaixadas e conversa com chefes de Estado.

"Muitas vezes esses chefes de Estado ligam para mim, para que eu possa prestar informações precisas do que acontece em nosso Brasil. Frequento embaixadas também aqui pelo nosso Brasil, converso com os embaixadores. Não tenho passaporte, está detido, senão estaria com o Tarcísio [Freitas, governador de São Paulo] juntamente com Ronaldo Caiado [governador de Goiás] nessa viagem a Israel, um país irmão, um país fantástico em todos os aspectos”.

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