Entenda o projeto aprovado na Câmara que permite a bancos tomar casa de devedores

Proposta prevê o fim da impenhorabilidade dos imóveis de família e a ampliação no número de empréstimos ligados a uma mesma garantia

O projeto de lei que permite o uso de um imóvel como garantia para mais de um empréstimo foi aprovado pela Câmara dos Deputados nesta quarta-feira, 1º. Justificando que o acesso ao crédito seria barateado, a ideia do governo de Jair Bolsonaro (PL) cria Instituições Gestoras de Garantia (IGGs) e permite que, para quitar as dívidas de empréstimo, bancos e instituições financeiras penhorem os imóveis utilizados como garantia.

Atualmente, o imóvel de cada família é impenhorável e só pode ser usado como garantia do próprio imóvel ou leiloado caso haja descumprimento do financiamento imobiliário. Para que ocorra a penhora por outros motivos, é necessário analisar o valor do imóvel e recorrer à decisão judicial.

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Além de suspender a limitação no número de empréstimos em que um imóvel pode ser usado como garantia, o projeto permite que outros bancos possam penhorar o que for oferecido como garantia, algo que antes era exclusivo da Caixa Econômica Federal. O governo justifica que tal aprovação iria facilitar o uso das garantias de crédito, reduzir custos e juros de financiamento e aumentar a concorrência entre os bancos.

Com a aprovação, será possível que a IGG avalie os bens apresentados por uma pessoa ou empresa e diga quanto poderá ser usado como garantia de empréstimo. Os prazos e juros relacionados a isso poderão ser discutidos com diferentes bancos. Sendo assim, a casa só poderá ser penhorada se for usada como garantia e o empréstimo ao qual foi relacionada não for pago, tendo em vista que as dívidas serão decididas em conjunto com os bancos aos quais o empréstimo foi pedido.

Divergências

A proposta, que será encaminhada ao Senado, dividiu a opinião dos parlamentares. O relator do projeto, deputado João Maia (PL-RN), afirmou que a ampliação das regras que autorizam a penhora do bem de família traz coerência à legislação. “A proposição zela pela coerência porque não se deve proteger alguém que oferece imóvel em garantia e, diante do descumprimento de obrigações garantidas, alega a impenhorabilidade do seu bem”, afirmou.

Para o deputado Afonso Motta (PDT-RS), a impenhorabilidade do bem de família é essencial. “A impenhorabilidade do bem de família é fundamental, principalmente para aqueles que são mais desprovidos. É um instituto consagrado universalmente”, declarou.

O deputado Enio Verri (PT-PR) disse que a proposta vai gerar pobreza ao autorizar a perda do único bem de família. “Imagina um pai de família que perde o emprego, não consegue pagar as suas contas, tem alguma operação de crédito com garantia da casa. Ele pode ter a casa leiloada, o único bem de família que ele tem”, criticou.

Para o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), esse ponto merece maior reflexão. “Nós podemos estar cometendo aqui hoje um grande erro se aprovarmos esse projeto”, disse.

O deputado Marcelo Ramos (PSD-AM) afirmou que é favorável ao projeto, mas quer rejeitar a permissão de penhora do bem de família. “O banco pode negar crédito para quem só tem o bem de família, já que o bem de família é impenhorável. O que não dá é para nós relativizarmos algo e abrirmos uma porteira que pode levar o Brasil para a bolha imobiliária que quebrou os Estados Unidos”, destacou.

A líder do Psol, deputada Sâmia Bomfim (Psol-SP), ressaltou que o imóvel poderá ser vendido antes mesmo de decisão judicial. “Este projeto vai permitir a execução imediata, inclusive do bem de família, então o cidadão que ganha R$ 2 mil vai ter acesso a um crédito de R$ 300 mil e, se ele perder o emprego, a qualquer momento poderá ter seu bem penhorado.”

Já o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) afirmou que a proposta vai aumentar o crédito e diminuir os juros. “Nós vamos permitir que o mesmo imóvel possa garantir vários créditos na medida proporcional ao seu valor, e não como é hoje, que você tem um imóvel e tem que cedê-lo para a garantia, independentemente do valor do crédito que você obterá”, explicou.

Segundo o Ministério da Economia, o Novo Marco de Garantias deverá facilitar o uso das garantias de crédito, reduzir custos e juros de financiamentos e aumentar a concorrência. A proposta cria um serviço de gestão especializada de garantias e prevê o resgate antecipado de letras financeiras, entre outras medidas.

Ainda de acordo com a pasta, será vedado às Instituições Gestoras de Garantia, no âmbito do contrato de gestão de garantias, a realização de qualquer atividade típica de instituição financeira, inclusive operações de crédito, mas elas serão as responsáveis por executar a dívida em caso de inadimplência do tomador do empréstimo.

O texto do Executivo modifica ainda regras sobre alienação fiduciária, execução extrajudicial dos créditos garantidos por hipoteca, execução extrajudicial em caso de concurso de credores e impenhorabilidade dos bens de família.

Com informações da Agência Câmara

Veja os principais pontos da proposta de marco legal das garantias de empréstimos
Veja os principais pontos da proposta de marco legal das garantias de empréstimos (Foto: AGÊNCIA CÂMARA)

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