Entenda qual a importância da China na guerra entre Rússia e Ucrânia
O envolvimento da China no contexto dos conflitos remete ao processo geopolítico da Europa e aos interesses internacionais diante dos territórios da região
De forma bastante tímida e sem tom agressivo, a China finalmente se posicionou sobre o conflito entre Rússia e Ucrânia nos últimos dias. A manifestação do gigante asiático era aguardada mundialmente, pois sua posição pode definir os rumos que a guerra pode ter futuramente, com a possibilidade de reequilíbrio de forças globais.
Em um telefonema na última sexta-feira, 25, ao colega russo, Vladimir Putin, o presidente chinês, Xi Jinping, defendeu o diálogo e reforçou a respeito à soberania. Na ligação, Xi afirmou que a "dramática mudança" na situação do leste ucraniano atraiu alto nível de atenção da comunidade internacional. A postura de refletiu no voto da China nesta quarta, 2, sobre a resolução que condenou a invasão russa sobre a Ucrânia: abstenção.
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A importância do envolvimento da China no contexto dos conflitos remete ao processo geopolítico da Europa e aos interesses internacionais diante dos territórios da região. No dia 4 de fevereiro, Xi Jinping se reuniu com o colega russo, em Pequim. Eles assinaram acordos de cooperação para estreitar a parceria comercial, incluindo um novo gasoduto.
Todo o encontro, contudo, teve como objetivo fazer com que ambas as potências mundiais - A Rússia é o principal fornecedor de petróleo, gás e carvão para a China - se fortaleçam como um bloco de oposição aos Estados Unidos para se protegerem de possíveis sanções econômicas e defenderem interesses mútuos.
Numa declaração conjunta, Vladimir Putin e Xi Jinping afirmaram que pretendem combater a interferência de forças externas nos assuntos internos de países soberanos, sob qualquer pretexto, e pediram que a aliança militar do Ocidente abandone o que chamaram de “abordagens ideológicas da Guerra Fria”.
Além de uma “carta de princípios", a proposta sugere algumas ideias e conceitos fundamentais para uma “refundação” do sistema internacional criado pelos europeus há quatro séculos. O documento requer leitura atenta e uma reflexão séria, sobretudo neste momento de desestruturação do “bloco ocidental” e de divisão e fragilização interna dos próprios Estados Unidos.
Neste primeiro ponto, uma posição favorável ou não da China em relação à invasão do território ucraniano poderia ser decisiva para o futuro, visto a proximidade entre os chineses e russos. Apesar de ser conhecido por sua ausência em conflitos internacionais desde os anos 70 e gostar de ser visto como um não apoiador de uma guerra na Europa, o governo chinês também quer fortalecer seus laços militares e estratégicos com Moscou, pois suas relações são bastante voltadas para o comércio e para a expansão econômica.
Devido à relação diplomática entre Moscou e Pequim, a crise entre Rússia e Ucrânia torna-se então um grande desafio para a China. A questão também pôde ser vista na Olimpíada de Inverno, na capital chinesa, com Putin sendo um dos poucos líderes mundiais presentes no evento.
Nos bastidores, comenta-se que, por consideração ao colega asiático, Putin adiou sua invasão por respeito ao evento esportivo em curso. Desta forma, em gesto significativo, o presidente da Rússia teria esperado até pouco depois do encerramento dos Jogos para reconhecer a independência das duas regiões separatistas da Ucrânia e enviar tropas para apoiá-las.
Em seus pronunciamentos públicos, o governo chinês vem pedindo que todos os lados do conflito diminuam as tenções na Ucrânia. Porém, é preciso destacar que o presidente Xi Jinping, embora defenda um diálogo pacífico, ainda usa um tom moderador e não condenou explicitamente a invasão russa.
Nesta quarta-feira, 2, a Assembleia Extraordinária das Nações Unidas aprovou, por 141 votos a favor, cinco contrários e 35 abstenções a resolução norte-americana que culpa a Rússia pela invasão da Ucrânia, em ataques iniciados no dia 24 de fevereiro. Entre os que se abstiveram, a China foi a que mais chamou a atenção.
Assim como ocorreu nas duas votações do Conselho de Segurança, os chineses mantiveram uma posição que não condena a invasão em si, mas que defende a soberania do território ucraniano.
Por isso, a posição da China é vista como importante no momento, pois, com radicalização da invasão em Kiev e um possível agravamento dos ataques, os olhos internacionais focam para saber a posição oficial do governo chinês.