Gestão Bolsonaro realiza estratégias de controle das questões do Enem

Desde sua eleição, em 2018, o presidente da República vem tentado aplicar estratégias para regular e controlar o conteúdo das questões do exame, entre elas o uso de comissão externas e impressão antecipada das provas

O governo do presidente Jair Bolsonaro vem tentando controlar o conteúdo do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Por meio de estratégias, como a impressão de certames e a análise das equipes externas ao Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), equipes do Executivo nacional realizam uma interfência inédita na prova. 

Em reportagem do Estadão, baseada no relato de servidores que pediram exoneração do órgão, foi constatada uma pressão para trocar itens. O material também revela que já houve supressão de “questões sensíveis” na prova que será aplicada nos dias 21 e 28.

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Na última segunda segunda-feira, logo após 37 pedidos de exoneração de servidores do Inep, o presidente o presidente afirmou, em Dubai, que agora as questões do Enem "começam a ter a cara do governo". "Ninguém precisa ficar preocupado. Aquelas questões absurdas do passado, que caíam tema de redação que não tinha nada a ver com nada. Realmente, algo voltado para o aprendizado", disse. 

Diferente do que já é adotado em anos anteriores, o Inep passou a imprimir a prova previamente para permitir que mais pessoas tenham acesso ao exame antes da aplicação. No cargo desde maio deste ano,  a primeira versão da prova foi avaliada pelo o diretor de Avaliação da Educação Básica do Inep, Anderson Oliveira. Segundo relatos à reportagem, 24 questões foram retiradas após uma “leitura crítica”. Algumas foram consideradas “sensíveis”.

Outras perguntas foram pensadas pela equipe de montagem da provas como substituição, porém,  o Enem acabou desregulado. As provas possuem quantidade de questões consideradas fáceis, médias e difíceis. Assim, 13 das questões suprimidas foram reinseridas. Procurado, Oliveira não quis dar entrevista ao Estadão

Em 2020, segundo apurou a reportagem, um dos que entrou na sala segura para ver as questões foi o general da reserva Carlos Roberto Pinto de Souza, ex-comandante do Centro de Comunicação do Exército. Ele morreu de Covid e foi substituído pelo tenente-coronel-aviador Alexandre Gomes da Silva.

Com questões feitas por professores contratados, servidores relatam ainda que atual presidente do órgão, Danilo Dupas, tem feito pressão para que a prova não tenha perguntas consideradas inadequadas pelo governo Bolsonaro. A polêmica foi interpretada por servidores como um assédio moral e fez parte das denúncias. O clima de pressão tem levado até a uma autocensura dos grupos que escolhem as questões.

Uma possível interferência no governo nas provas do Enem é motivo de desconfiança desde a eleição de Bolsonaro, em 2018. Na época, o mandatário questionou uma questão que mencionava um dialeto de gays e travestis.

A reportagem também consultou outros ex-presidentes e todos afirmaram nunca analisar a prova previamente. Procurado sobre o assunto na terça-feira, o Inep não se manifestou.

A ex-presidente do Inep Maria Inês Fini, que criou a prova nos anos 2000, conta que sempre leu o Enem antes porque esse era o seu papel, mas no computador e em “um trabalho técnico e não fiscalizador”. “Essa coisa de considerar questões sensíveis nunca existiu”, diz. “Hoje, quem está lendo não entende nada de avaliação", disse. 

Durante o início da gestão Bolsonaro, o governo federal criou uma comissão para avaliar a pertinência do Banco Nacional de Itens do Enem com a “realidade social” do Brasil. O ministro da Educação à época, Abraham Weintraub, defendeu que as questões não viriam carregadas “com tintas ideológicas”.

Em 2019, o mesmo grupo chegou a desaconselhar o envio de 66 questões para a prova oficial por promover “polêmica desnecessária” e “leitura direcionada da história” ou ferir “sentimento religioso”. Neste ano, após ação do Ministério Público, o grupo foi impedido de ser criado. O objetivo do Inep era preparar uma portaria para formar um grupo permanente que deveria barrar “questões subjetivas” e “itens com vieses político-partidários e ideológicos”.


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