Polarização política e descentralização; lideranças explicam baixa adesão à greve dos caminhoneiros

Paralisação de caminhoneiros iniciada desde o dia 1º de novembro não chegou a interditar nenhuma rodovia federal no país

Iniciada desde o último dia 1º de novembro, a greve dos caminhoneiros não teve, até agora, adesão nem próxima da anunciada há semanas pela categoria. Até agora, nenhum rodovia federal ou ponto logístico estratégico foi bloqueado. Um boletim divulgado na tarde desta terça-feira, 2, pelo Ministério da Infraestrutura, indicava concentração de manifestantes em um trecho de rodovia em Barra Mansa (RJ) e outra próxima a Santos (SP).

Lideranças ouvidas pelo UOL indicam razões diversas para a greve não ter prosperado. Dentro os pontos, Edvan Ferreira, liderança da categoria no Piauí, aponta a polarização política e a diminuição no volume de cargas.

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A categoria é muito descentralizada e não tem representatividade política no Congresso Nacional. Em 2018, foram atendidas praticamente todas as pautas, mas elas não vigoraram. A própria categoria burla as leis e não exige os seus direitos", lamentou Ferreira. Caminhoneiros autônomos do estado dele não participaram da greve deste ano.

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“Não é o momento político nem econômico para fazer a paralisação”, afirma ao UOL André Costa, presidente da Federação dos Caminhoneiros Autônomos do Rio Grande do Sul e Santa Catarina (FECAM-RS/SC). Segundo a liderança, a categoria conseguiu mostrar que a situação está difícil. Ele também alega que, mesmo cientes dos problemas, os caminhoneiros “estão cansados de serem usados como massa de manobra”.

Já Ailton Gomes, diretor do Sindicato dos Transportadores de Combustíveis e Derivados de Petróleo do Estado de Minas Gerais (Sindtanque-MG), aposta na “briga de egos” como fator de desmobilização.

"Só fracassou por causa da vaidade dos líderes desse movimento. Eles são os verdadeiros culpados", disse, contando ter sido excluído de grupos de WhatsApp que discutiam a paralisação.

A Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), o Conselho Nacional do Transporte Rodoviário de Cargas (CNTRC) e a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logísticas) CNTTL) foram os principais organizadores do movimento.

Diretor da CNTLL, Carlos Alberto Litti Dahmer diz que houve uma falsa impressão de baixa adesão à greve com a ordem de ficar em casa.

O governo federal conseguiu 29 liminares na Justiça contra a interdições nas estradas, com multas que variavam de R$ 5 mil a R$ 1 milhão. A Abrava ainda entrou com mandado de segurança e uma reclamação contra decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), mas a ministra Carmen Lúcia indeferiu os recursos.

"Coragem para o bloqueio não nos falta. Falta R$ 100 mil para pagar a multa", afirmou Litti.

A mobilização marcada para o dia 1º registrou algumas manifestações na região de Itaitinga, na região Metropolitana de Fortaleza, na Rodovia Presidente Dutra (BR-116), em Pindamonhagaba (SP), em Barra Mansa (RJ). O Ministério ainda registrou tentativa de fechar rodovia nos acessos ao Porto de Santos (SP) e houve concentração de caminhoneiros em Rio Bonito (RJ).

Dentre as principais reivindicações dos caminhoneiros estão:
- O pedido de revisão do Preço de Paridade de Importação (PPI). Praticada pela Petrobrás e adotado durante o governo de Michel Temer (MDB), a política adequa os valores de venda dos combustíveis ao mercado internacional e à variação do dólar;
- Cumprimento do piso mínimo do frete. Essa é uma conquista da greve de 2018, mas a lei segue sendo descumprida por empresas do setor. O movimento cobra fiscalização intensificada da questão e que o assunto seja julgado pelo STF. A matéria já tramita na Corte e está sob análise do ministro Luiz Fux.

Outra principal demanda é a volta da aposentadoria especial para a categoria. Antes da Reforma da Previdência, caminhoneiros podiam se aposentadr com 25 anos de contribuição e sem exigência de idade mínima. Agora, é preciso ter 60 anos e o valor recebido é proporcional. O Senado Federal analisa o assunto.

No último dia 28 de outubro, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, repassou as reivindicações e prometeu às lideranças que não vai “medir esforços” para atender ao que cabe a ele.

O membro do governo se comprometeu a construir novos pontos de parada de descanso (PPDs) em rodovias e a aproximar a categoria de outros poderes e lideranças, como o STF, na figura de Fux, e o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque.

Na última segunda-feira, 1º, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que a política de preços de combustíveis seria prioridade do governo dele e divulgou um novo aumento nos valores que viria em 20 dias. Contudo, o mandatário foi desmentido pela Petrobras, que afirmou, em nota, não antecipar decisões sobre novos ajustes e não ter novas decisões a serem anunciadas.

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