Entenda como a candidatura de Sergio Moro mexe com as eleições de 2022

De volta dos Estados Unidos, ex-ministro da Justiça está com um pé no Podemos e tem o desafio de encarar seu passado e provar habilidade política diante de adversários já bem preparados

O ex-juiz e ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro desembarcou, nesta segunda-feira, 1º, no Brasil vindo dos Estados Unidos – onde mora há um ano. Ele chega para assinar a ficha de filiação ao Podemos na próxima semana, o que deve abrir caminho para lançar a pré-candidatura presidencial.

Com ato de filiação que ocorrerá no dia 10 de novembro no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, Moro é considerado por especialistas como o que tem grande potencial para encabeçar uma chapa que rivalize com o ex-presidente Lula e Jair Bolsonaro.  

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Em favor do ex-ministro, está uma imagem já bem construída no antipetismo, por ter sido um ícone mais representativo da Lava Jato. No período em que esteve à frente da operação, foi peça-chave na condenação de Lula. É o que que destaca o cientista político e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Rodrigo Prando. 

Por outro lado, lembra, Moro saiu do governo Bolsonaro acusando o presidente de intervenção Polícia Federal, e isso o colocou também na posição antibolsonarista. "A grande questão é que Moro tem uma boa intenção de votos se comparado com os que se colocam como candidatos há um bom tempo. Se a evolução dele for muito boa a partir do ano que vem, ele pode desestimular outros candidatos a saírem e pode ter apoio político, mas temos que analisar as intenções de votos e os apoios político que declararam voto ao ex-juiz", analisa.

"A vida dele vai ser esmiuçada pela imprensa e pelos adversários, então todos os áudios da Vaza Jato, tudo aquilo que Moro combinou, tudo isso vai pesar bastante e vai lembrar o fato dele ter levado o presidente Lula à prisão e, depois tudo isso ter sido cancelado, mudado por uma decisão do Supremo", completa Prando. 

Segundo o cientista, apenas uma posição contrária aos dois principais adversários e líderes nas pesquisas eleitorais não coloca Moro de forma efetiva numa posição da chamada terceira via. Um dos desafios é apresentar novas propostas e encarar o passado como juiz, principalmente, após ter sua decisão derrubada pelo Supremo Tribunal Federal com a anulação das condenação de Lula. 

"Ele teria que deixar claro quais suas posições com respeito à democracia, às instituições e aos valores republicanos. Nesse sentido, o Moro tem mais dificuldades, porque provavelmente ele traria bastante atenção dos seu adversários, em especial pelo Lula, que traria à tona o fato de ele ter sido um juiz parcial. Também não adianta apenas bater na tecla da corrupção porque assim o Bolsonaro fez em 2018 e o resultado do governo está distante daquilo que se esperava sobre o combate à corrupção", analisa Rodrigo. 

Segundo o cientista, talvez o eleitor em 2022 seja menos condescendente com o político que apresente um discurso que na prática não aconteça, algo que aconteceu com Bolsonaro. "O presidente vendeu-se com um discurso de liberal e que combateria a corrupção, sendo o Moro expulso do governo, e o liberalismo do Paulo Guedes não passou da página dois", afirma. 

Caso o ex-ministro consiga capital eleitorais satisfatório nas próximas pesquisas e os apoios necessários para se viabilizar, ele ainda terá o desafio de trazer ideias e projetos para sua candidatura. "Qual a previsão dele para a economia, a retomada do país após a covid, a crise econômica e o SUS? Fora a questão da crise energética e hídrica, além de fatores relacionados ao meio ambiente e sustentabilidade. De fato, outro elemento fundamental também é o respeito às instituições e à democracia", ressalta.

Com apoio de lavajatistas, o cientista avalia que o ex-ministro deverá ainda melhorar sua retórica para um discurso mais lapidado, algo indispensável para o embate com seus adversários, já experientes politicamente.

"Ele [Moro] deverá se apresentar na condição de político. Não está resguardado pela toga de juiz. A lógica do Judiciário é o juiz mandar e os outros cumprirem. Na política, as coisas não são assim. Então, ele vai ser levado a um debate público, com figuras como Lula, Ciro Gomes e Doria. Todos estes no embate têm muito mais experiência e traquejo do que o Moro", completa. 


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