PT despreza luta contra o machismo dependendo de quem é o agressor, diz Tabata Amaral

A parlamentar reclama da falta de posicionamento da sigla após ter sido alvo de um tuíte republicado por José de Abreu em que há uma ameaça de "socar" a parlamentar

A deputada Tabata Amaral (PSB-SP) criticou o Partido dos Trabalhadores pelo silêncio do comando da sigla após o episódio em que o ator José de Abreu a ameaçou numa publicação nas redes sociais. O episódio ocorreu em setembro deste ano, quando a parlamentar falou sobre a necessidade de “furar a bolha da esquerda e da direita” em entrevista. Na ocasião, Abreu compartilhou um tuíte de outro perfil que dizia: “se encontro na rua, soco até ser preso”, em referência à deputada.

"Toda vez que alguém se silencia diante de um caso como esse, a pessoa é conivente com o que está acontecendo”, disse Amaral, após representantes do partido ao qual Abreu é filiado desde 2013 não terem se manifestado sobre o assunto.

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“Então, na hora que as principais lideranças do PT silenciam sobre o que ele fez e o apresentam como candidato à Câmara dos Deputados, o partido está mostrando que, na prática, não só não é comprometido contra o machismo, como despreza essa luta dependendo de quem é o alvo e dependendo de quem é o agressor", criticou, em entrevista a BBC News Brasil em outubro.

Numa reportagem sobre a rotina de Tabata, a BBC News Brasil buscou, em perfis de parlamentares de esquerda conhecidas por posicionamentos feministas, publicações sobre o episódio, em apoio à parlamentar ou em repúdio à fala do ator. Contudo, não foram encontradas menções nas páginas da deputada Gleisi Hoffmann, presidente do PT, deputadas Maria do Rosário (PT-RS), Benedita da Silva (PT-RJ), Erika Kokay (PT-DF), Talíria Petrone (Psol-RJ) e Sâmia Bonfim (Psol-SP), por exemplo.

Outras personalidades políticas, como a deputada federal Áurea Carolina (Psol-MG) e a ex-deputada Manuela D’ávila (PCdoB-RS), manifestaram solidariedade à Tabata, mas sem mencionar José de Abreu, informa a reportagem.

Na época, o ator chegou a publicar um artigo no jornal Folha de S.Paulo em que pede desculpas por ter errado “redondamente”, diz que agiu por impulso.

Para a deputada, “as desculpas ficam apenas no título”. Segundo Amaral, o ator usou o espaço para se autopromover e justificar a agressão aos posicionamentos políticos dela.

“E aí eu sou muito firme em dizer que, da mesma forma que não tem minissaia, não tem comportamento que justifique o assédio, não tem posicionamento político que justifique alguém te intimidar", afirma a parlamentar em entrevista realizada em outubro.

Tabata adianta que o pedido de desculpas “não muda nada”. “Nunca fiquei sabendo de crime que foi resolvido porque alguém escreveu um pedido de desculpas”, disse, indicando não ter pretensão nenhuma de recuar contra providências judiciais contra José de Abreu.

Os ataques contra a deputada não cessaram. Pelo contrário, ganharam força pelos acontecimentos subsequentes. Quando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) decidiu vetar trechos de um projeto que se destinava a promover distribuição gratuita de absorventes a meninas e mulheres pobres, Tabata voltou a ser alvo tanto de membros da extrema-direita como de esquerda.

Como uma das autoras da proposta, que resulta de um trabalho coletivo, a deputada foi acusada em redes bolsonaristas de receber dinheiro para campanha do empresário Paulo Lemann, que seria ligado a empresa P&G, que fabrica os itens de higiene menstrual. A informação era falsa. Tabata recebeu um apoio de U$ 1,5 mil de Lemann por meio da Fundação Estudar, quando ainda cursava ciência política e astrofísica em Havard, nos Estados Unidos. O valor, inclusive, foi devolvido por ela após a formatura.

Também circulou uma caricatura em um perfil de extrema direita no Twitter em que a deputada aparece ensanguentada e fedendo, por não usar absorventes em manifestação contra o veto.

Sobre o assunto, Tabata respondeu à BBB News Brasil que sua maior frustração é ter que lidar com ataques violentos bolsonaristas e ainda rebater outros da esquerda.

Neste caso, a parlamentar foi o centro de uma polêmica ao ser criticada por tentar aparecer como autora da proposta apresentada pela deputada Marília Arraes (PT-PE). Sobre o assunto, Amaral respondeu que o projeto foi resultado de um trabalho coletivo, com sugestões de diferentes deputados que já haviam apresentado projetos de lei sobre o tema.

A projeção dada a ela sobre o caso é apenas resultado do trabalho que a parlamentar tem feito chamando atenção sobre o assunto, diz Tabata.

"O reconhecimento que eu recebo dessa luta é proporcional ao empenho que eu coloco nessa luta. Quem está sendo atacada? Sou eu. Então, é o ônus e o bônus de ser quem a gente é. Eu tô há um ano e meio falando disso (distribuição gratuita de absorventes) todos os dias", se defendeu Amaral.

"Esse meme ridículo que eles fizeram, em que eu apareço sangrando, é muito nojento. E é claro que isso te faz repensar se vale a pena, porque essa é uma das lutas que eu mais paguei em termos de ser ridicularizada, de ser ameaçada. Foi muito frustrante nessa última semana, trabalhar o quanto que eu tô trabalhando para pautar a derrubada do veto, e (ter que) enfrentar a máquina bolsonarista, duas fake news simultâneas: a de que eu não era uma das autoras do projeto e a de que estava sendo financiada pelo lobby de empresas de absorventes", queixou-se, emocionada, ao veículo.

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