Ruralistas alertam para relação entre insultos de Bolsonaro à China e veto à carne nacional
Em setembro, o Brasil suspendeu voluntariamente a exportação de carne à China por questões sanitárias, mas o veto já se estende há quase seis semanasO maior parceiro comercial do brasil tem sido alvo há anos de ataques tanto do presidente Jair Bolsonaro quanto de apoiadores. Dessa forma, lideranças da bancada ruralista no Congresso acreditam que o veto da China à carne brasileira tem relação com esse desgaste diplomático.
Em setembro, o Brasil suspendeu voluntariamente os embarques de carne para a China após confirmação de dois casos da “vaca” louca, doença atípica. Contudo, a expectativa de que as importações fossem retomadas pelo país asiático em pouco tempo foram frustradas, mesmo após nenhum outro sinal da doença ter sido detectado.
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AssineA continuação do veto à proteína nacional tem causada preocupação entre autoridades e frigoríficos, principalmente porque é a China o maior comprador dos produtos nacionais.
O ex-ministro da Agricultura Neri Geller (PP-MT) disse estar vendo essa situação “com muita aflição”. Segundo relatou à Folha de S.Paulo, o vice-presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária acredita que o governo melhorou nos últimos seis meses ao retirar o “ingrediente ideológico”, mas há um rescaldo que, segundo o parlamentar, atrapalhou e atrapalha.
"Desde o começo do governo, nós da base alertamos que, ainda que o alinhamento ideológico seja com os Estados Unidos, nossos grandes parceiros comerciais consumidores estão no Oriente. Nosso maior comprador é a China. Precisamos ter um cuidado muito especial com esses países. E esse embargo prejudica muito", afirma Geller.
Os ataques de Bolsonaro ao parceiro comercial diminuíram nos últimos meses. Mas, em maio deste ano, o presidente sugeriu que o gigante asiático faz guerra biológica com o novo coronavírus, doença que o mandatário e apoiadores dizem ter sido criada em laboratórios chineses.
Em outro momento, o ex-ministro da educação Abrahan Weintraub ridicularizou o sotaque chinês numa publicação nas redes sociais.
O deputado ainda alerta para a possibilidade de um efeito em cadeia, com embargos a outros produtos, como soja e milho, por exemplo.
Já o ex-presidente da bancada, Alceu Moreira (MDB-RS), aponta que este é um comportamento histórico da China quando o país deseja renegociar preços.
“A China sempre foi muito pragmática. Do ponto de vista ideológico, é socialista, mas do ponto de vista da economia, é dos países mais liberais, com competição de mercado internacional. É possível que, se tiver outro país mais alinhado a eles e que possa oferecer grandes volumes de carne, a China exerça a preferência nesse período”, relatou Moreira ao veículo de imprensa paulista.
O parlamentar acredita que o desgaste diplomático talvez não seja o motivo predominante para o embargo, mas pode ter contribuído para a decisão.
Moreira ainda argumenta que não há motivo para pânico e cabe ao governo federal comprar os excedentes do produto e regular o mercado por meio da Companhia Nacional de Abastecimento, órgão do Ministério da Agricultura